Novas doenças epidêmicas têm uma vantagem evolutiva se forem de gravidade “intermediária”, mostra um estudo internacional. Os cientistas testaram a teoria de que os patógenos (organismos causadores de doenças) que infligem níveis intermediários de dano ao hospedeiro são os mais bem-sucedidos do ponto de vista evolutivo. O estudo, da Universidade de Exeter (Reino Unido), da Universidade do Estado do Arizona e da Universidade Auburn (EUA), foi publicado na revista “Evolution Letters”.

Os pesquisadores descobriram que a seleção natural favorece patógenos de virulência intermediária (quanto dano um patógeno causa) no ponto em que a doença emerge em uma nova espécie hospedeira. Isso ocorre porque a virulência e a transmissão estão ligadas. A virulência surge porque os patógenos precisam explorar os hospedeiros para persistir, replicar-se e transmitir a doença.

A virulência muito baixa é prejudicial para os patógenos se eles não podem transmitir a doença. Mas a virulência muito alta também é uma desvantagem se a infecção mata os hospedeiros tão rapidamente que o patógeno não tem tempo para transmiti-la. Com o tempo, os patógenos que mostram níveis intermediários de virulência devem ter uma vantagem evolutiva.

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Evidência rara

“Por muito tempo, a sabedoria convencional sustentou que novas doenças evoluíam para se tornar inofensivas”, disse a drª Camille Bonneaud, da Universidade de Exeter, autora correspondente do estudo. “Embora os desenvolvimentos teóricos na biologia evolutiva nos anos 1980 tenham mostrado que esse não era necessariamente o caso, tal crença ainda se mantém firme, mesmo hoje.

“Nosso estudo se concentrou na hipótese de ‘troca de transmissão de virulência’, que nos permite fazer previsões sobre a evolução do patógeno”, ela acrescentou. “A evidência experimental para essa teoria é rara. Mas conseguimos testá-la usando mais de 50 variantes do patógeno bacteriano infeccioso Mycoplasma gallisepticum, que infecta tentilhões domésticos.”

No estudo, tentilhões de populações que nunca haviam se defrontado a doença foram expostos a uma das suas diferentes variantes, simulando condições de surto epidêmico.

Nem sempre um jogo de números

“Descobrimos que as variantes mais virulentas transmitiam-se mais rapidamente, mas as variantes de virulência intermediária eram as mais evolutivamente bem-sucedidas”, disse Bonneaud. “Nossos resultados, portanto, fornecem suporte para o uso da hipótese de troca de transmissão de virulência como uma estrutura para compreender e prever a evolução do patógeno emergente.”

Contrariando as crenças comumente aceitas, entretanto, as variantes do patógeno que se replicaram mais rapidamente durante a infecção e alcançaram densidades mais altas não transmitiram melhor ou mais rapidamente a doença do que aquelas que alcançaram densidades mais baixas. “Isso nos diz que a transmissão nem sempre é um jogo de números e que não podemos usar os números dos patógenos como um sinal de seu sucesso”, observa Bonneaud.