Começou a funcionar no dia 9 de julho o linhão de energia de 1,8 mil quilômetros de extensão que sai da hidrelétrica de Tucuruí, no Pará, vai até Macapá, no Amapá, e Manaus, no Amazonas. Cerca de 3.300 torres gigantes de aço foram instaladas na floresta, algumas transportadas por helicóptero e barcaças. Para atravessar os 2,5 quilômetros de largura do Rio Amazonas, em Jarupari, perto de Almerim, no Pará, foram construídas duas torres de 300 metros em cada margem – pouco menos do que os 324 metros da Torre Eiffel, em Paris.

Mesmo depois de três anos de atraso, a linha ainda não funciona integralmente porque a empresa Manaus Transmissora, subsidiária da Eletrobras, só concluiu uma das cinco subestações previstas e duas das quatro linhas de transmissão projetadas para a capital. Apesar dos pesares, a linha Tucuruí-Manaus merece ser celebrada, porque o país vai economizar R$ 2 bilhões por ano à medida que as 27 termelétricas a gás e a óleo diesel que abastecem a Região Norte forem sendo desligadas.

A capital amazonense detinha 60% do consumo de energia dos “sistemas isolados” (desconectados da rede nacional), cujo custo de geração térmica era subsidiado pela Conta de Consumo de Combustível, embutida na conta de luz de todo brasileiro. No Amazonas, o Polo Industrial de Manaus é um grande consumidor e, no Pará, a mineradora Vale as indústrias eletrointensivas de alumínio e de ferroligas também consomem muita eletricidade.

Só quem mora na região sabe o que significa conviver com apagões, intermitência elétrica e quedas de luz que estragam eletrodomésticos e aparelhos de ar condicionado. Hospitais, fábricas e repartições públicas são obrigados a ter geradores. “A construção da linha Tucuruí-Manaus é um grande avanço da fronteira elétrica rumo ao Norte”, diz o professor Nivalde Castro, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Com muita extensão territorial e baixa densidade demográfica, os sete Estados da Região Norte consomem 6% do consumo de eletricidade do país, mas 25% desse mercado era atendido por térmicas a óleo e a gás, emissoras de gás carbônico na atmosfera. A expansão do Sistema Integrado Nacional (SIN) vai mudar o quadro. Em 2009, os sistemas isolados do Acre e de Rondônia já foram conectados à rede com a entrada em operação da hidrelétrica de Santo Antônio, no Rio Madeira. Graças à linha Tucuruí-Manaus, o “mercado isolado” será reduzido a 10% na Região Norte. Em 2017 haverá mais redução, quando a controvertida hidrelétrica de Belo Monte entrar em operação. O Programa de Expansão da Transmissão PET 2013-2017 prevê a construção de outra linha de 2.140 quilômetros de extensão de Altamira (PA) a Minas Gerais.

Além dos atrasos, o progresso anda devagar. Em julho, fracassou o leilão do Ministério de Minas e Energia para a construção da linha Rio Branco-Cruzeiro do Sul, de 657 quilômetros de extensão, que ligaria o extremo oeste do Acre ao sistema. Nenhuma empresa se apresentou no leilão, de olho em preços mínimos mais baixos e margens de lucro mais altas. Em decorrência, as cidades no vale dos rios Juruá, Taraucá e Purus continuarão às voltas com luz intermitente e apagões constantes.

No vasto sistema brasileiro, com 111 mil quilômetros de extensão (o terceiro mais longo do mundo), há perdas de energia enormes. Nas linhas amazônicas também há risco de as descargas elétricas dos temporais equatoriais desligarem os linhões.

Mesmo assim, a rede nacional permite transferir energia renovável, firme e estável, gerada em bacias hidrológicas diversas, para centros consumidores distantes, aproveitando as diferenças de sazonalidade dos regimes pluviais do país. Um dia, quando a rede do SIN for completada interligando o trecho que falta entre Porto Velho e Manaus (veja o mapa), será possível operar com um circuito fechado de transmissão de energia. Até lá, a evolução tecnológica dos materiais condutores também melhorará os níveis de eficiência da rede.