Ao cantarem e falarem com bebês, as pessoas alteram suas vozes de maneira consistente em todas as culturas, de acordo com um estudo publicado na revista Nature Human Behavior. As descobertas sugerem que a maneira pela qual os humanos falam e cantam para acalmar bebês “agitados” pode ter uma função comum e evoluída.

Mais de 40 cientistas coletaram 1.615 gravações de 21 sociedades e usaram computadores para estudar as características acústicas que diferenciam vocalizações dirigidas a adultos e crianças.

As características acústicas diferiram consistentemente entre as gravações dirigidas a crianças e adultos. Por exemplo, as gravações dirigidas a crianças tinham timbres mais puros, as músicas eram mais suaves e a fala tinha um tom mais alto.

Voz mais aguda

Quando as gravações foram tocadas para 51.065 pessoas de 187 países através de The Music Lab, um site de pesquisa que conta com cientistas cidadãos, os ouvintes puderam adivinhar quando as vocalizações foram direcionadas a bebês com mais precisão do que por acaso.

O autor sênior da pesquisa foi o dr. Samuel Mehr, psicólogo da Universidade Harvard (EUA) que se juntará à Universidade de Auckland (Nova Zelândia) em setembro, levando o The Music Lab com ele. (Outro braço do laboratório estará no Haskins Laboratories da Universidade Yale, dos EUA, um instituto de pesquisa auditiva.)

“A vocalização humana para bebês parece ser fortemente estereotipada entre as culturas, mas esses efeitos diferem em magnitude entre as sociedades”, disse Mehr. “Por exemplo, em todos os lugares, as pessoas usam uma voz mais aguda ao falar com bebês do que quando falam com adultos, mas a diferença de tom é muito maior em algumas sociedades do que em outras – algumas das maiores diferenças foram no inglês da Nova Zelândia, enquanto outras línguas, como a hadza, na Tanzânia, tiveram efeitos menores.”

As regularidades transculturais sugerem que as duas formas de vocalizações são uma característica comum da psicologia humana, de acordo com o professor Quentin Atkinson, psicólogo da Universidade de Auckland e um dos 43 coautores do estudo.

De metrópoles a grupos pequenos

A pesquisa contou com 18 línguas e sociedades na América do Norte, América do Sul, África, Europa, Ásia e Pacífico. Atkinson e o dr. Tom Vardy coletaram gravações de pais e bebês de Vanuatu, onde têm projetos de pesquisa de longo prazo com as comunidades locais.

As sociedades variavam de cidades com milhões de habitantes (Pequim) a cidades menores, como Wellington, até a pequenos grupos de caçadores-coletores de apenas 35 pessoas (pessoas hadza na Tanzânia).

Quatro sociedades de pequena escala (povo nyangatom, na fronteira da Etiópia e Sudão do Sul; povo toposa, no Sudão do Sul; povo sápara/achuar, na Amazônia; e povo mbendjele, no Congo) não tinham acesso à televisão, rádio ou internet e, portanto, tiveram uma exposição muito limitada à linguagem e à música de outras sociedades.

O site The Music Lab baseia-se em ideias e ferramentas da psicologia cognitiva e do desenvolvimento, ciência de dados e antropologia evolutiva, para perguntar “o que é música, como a música funciona e por que a música existe”, afirmou Mehr. O pesquisador – ele mesmo um músico que toca clarinete, flauta, saxofone, fagote e oboé – acrescentou: “Em certo sentido, uma metade das coisas é sobre o que os adultos fazem musicalmente e a outra é o que as crianças entendem disso”.

A pesquisa é apresentada no The Music Lab – “Movimento induzido por som em chimpanzés não implica ancestralidade compartilhada para música ou dança” é um exemplo – e cientistas cidadãos também podem participar de jogos que, em alguns casos, contribuem para projetos de pesquisa. Por exemplo, você pode verificar se é surdo ou um “superouvinte” capaz de distinguir sons complicados, ou pode se envolver com um robô que tentará adivinhar suas músicas favoritas.