Em todo o mundo, e sobretudo na Europa, maneiras nativas de preparar alimentos viram símbolos nacionais, motivo de orgulho do país e uma atração adicional para os turistas. É quase inevitável, por exemplo, ir à Itália e provar uma massa, ou viajar a Portugal e se aventurar numa bacalhoada. Dificilmente uma passagem pela França acontecerá sem um contato íntimo com algum quiche, croissant, boeuf bourguignon ou coq au vin. Na Espanha, só os que não gostam de frutos do mar recusarão provar a paella.

Curiosamente, a Grã-Bretanha – o reino que no século 19 se tornou símbolo de potência imperialista planetária – cultivou uma culinária tão simples que nunca marcou o panorama internacional com algum prato emblemático. Seu fish and chips (peixe com batatas) é típico, mas pode ser adaptado tão facilmente a qualquer pescado que a origem inglesa vale mais como curiosidade histórica. Se lhes falta um mísero prato de primeira linha, porém, os britânicos têm um consolo na linha das refeições rápidas: o sanduíche teria surgido ali, há 250 anos.

Naturalmente, a ideia de acondicionar carne, queijo ou outro alimento entre duas fatias de pão é bem mais antiga do que isso. Algo parecido com um sanduíche já aparecia em relatos judaicos de 110 a.C., e há descrições antigas desse tipo de lanche no norte da África e na Ásia Ocidental. Na Idade Média, fatias espessas de pão envelhecido eram usadas como prato entre a nobreza europeia e, depois da refeição, elas e o que restava sobre sua superfície – um ancestral dos modernos sanduíches abertos – eram dados a pedintes e aos cachorros das casas.

Conde de Sandwich: personagem por trás do nome moderno do lanche.

O nome sanduíche só começou a ser utilizado em 1762, pelo historiador inglês Edward Gibbon. Ele se referia a uma refeição de “pedaços de carne fria” entre duas fatias de pão apreciada por John Montagu, quarto conde de Sandwich (cidade no sudeste da Inglaterra). Segundo relatos da época, o conde passava horas seguidas a jogar cartas e o lanche lhe permitia continuar a divertir-se sem precisar deixar a mesa. Como, de acordo com a Associação Britânica do Sanduíche, seus colegas de carteado pediam para comer “o mesmo que Sandwich”, a metonímia se espalhou e, com o passar do tempo, tomou conta do mundo.

O sanduíche, em todas as suas variações, vingou por sua praticidade e pelo custo inferior ao de uma refeição convencional. Para ajudar, no início do século 20 ele entrou na dieta norte- americana, firmando-se como alimento básico, e a ascensão dos Estados Unidos a superpotência global nas décadas seguintes disseminou essa alternativa alimentar pelo mundo. Hoje em dia, é raro o país que não abriga pelo menos uma unidade de redes como McDonald’s, Burger King ou Subway, entre tantas outras, cujo cardápio é baseado em san duíches.

Encenação, na cidade de Sandwich, das jogatinas do conde

Os britânicos não inventaram o sanduí che no sentido estrito do termo, mas aproveitam ao máximo o fato de ter dado ao lanche o nome pelo qual ele é mundialmente conhecido. Os 250 anos do surgimento da denominação estão sendo devidamente festejados na pequena (cerca de 7 mil habitantes) e bucólica Sandwich ao longo deste ano. Quem estiver interessado em visitá-la durante esse período pode consultar o calendário de eventos no site (veja o endereço abaixo). O aniversário é do sanduíche, mas a cidade garante que até quem prefere refeições mais substanciosas não ficará decepcionado.

MAIS INFORMAÇÕES

Site: sandwichevents.org.uk