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A universalização das câmeras digitais nos smart­phones é encarada por alguns profissionais como a “morte da fotografia”, por permitir que qualquer um produza o que antes dependia de equipamentos complexos e caros. Mas para outros ela representa uma renovação na arte de fotografar. Este é o caso do fotógrafo, coach e consultor de cultura organizacional Cadu Lemos.

Cocriador do festival de fotografia por smart­phone mObgraphia Cultura Visual, que está na sua sexta edição, Lemos passou a propor mais recentemente que todo tipo de câmera, de profissionais a amadoras, inclusive as de celular, seja usado também como ferramenta terapêutica. Com o que chama de mObZen Educação Visual, ele convida à prática da meditação de atenção plena ou mindfulness – o exercício de estar focado no presente, consciente das próprias sensações e percepções, sem fazer julgamentos. “Fotografar é exercitar a atenção plena – afinal, a fotografia só acontece no momento presente: observar o que está fotografando, se observar e se integrar”, argumenta.

Conhecida também como “fotografia contemplativa”, essa proposta tem raiz em Chogyan Trungpa, mestre de meditação do budismo tibetano, que desenvolveu a técnica miksang, ou ‘bom olho’. Ele usava a fotografia, ainda com câmeras analógicas, para transmitir os conhecimentos budistas, para a prática da meditação e como forma de autoconhecimento. “O miksang tem regras mais rígidas do que as que eu pratico no mObZen, mas aproveito muito dessa técnica”, afirma o fotógrafo.

Para o bem e para o mal

Na opinião de Cadu Lemos, o smartphone é mais do que uma parte da vida das pessoas: ele faz parte do jeito de as pessoas se relacionarem com o mundo. E isso pode ser uma coisa positiva, ou não. O lado negativo, ele ressalta, é que esses aparelhos estão sequestrando nossa atenção. Em grande parte por causa deles, na sociedade contemporânea, a atenção é muito mais fragmentada, não se sustenta por muito tempo. Cada vez fica mais difícil para as pessoas lerem um texto longo, porque estão ficando acostumadas com tudo curto e rápido, na palma da mão.

“Mas a reconstrução da nossa atenção pode ser feita por meio dessa mesma ferramenta”, comenta Lemos. Usar o smartphone para “descomprimir” e desenvolver autoconhecimento por meio da prática da fotografia contemplativa é um deles. Mas ele ainda destaca os aplicativos para meditação guiada – como HeadSpace, Calm e Zen – e outros aplicativos que desligam algumas funcionalidades do aparelho e reduzem os alertas distratores, por exemplo. “Faço meu isolamento pessoal do telefone usando o próprio telefone”, explica.

Nas práticas que faz no mundo corporativo, nos seus trabalhos de coach, desenvolvimento humano e inteligência emocional dentro de equipes, a fotografia contemplativa é instrumento para trabalhar questões como o centrar-se, a liderança, o trabalho em equipe e a comunicação. Mas vai além. Por meio dela, Lemos vê muita gente descobrindo potencialidades que estavam veladas. “Seja a possibilidade de descomprimir com uma ferramenta simples, seja descobrindo que tem uma veia criativa inexplorada.”

Fora das empresas, o mObZen é oferecido para o público em geral por meio de workshops de meio período e retiros de três dias, geralmente, em locais próximos a São Paulo. Cadu Lemos, que é praticante de meditação mindfulness há 20 anos, adianta que, depois de um treinamento, as pessoas podem exercitar sozinhas tanto essa modalidade de fotografia quanto de meditação.