O spray de nome Spravato, da Johnson & Johnson, foi aprovado esta semana pela agência de controle de alimentos e medicamentos dos Estados Unidos, a FDA (da sigla em inglês). A nova droga demonstrou ter efeitos perceptíveis dentro de duas horas e durando até duas semanas, além de reduzir pensamentos suicidas em apenas 24 horas. Seu princípio ativo é a esketamina, uma variação molecular da cetamina, e já vem sendo usada como anestésico e antidepressivo intravenoso em hospitais e também como droga recreativa.

A liberação do remédio vem recebendo duras críticas por estar baseada em um único estudo. Na maioria dos casos, é necessário um mínimo de dois testes bem sucedidos antes de se aprovar um medicamento. Seu mecanismo de ação não está totalmente compreendido, daí a apreensão de alguns setores em torno da decisão da FDA. Afinal, a cascata de efeitos da droga ainda não foi revelada, razão pela qual ainda há muita apreensão em torno de seu uso como medicamento.

Quem pode usar e como?
Apesar da facilidade de aplicação, a medicação é altamente controlada. Os pacientes deverão tomar esketamine em um consultório ou clínica médica e permanecer sob supervisão médica por duas horas após a administração. Destina-se a pacientes com depressão resistente ao tratamento, ou seja, que não responderam a pelo menos dois outros tipos de antidepressivos. Acredita-se que cerca de um terço das pessoas com transtorno depressivo maior (MDD) não respondem aos medicamentos convencionais para a doença, razão pela qual os pesquisadores estão procurando tratamentos alternativos.

Pessoas com depressão clínica tendem a ter níveis mais baixos do neurotransmissor serotonina do que as pessoas em geral, e os antidepressivos orais usados hoje em dia podem aumentar esses níveis. Alguns deles também estimulam outros neurotransmissores, como a noradrenalina (e os mais novos o fazem com menos efeitos colaterais), mas a serotonina continua sendo um foco importante.

Em vez de atacar a serotonina, a cetamina inibe os receptores codificados para o N-metil-d-aspartato (NMDA). O NMDA, por sua vez, interage com o glutamato, um neurotransmissor essencial que ajuda as células nervosas a se comunicarem umas com as outras rapidamente. Pesquisas mostram que pessoas com depressão também tendem a ter uma superabundância de glutamato, e essa é provável uma qualidade diferenciada da cetamina: ela parece aliviar os sintomas em parte ao estabilizar essa atividade.

O NMDA e o glutamato provavelmente não são as únicas coisas no cérebro que a cetamina está influenciando para melhor, mas a parte importante é que ela está atacando a depressão de um ângulo fundamentalmente diferente do que qualquer outra droga que temos disponível.