Vários planetas extrassolares localizados na “zona habitável” de uma estrela – a região ao redor desse corpo celeste onde um planeta recebe energia suficiente para ter água líquida em sua superfície – podem ter atmosferas venenosas, segundo cientistas americanos. A descoberta, anunciada no congresso da Sociedade Astronômica Americana (AAS, na sigla em inglês) realizado esta semana e abordada em artigos nas revistas “The Astrophysical Journal” e “Cosmos”, pode limitar bastante o número de exoplanetas habitáveis ​​em termos de formas de vida mais complexas que os micróbios, de acordo com a biologia que conhecemos.

Os limites de uma zona habitável são em geral determinados pelo tamanho e pela temperatura da estrela no centro do sistema. Se ela é fria e escura, sua zona habitável fica mais próxima dela; se é quente e brilhante, a zona habitável se afasta. Mas um componente fundamental nessa questão ainda não havia sido abordado em profundidade: a atmosfera dos planetas.

“Quanto mais longe da estrela, mais dióxido de carbono é necessário para [o planeta] permanecer descongelado”, afirmou Edward Schwieterman, pesquisador de pós-doutorado da Universidade da Califórnia em Riverside (EUA) e líder do estudo, na reunião da AAS. Ou seja: para o planeta ficar aquecido o suficiente, seria necessário multiplicar por dezenas de milhares de vezes o dióxido de carbono presente na atmosfera terrestre.

 

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Pelos cálculos de Schwieterman, os planetas na metade externa das zonas habitáveis ​​da maioria das estrelas precisariam de atmosferas contendo pelo menos 10% de dióxido de carbono. Até mesmo microrganismos teriam dificuldade em sobreviver nessas condições, considera o pesquisador: “Isso está muito além dos níveis conhecidos como tóxicos”.

Considerando isso, Schwieterman acredita que o tamanho da zona habitável capaz de abrigar um planeta com níveis de CO2 aceitáveis para humanos e outros animais de ordem superior deve diminuir para menos de um terço da zona habitável tradicional.

Apesar desses complicadores, o pesquisador avalia que a busca por formas de vida em outros planetas não deve ser descartada. Seu estudo, na verdade, serve para refinar a lista de candidatos mais prováveis a abrigar vida como a que existe na Terra. “Esta é a primeira vez que os limites fisiológicos da vida na Terra foram considerados para prever a distribuição de vida complexa em outras partes do universo”, afirma Timothy Lyons, biogeoquímico da UC-Riverside e coautor do estudo.