Pesquisadores da Western Sydney University e da Csiro, agência nacional de ciências da Austrália, descobriram estranhas nuvens de elétrons em torno de galáxias no interior do cosmos. As nuvens, que estão a cerca de 1 bilhão de anos-luz de distância e nunca haviam sido vistas antes, lembram dois fantasmas dançando.

Os “fantasmas dançantes” foram descobertos como parte da primeira busca no céu profundo usando o radiotelescópio Askap (Australian Square Kilometer Array Pathfinder) da Csiro, situado na Austrália Ocidental.

A descoberta, relatada em um artigo a ser publicado na revista Publications of the Astronomical Society of Australia (Pasa) que descreve o primeiro projeto de Pesquisa Piloto do EMU (sigla em inglês de Mapa Evolucionário do Universo), é um dos vários objetos e fenômenos descobertos no estudo, de acordo com o pesquisador principal, professor Ray Norris, da Western Sydney University e da Csiro.

As duas galáxias que seriam responsáveis ​​pelos fluxos de elétrons (mostrados como setas curvas) que formam os “fantasmas dançantes”. Crédito: imagem de Jayanne English e Ray Norris com dados do EMU e do Dark Energy Survey
Acostumando-se com as surpresas

“Estamos nos acostumando com as surpresas enquanto esquadrinhamos os céus como parte do Projeto EMU e sondamos mais profundamente o universo do que qualquer telescópio anterior. Quando você ousadamente vai aonde nenhum telescópio jamais esteve, é provável que faça novas descobertas”, disse Norris.

Ele prosseguiu: “Quando vimos os ‘fantasmas dançantes’ pela primeira vez, não tínhamos ideia do que eram. Após semanas de trabalho, descobrimos que estávamos vendo duas galáxias ’hospedeiras’, a cerca de 1 bilhão de anos-luz de distância. Em seus centros estão dois buracos negros supermassivos, esguichando jatos de elétrons que são curvados em formas grotescas por um vento intergaláctico.

“Novas descobertas, no entanto, sempre levantam novas questões, e essa não é diferente. Ainda não sabemos de onde vem o vento. Por que está tão emaranhado? E o que está causando os fluxos de emissão de rádio? Provavelmente levará muito mais observações e modelagem antes de entendermos qualquer uma dessas coisas”, acrescentou Norris.

O primeiro ‘Odd Radio Circle’. Os dados de rádio são verdes e os dados em branco e colorido mostram o plano de fundo óptico do Dark Energy Survey. Crédito: imagem criada por Jayanne English com dados do EMU e do Dark Energy Survey
Anéis gigantes

Outros objetos e fenômenos descobertos até agora como parte do Projeto EMU incluem a descoberta dos misteriosos Odd Radio Circles (ORCs), que parecem ser anéis gigantes de emissão de rádio com quase 1 milhão de anos-luz de diâmetro, cercando galáxias distantes.

“Estamos até encontrando surpresas em lugares que pensávamos entender. Ao lado da bem estudada galáxia IC5063, encontramos uma radiogaláxia [objeto extragaláctico que exibe uma intensa emissão na faixa de rádio do espectro eletromagnético] gigante, uma das maiores conhecidas, de cuja existência nunca se suspeitou. Seu buraco negro supermassivo está gerando jatos de elétrons com quase 5 milhões de anos-luz de comprimento. O Askap é o único telescópio do mundo que pode ver a extensão total dessa emissão fraca”, observou Norris.

O telescópio Askap é operado pela Csiro e faz parte do Australia Telescope National Facility. Ele usa uma nova tecnologia para atingir velocidades de pesquisa extremamente altas. Isso o torna um dos melhores instrumentos do mundo para mapear o céu em comprimentos de onda de rádio.