Em entrevista ao diário alemão “Neue Osnabrücker Zeitung” abordada pelo jornal “The Guardian”, um dos maiores exploradores polares da atualidade, expôs sua grande preocupação com o aumento substancial da presença de navios de cruzeiro no Ártico. Esse crescimento, diz o alemão Arved Fuchs, é prejudicial tanto para o meio ambiente local quanto para seus habitantes.

Primeira pessoa a chegar aos polos norte e sul a pé em um ano, o ambientalista Fuchs sabe do que está falando. “O número de navios de cruzeiro está aumentando, esse é o ponto crucial. E quanto maior o navio, mais problemático ele é. Navios de festa não têm lugar no Ártico.”

Ele prossegue: “Algumas das pequenas vilas inuits são regularmente inundadas por passageiros de navios de cruzeiro. Eles não fazem nada mais do que ficar embasbacados e dão pouco de volta para as pessoas que moram lá. Os visitantes são os únicos a lucrar, não os residentes”.

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Grandes empresas de viagens estão oferecendo mais viagens até regiões raramente vistas por turistas comuns. Justificados como visitas às “últimas verdadeiras fronteiras”, os pacotes propagandeiam atrações como a chance de ver animais selvagens raros e paisagens espetaculares. Alguns usam até o derretimento das calotas polares como chamariz.

Ainda sem regras de exploração turística, o Ártico passou a ser um destino atraente para os navios de cruzeiro, segundo analistas da indústria do turismo citados pela revista alemã “Der Spiegel”. Locais como Veneza ou Dubrovnik (Croácia) estabeleceram regras rígidas para a presença dessas embarcações em suas águas. A Turquia e o norte da África, antes também visitados, têm perdido pontos com o risco de violência e terrorismo.

 

Atividade em expansão

A “Der Spiegel” lembra que o número anual de passageiros em navios de cruzeiro subiu de 11 milhões em 2009 para 28,5 milhões em 2018. O número de passageiros alemães dobrou na última década, para 2,2 milhões, e estima-se que quase triplicará na próxima década, para 6 milhões. Alemães e britânicos são considerados os turistas de cruzeiros mais entusiastas.

Todo esse interesse pressiona as operadoras a procurar novos e mais emocionantes destinos turísticos. Nesse sentido, a Groenlândia e o norte do Canadá têm despontado como favoritos.

O impacto ambiental da presença de navios de cruzeiro por essas paisagens antes praticamente intocadas é considerável. Dados do Centre for High North Logistics relativos ao transporte marítimo no Ártico indicam que cada passageiro dessas embarcações gera mais de 36 litros de esgoto por dia. O consumo de combustível de motores e máquinas de um navio de cruzeiro comum supera 95 mil litros.

Fuchs, que atualmente lidera uma investigação científica sobre a quantidade de plásticos no mar, consola-se ao ver que pelo menos há um interesse pelos efeitos da mudança do clima nos polos.

“Congratulo-me com o fato de que esse tópico agora é considerado tão importante”, afirma. “Como vemos, o permafrost está derretendo, as geleiras estão derretendo. Povoados inteiros estão tendo de ser evacuados e reassentados em outro lugar. Em alguns lugares, a costa está erodindo a uma taxa de até 16 metros por ano.

“O Ártico age como um sistema de alerta antecipado. O que acontecer lá acontecerá mais tarde em outras partes do mundo”, observa.