Por causa de suas interações e conflitos com as principais civilizações contemporâneas da Eurásia, os citas desfrutam de um status lendário na historiografia e na cultura popular. Eles tiveram grande influência nas culturas de seus poderosos vizinhos, espalhando novas tecnologias, como selas e outras melhorias para a equitação. Os antigos impérios grego, romano, persa e chinês deixaram uma infinidade de fontes que descrevem, de suas perspectivas, os costumes e práticas dos temidos guerreiros a cavalo que vieram das terras do interior da Eurásia.

Ainda assim, apesar das evidências de fontes externas, pouco se sabe sobre a história cita. Sem uma língua escrita ou fontes diretas, de onde vieram, a língua (ou as línguas) que falavam e em que medida as várias culturas espalhadas por uma área tão vasta estavam de fato relacionadas entre si permanecem pontos obscuros.

Um novo estudo realizado por uma equipe internacional de geneticistas, antropólogos e arqueólogos liderados por cientistas do Departamento de Arqueogenética do Instituto Max Planck para a Ciência da História Humana em Jena (Alemanha) ajuda a iluminar a história dos citas com 111 genomas antigos de citas e não citas que habitaram a Estepe Euroasiática. O trabalho foi publicado na revista “Science Advances”.

Restos de um membro da elite social conhecido como “Homem de Ouro” na necrópole de Eleke Sazy. Crédito: Zainolla Samashev
Mudanças substanciais

O estudo revela que mudanças genéticas substanciais foram associadas ao declínio dos grupos sedentários de longa duração da Idade do Bronze (3000 a.C.-1200 a.C.) e à ascensão das culturas nômades citas na Idade do Ferro (500 a.C.-332 a.C.). Suas descobertas mostram que, seguindo a ancestralidade relativamente homogênea dos pastores do final da Idade do Bronze, na virada do primeiro milênio a.C., influxos do leste, oeste e sul na estepe formaram novos conjuntos genéticos misturados.

A pesquisa vai ainda mais longe, identificando pelo menos duas fontes principais de origem para os grupos nômades da Idade do Ferro. Uma fonte oriental provavelmente se originou de populações nos Montes Altai que se espalharam para oeste e sul durante o curso da Idade do Ferro, misturando-se à medida que se moviam. Esses resultados genéticos coincidem com o momento e os locais encontrados no registro arqueológico e sugerem uma expansão das populações da área de Altai, onde os primeiros túmulos citas são encontrados, conectando diferentes culturas renomadas, como Saka, Tasmola e Pazyryk, situados no sul, centro e leste do Cazaquistão, respectivamente.

Surpreendentemente, os grupos localizados no oeste dos Montes Urais descendem de uma segunda fonte separada, mas simultânea. Ao contrário do caso oriental, esse conjunto genético ocidental, característico das primeiras culturas sármatas, permaneceu amplamente consistente durante a propagação para o oeste das culturas sármatas dos Urais à estepe pôntica (que se estende do norte do Mar Negro até o leste do Mar Cáspio).

Declínio das culturas citas                                         

O estudo também cobre o período de transição após a Idade do Ferro, revelando novas mudanças genéticas e eventos de mistura. Esses eventos se intensificaram na virada do primeiro milênio da era cristã, simultaneamente ao declínio e desaparecimento das culturas citas na Estepe Euroasiática. Neste caso, o novo influxo do Extremo Oriente da Eurásia está plausivelmente associado à propagação dos impérios nômades das estepes orientais nos primeiros séculos da era cristã, como as confederações Xiongnu e Xianbei, bem como pequenos influxos de fontes iranianas provavelmente ligados à expansão da civilização persa a partir do sul.

Embora muitas das questões em aberto sobre a história dos citas não possam ser resolvidas apenas pelo DNA antigo, o estudo demonstra o quanto as populações da Eurásia mudaram e se misturaram ao longo do tempo. Pesquisas futuras devem continuar a explorar a dinâmica dessas conexões transeurasianas, cobrindo diferentes períodos e regiões geográficas, revelando a história das conexões entre o oeste, o centro e o leste da Eurásia no passado remoto e seu legado genético nas populações eurasianas atuais.