Em um apelo urgente por ação, um estudo do Fórum Africano de Políticas para Crianças (ACPF) aponta que quase 60 milhões de crianças na África não têm comida suficiente, apesar do crescimento econômico do continente nos últimos anos. Isso representa uma em cada três crianças africanas. E o que é pior: a fome é responsável por quase metade de todas as mortes infantis em todo o continente, alertou o think-tank. A região pode ter um bilhão de crianças e jovens desnutridos e famintos até 2050, se os níveis atuais continuarem inalterados.

A fome prejudica o crescimento e o desenvolvimento cognitivo das crianças, e também atinge o desempenho econômico do país de onde elas vêm. A fome infantil pode custar aos países africanos quase 17% do seu PIB, segundo o relatório. Estima-se que o atual PIB do continente tenha sido reduzido em 10% por causa do atraso no crescimento.

“A fome infantil é fundamentalmente um problema político”, disse Assefa Bequele, diretora executiva da ACPF. “Embora seja uma realidade persistente e nua, continua sendo uma tragédia silenciosa, que permanece em grande parte não reconhecida e tolerada, talvez porque seja um problema dos pobres.”

Nove em cada dez crianças africanas não preenchem os critérios para uma dieta mínima aceitável, delineada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), e duas em cada cinco não fazem refeições regularmente. Quando avaliada a alimentação de crianças de 6 a 23 meses – se recebem alimentos suficientes e diversos com uma frequência saudável -, as piores situações se encontram na Libéria, Congo e Chade.

Em 2017, mais de oito milhões de pessoas na Etiópia, cinco milhões no Malawi, quatro milhões no Zimbabué e três milhões no Quênia foram afetadas pela aguda insegurança alimentar causada por questões relacionadas com a crise climática.

Em áreas com conflitos prolongados, a taxa de subnutrição em crianças é de duas a três vezes maior. Três em cada quatro crianças com menos de cinco anos vivem atualmente no continente em países transformados em zonas de guerra.