Pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), do Museu Nacional e da Universidade Regional do Cariri apresentaram nesta sexta-feira (10) um fóssil de dinossauro de uma espécie inédita encontrado em 2008 na unidade geológica Formação Romualdo, no Ceará: o Aratasaurus museunacionali, animal terrestre e carnívoro. A pesquisa foi publicada hoje na revista “Scientific Reports”, do Grupo Nature.

Segundo o diretor do Museu Nacional/UFRJ, Alexander Kellner, o fóssil foi batizado em homenagem à instituição, cujo palácio na Quinta da Boa Vista foi destruído por um incêndio em 2018. Ele explicou que ara e ata vêm do tupi e significam “nascido” e “fogo”, respectivamente. Já saurus vem do grego e é muito usado para denominar espécies répteis recentes e fósseis. A tradução de Aratasaurus é “nascido do fogo”, em alusão ao incêndio no museu.

O fóssil tem entre 110 e 115 milhões de anos. Apenas uma das patas do animal está preservada, a direita traseira. “A forma como os ossos estão dispostos, articulados, leva a crer que ele provavelmente deveria estar mais completo antes de sua coleta”, disse Renan Bantim, paleontólogo da Universidade Regional do Cariri. Apesar de o fóssil estar incompleto, grande parte das peculiaridades anatômicas do Aratasaurus em relação aos outros dinossauros celurossauros está nos dedos da pata.

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Espécime jovem

Segundo os pesquisadores, embora à primeira vista pareça pouco, esses ossos guardam características anatômicas importantes para sua classificação e para entender sua evolução. Pelas dimensões da pata e recorrendo a espécies evolutivamente próximas que são mais completas, a equipe concluiu que se tratava de um animal de médio porte. Ele podia chegar a 3,12 metros de comprimento e a um peso de até 34,25 quilos.

Parte de um dos membros inferiores do fóssil. Crédito: Divulgação/Museu Nacional

Entretanto, pela análise da microestrutura de seus ossos, foi possível verificar que se tratava de um dinossauro jovem, podendo crescer ainda mais até chegar à sua fase adulta. “Chegamos a essa conclusão analisando os anéis de crescimento que ficaram impressos nos ossos do Aratasaurus, contabilizando apenas quatro”, afirmou o paleontólogo Rafael Andrade.

A anatomia do fóssil encontrado, principalmente a dos dedos do pé, indica que se trata de uma linhagem de dinossauro com origem mais antiga do que a que deu origem aos tiranossaurídeos. Ainda não se sabe muito sobre onde essas linhagens mais antigas estavam no planeta.

“O Aratasaurus aponta que parte dessa rica história pode estar no Nordeste do Brasil e na América do Sul. Sendo assim, ainda existem muitas lacunas para desvendar esse quebra-cabeça evolutivo. Mas, com essa descoberta, colocamos mais uma peça para entendê-lo”, disse Juliana Sayão, paleontóloga da Universidade Federal de Pernambuco.

Parente chinês

“O Aratasaurus é uma linhagem irmã do Zuolong, um celurossauro do Jurássico da China. Isso sugere que os celurossauros mais antigos estariam mais amplamente distribuídos pelo planeta e ao longo de um tempo maior”, informou o paleontólogo chinês Xin Cheng.

Arte comparativa de tamanho que apresenta um ser humano médio, um velociraptor, o Aratasaurus e um tiranossauro. Crédito: Divulgação/Museu Nacional

O fóssil do Aratasaurus foi descoberto em 2008, numa mina de gesso. Logo depois, foi levado para o Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, em Santana do Cariri, no interior do Ceará. Em seguida, foi encaminhado para o Laboratório de Paleobiologia e Microestruturas, no Centro Acadêmico de Vitória, da UFPE, para ser preparado e estudado. O processo de preparação, que consiste na retirada da rocha que envolve o fóssil, foi lento e complexo devido à fragilidade em que se encontrava o achado, segundo os pesquisadores.

Entre 2008 e 2016, foram feitas análises microscópicas de seus tecidos através de pequenas amostras dos ossos. Há quatro anos, o fóssil foi levado para o Museu Nacional/UFRJ para que uma pequena parte fosse preparada em detalhe.

“Deixar um exemplar como esse pronto para estudo requer cuidados especiais, tais como o uso de equipamentos e produtos adequados. Devido à fragilidade e à grande importância do espécime, seu preparo requereu o uso constante de microscopia e de ferramentas de precisão”, explicou Helder de Paula Silva, preparador de fósseis do Museu Nacional/UFRJ.

O incêndio de 2018 no Museu Nacional não atingiu a área onde estava esse fóssil. Com isso, ele permaneceu intacto.

Divulgação da paleontologia

Espera-se que o Aratasaurus, além de sua importância científica, possa ajudar a divulgar a paleontologia na região do Cariri. “Essa descoberta é um marco para o Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, pois será o primeiro fóssil de dinossauro depositado nesse museu. Espera-se, com isso, aumentar a visitação de áreas do Geopark Araripe”, afirmou o paleontólogo da Universidade Regional do Cariri Álamo Saraiva.

Segundo Juliana Sayão, o Aratasaurus museunacionali contribui para que as instituições científicas entendam a história evolutiva dos terópodes, os quais compõem o grupo de dinossauros carnívoros que têm como representantes atuais as aves.

“Toda descoberta de um fóssil é importante porque obtemos registros que ajudam a reconstruir a história do planeta e refazer o caminho da evolução dos organismos que viveram aqui desde milhões de anos atrás. Muitas vezes o fóssil é único e guarda todas as informações sobre aquela espécie ou grupo de animais”, disse Juliana.