Observações do Observatório Estratosférico de Astronomia Infravermelha (SOFIA, na sigla em inglês) indicam que o campo magnético próximo ao núcleo da Via Láctea é forte o suficiente para controlar o material que se move ao redor do buraco negro – mesmo na presença das enormes forças gravitacionais desse buraco negro.

A pesquisa, apresentada na reunião da Sociedade Astronômica Americana (realizada entre 1º e 3 de junho), pode ajudar a responder a mistérios de longa data sobre por que nosso buraco negro, Sagitário A*, é relativamente silencioso em comparação com outros e por que a formação de novas estrelas no núcleo de nossa galáxia é menor do que a esperada.

Usando seu mais novo instrumento de infravermelho para estudar grãos de poeira celeste, que se alinham perpendicularmente às linhas de campo magnético, o SOFIA conseguiu produzir mapas detalhados de nosso centro galáctico, mostrando o comportamento desses campos magnéticos invisíveis ao redor do buraco negro.

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“Ainda existem aspectos do buraco negro de nossa galáxia que não podemos explicar apenas com a gravidade”, disse Joan Schmelz, diretora da Universities Space Research Association (USRA) e consultora científica do SOFIA. “Os campos magnéticos podem ajudar a resolver esses mistérios.”

Papel relevante

Os cientistas geralmente confiam na gravidade para explicar seus resultados, porque medir os campos magnéticos celestes é extremamente desafiador. Mas os dados do SOFIA agora obrigam os cientistas a considerar seu papel. Sabe-se que os campos magnéticos na magnetosfera da Terra nos protegem das partículas de alta energia vindas do Sol. Eles também controlam o plasma da atmosfera solar, chamada coroa, onde criam curvas dramáticas e explosões poderosas. O SOFIA descobriu que o campo magnético próximo ao centro galáctico pode ser forte o suficiente para controlar a matéria de maneira semelhante à coroa solar.

É preciso pesquisar mais para entender o papel dos campos magnéticos no centro de nossa galáxia e como essas forças fortes se encaixam na gravidade. No entanto, esses resultados preliminares podem melhorar nossa compreensão de pelo menos duas questões fundamentais de longa data sobre formação de estrelas e atividade de buracos negros na região do centro da Via Láctea. Embora haja bastante matéria-prima para formar estrelas, a taxa de formação desses objetos é significativamente menor que o esperado. Além disso, nosso buraco negro é relativamente silencioso em comparação com os centros de muitas outras galáxias. O forte campo magnético poderia explicar as duas coisas – poderia impedir o buraco negro de engolir a matéria necessária para formar jatos e também suprimir o nascimento de estrelas.

Imagem composta da região central da Via Láctea, conhecida como Sagitário A. O SOFIA descobriu que os campos magnéticos, mostrados como linhas luminosas, são fortes o suficiente para controlar o material que se move ao redor do buraco negro, mesmo na presença de enormes forças gravitacionais. Crédito: Nasa/SOFIA/L. Proudfit, ESA/Herschel/Hubble