Ao comemorar sua última medalha, na Alemanha, a baiana Núbia de Oliveira fez um apelo em prol das energias renováveis. Atleta da Seleção Brasileira, ela diz que sua preocupação ambiental nasceu diante da seca no sertão.No último sábado (19/11), a baiana Núbia de Oliveira venceu a meia maratona de Essen, na Alemanha. A jovem de 20 anos é integrante da Seleção Brasileira de Atletismo e começou uma turnê internacional depois de ser anunciada como Embaixadora da Quinto Energy para o Clima, Esporte e Inclusão Social.

Núbia concluiu a prova com uma bandeira com o seguinte texto em defesa das energias renováveis: “Running to bring from Brazil the green energy the world needs. #H2V now” – “Correndo para trazer do Brasil a energia verde de que o mundo precisa”, hidrogênio verde (H2V) agora”, em português.

A empresa da qual a maratonista é embaixadora, a Quinto Energy, tem sede em Salvador e é especializada em projetos para construção de parques de energia eólica e solar e é produtora de hidrogênio verde. Recentemente a empresa assinou um memorando com a alemã Siemens Energy para o desenvolvimento no Brasil de um projeto de uma planta de hidrogênio verde com produção em larga escala, com foco na demanda da Alemanha. O país europeu aposta no hidrogênio verde, desenvolvido a partir de fontes renováveis, para fazer sua transição para uma economia limpa.

Uma comissão da Quinto Energy escolheu Essen como um dos locais de prova de Núbia devido ao simbolismo da cidade. Localizada no Vale do Ruhr, no oeste da Alemanha, Essen já abrigou uma das maiores minas de carvão do mundo e, após uma transição ambiental, foi eleita em 2017 como “capital verde” da Europa.

Núbia é natural de Campo Formoso e vive atualmente em Jaguarari, ambas localizadas no sertão baiano. Foi o contato próximo com a seca que despertou seu interesse por questões climáticas, afirma em entrevista à DW.

“Quero continuar representando essa força que supera as adversidades para conquistar o mundo. Vamos mostrar ao mundo a força do vento que corre na Bahia”, diz.

“Se podemos fazer o mundo rodar com energia verde, por que continuamos queimando combustíveis fósseis e soltando tanto gás poluente na atmosfera?”, questiona a atleta. “Eu quero um mundo melhor para os meus filhos. Um ar puro, limpo.”

DW: Como foi sua trajetória no esporte? Quando e como você começou a correr?

Núbia de Oliveia: Com 13 anos eu me inscrevi aleatoriamente nos jogos escolares em Campo Formoso. Mesmo sem treinamento ou orientação, ganhei quase todas as provas. Então, o professor Antônio Ferreira, que é treinador de atletismo e tem um projeto social em Jaguarari, me convidou para treinar em sua instituição, onde ele faz um trabalho de inclusão social com crianças em situação de vulnerabilidade. Foi então que comecei a me desenvolver cada vez mais, o que despertou o professor Ferreirinha a identificar que eu tinha talento para ser maratonista. E ele estava certo. Hoje, aos 20 anos, além desta recente conquista em Essen, também faço parte do ranking nacional do atletismo brasileiro, integrando a Seleção Brasileira, além de colecionar medalhas na Sul-Americana e em tantas outras competições que disputei.

Como surgiu seu interesse pela questão ambiental?

O meio ambiente é a minha casa. As cidades onde nasci e hoje moro, Campo Formoso e Jaguarari, estão localizadas no sertão da Bahia. É onde treino. Todos os dias respiro o ar do meu sertão e corro para treinar. Então todos os dias eu vejo como a seca nos afeta. E quando há uma mudança brusca no clima vem muita chuva. Muita mesmo. Depois ficamos um longo tempo novamente na seca. Então viver nessa realidade despertou meu interesse já muito cedo.

O clima do sertão baiano impactou ou ainda impacta na sua vida?

Continua impactando muito, principalmente na lavoura, que é o que sustenta muitas famílias por lá. Às vezes as pessoas fazem grandes plantações confiantes de que a chuva virá, mas a chuva não vem. Às vezes fazem outro planejamento, vem uma chuva tão forte que acaba destruindo toda a plantação. É um cenário bem difícil. Hoje temos uma estrutura melhor, com cisternas, mas houve um tempo que até mesmo para ter água era muito difícil. Era preciso racionar.

Por que você defende a energia verde para o mundo durante as suas corridas?

Estou no começo da vida, acabei de casar e desejo ter filhos. Eu quero um mundo melhor para os meus filhos. Um ar puro, limpo. Se podemos fazer o mundo rodar com energia verde, por que continuamos queimando combustíveis fósseis e soltando tanto gás poluente na atmosfera? A ONU diz que não temos muito tempo para continuar inflando o aquecimento global, então precisamos salvar o nosso planeta. Não temos outro planeta Terra. Só temos este. E a energia verde é capaz de salvar o nosso planeta. Podemos mudar o cenário das mudanças climáticas a partir da produção do hidrogênio verde.

Qual a sua missão como embaixadora da Quinto Energy para o Clima, Esporte e Inclusão Social?

Minha missão é representar. E minha vitória em Essen simboliza o primeiro sinal da energia verde do Brasil na Europa. Com essa produção de hidrogênio verde em larga escala, vamos voltar toda nossa potência para exportar o combustível do futuro para a Europa.

Que outras mensagens e alertas sobre o clima você pretende passar nas suas próximas corridas?

Uma vez o presidente da Quinto, Rafael, disse que eu corro como o vento que sopra esperança. Que por ser do sertão da Bahia, tenho uma força, uma energia que inspira a empresa. Então é isso que quero levar. Quero continuar representando essa força que supera as adversidades para conquistar o mundo. Vamos mostrar ao mundo a força do vento que corre na Bahia.