Pressionado por não se distanciar de Putin e não criticar a guerra, ex-chanceler alemão abre mão de cargo em conselho da Rosneft um dia após perder privilégios que possuía com ex-chefe de governo na Alemanha.Depois de perder uma série de privilégios

que tinha como ex-chefe de governo da Alemanha, ex-chanceler federal Gerhard Schröder vai deixar seu cargo no conselho de administração da petrolífera estatal russa Rosneft.

A Rosneft informou nesta sexta-feira (20/05) que Schröder e também o empresário alemão Matthias Warnig comunicaram que não poderiam mais continuar em seus respectivos postos. Warnig é o diretor administrativo da empresa Nord Stream AG, responsável pelo gasoduto Nord Stream 2, uma polêmica obra finalizada no ano passado que deveria levar gás da Rússia à Alemanha através do Mar Báltico, mas que teve o processo de aprovação suspenso pelo governo alemão em fevereiro.

Em comunicado, a petrolífera russa destacou a “visão estratégica” de Schröder e Warnig e as “significativas contribuições para os negócios internacionais da empresa”, além da “implementação de grandes projetos de infraestrutura na Rússia e na Alemanha”.

Desde a invasão da Ucrânia, Schröder está sob pressão devido à proximidade com o Kremlin e o presidente russo, Vladimir Putin. Em fevereiro, o ex-chanceler alemão também foi indicado para ocupar o conselho de administração da poderosa estatal energética russa Gazprom a partir do final de junho. Até o momento, não está claro se Schröder assumirá este posto.

Ele preside ainda o comitê dos acionistas do Nord Stream, além de continuar cadastrado como presidente administrativo da sociedade anônima Nord Stream 2.

Aos 78 anos, Schröder foi chanceler da Alemanha entre 1998 e 2005. Amigo pessoal de Putin, Schröder não fez qualquer crítica pública ao presidente russo após invasão da Ucrânia.

Foi justamente Schröder, em seus últimos dias de governo, em 2005, que autorizou a concessão de uma garantia bilionária que facilitou a construção do Nord Stream, um gasoduto submarino, que liga a Rússia diretamente à Alemanha, contornando países como a Ucrânia e Polônia, cujos governos são adversários do Kremlin.

Schröder aceitou o cargo no consórcio poucos dias após deixar a chancelaria. A partir de então, ele passaria a acumular uma série de cargos em empresas russas.

Perda de privilégios na Alemanha

Nesta quinta-feira, o Bundestag (Parlamento alemão) aprovou a remoção de uma série de privilégios que Schröder tinha por ter sido chefe de governo. A decisão foi tomada devido à recusa do ex-chanceler de cortar laços com empresas russas, como a Rosneft e a Gazprom, ambas ligadas ao Kremlin.

Desta forma, Schröder não terá mais direito a benefícios como motoristas e funcionários. Ele poderá, entretanto, manter a aposentadoria e a equipe de segurança. No ano passado, o estado alemão gastou mais de 400 mil euros com despesas do escritório do ex-chanceler.

A decisão ocorreu no mesmo dia em que o Parlamento Europeu encaminhou uma resolução para pedir que Schröder seja alvo de sanções caso não rompa seus laços com a Rússia.

Em abril, ele concedeu uma entrevista ao jornal americano The New York Times na qual não demonstrava arrependimento pelas relações com Putin. Na ocasião, disse que só renunciaria aos cargos nas empresas russas caso o fornecimento de gás à Alemanha fosse cortado.

Polêmica dentro do partido

Ao comentar a decisão de Schröder, Steffen Hebestreit, porta-voz do governo alemão, reforçou nesta sexta-feira a posição de Olaf Scholz, atual chanceler federal alemão e colega de partido de Schröder no SPD (social-democratas). Em Haia, na quinta-feira, Scholz havia pedido que o ex-chanceler deixasse seus cargos nas estatais russas.

O vice-líder do SPD no Bundestag, o deputado Detlef Müller, disse ao jornal Die Welt que Schröder, “ao contrário de outros, não se distanciou de Putin e de sua guerra”. A decisão de retirar privilégios foi, segundo Müller, “correta e deve seguir em vigência, mesmo após o anúncio de que ele desistirá do cargo na Rosneft”.

O partido de Schröder já havia indicado em abril que ele deveria renunciar à filiação à legenda, que ele liderou por vários anos. Em entrevista à emissora Deutschlandfunk, a copresidente do SPD, Saskia Esken, sugeriu que o ex-chanceler deveria deixar a sigla por insistir em defender Putin.

gb/cn (Reuters, AFP, dpa, ots)