A introdução recente de diabos-da-tasmânia saudáveis​​ na Ilha Maria (costa oriental da Tasmânia, ilha ao sul da Austrália) foi inicialmente uma má notícia para a população local de gambás, que vivia sem predadores. Mas os gambás conseguiram rapidamente se adaptar à nova situação, segundo estudo da Universidade da Tasmânia (Utas) publicado na revista “Ecography”.

“Em resposta aos temores de extinção, os diabos-da-tasmânia foram introduzidos na Ilha Maria, onde sua população aumentou rapidamente”, afirmou Calum Cunningham, pesquisador da Utas e principal autor do estudo. “Isso foi realmente importante para salvaguardar o futuro do diabo-da-tasmânia, mas também proporcionou uma oportunidade única de pesquisar como os predadores do topo [da cadeia alimentar] estruturam os ecossistemas.”

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A experiência da Ilha Maria pode ter implicações para o “ressilvestramento” (recolocação em habitat natural) de predadores do topo da cadeia alimentar em todo o mundo, segundo Cunningham. “O ressilvestramento é uma abordagem de gerenciamento que visa restaurar processos ecológicos importantes, introduzindo espécies que desempenham papéis importantes.”

Segundo Cunningham, o declínio de grandes carnívoros em todo o mundo reduziu a “paisagem do medo” que restringe o comportamento de outras espécies. “Nosso estudo mostra que as recuperações dos principais predadores podem restabelecer os controles ausentes no comportamento de outras espécies”, disse.

Comportamento comparado

O estudo da Ilha Maria usou um experimento de forrageamento (busca e exploração de recursos alimentares) projetado especificamente para avaliar como os gambás – uma espécie de presa-chave dos diabos-da-tasmânia – percebem o risco de predação. O experimento comparou o comportamento do gambá antes que os diabos-da-tasmânia fossem introduzidos na ilha e depois que esses marsupiais carnívoros se tornaram muito abundantes.

“A boa notícia é que os gambás mostraram uma clara resposta antipredador depois de apenas três anos vivendo com diabos-da-tasmânia – menos de uma geração”, disse Cunningham.

“Nosso estudo fornece fortes evidências de que os principais predadores modificam o comportamento das presas, incutindo medo, causando rápidas mudanças ecológicas após as recuperações.”

“Este estudo apoia a noção de que o ressilvestramento pode estabelecer funções ecológicas ausentes e fornece uma visão esperançosa de como o ressilvestramento e a restauração de ecossistemas podem ser vistos no futuro. (…) Essa capacidade de reaprender rapidamente comportamentos antipredadores deve refutar o medo de extinções localizadas de presas após a recuperação de predadores no topo da cadeia”, concluiu o pesquisador.