Pesquisadores notaram algo diferente enquanto faziam um levantamento fotográfico da população de girafas no Parque Nacional de Murchison Falls, em Uganda. Uma das girafas selvagens tinha pernas bem mais curtas que as colegas, embora o tamanho de seu corpo aparentasse ser o de um subadulto. Posteriormente, durante um trabalho semelhante na Namíbia, eles avistaram uma segunda girafa selvagem com características morfológicas parecidas.

Uma vez que as girafas atingem seu tamanho máximo entre 3 e 6 anos de idade, e que essa segunda girafa nasceu em 2014, isso significa que esse espécime deveria ter o comprimento das pernas de um adulto. Segundo os pesquisadores Michael Brown e Emma Wells, da Giraffe Conservation Foundation (Namíbia), a diferença desses animais de Uganda e Namíbia em relação às outras girafas é que os primeiros são afetadas por uma condição semelhante à displasia esquelética (termo genérico para doenças que afetam o comprimento dos membros, incluindo nanismo). Seu artigo, publicado na revista “BMC Research Notes” e abordado no site IFLScience, é o primeiro a descrever girafas com essa condição encontradas na natureza.

Os pesquisadores recorreram a um método não invasivo para medir a altura dos animais denominado fotogrametria, já utilizado no caso de elefantes. A técnica usa um telêmetro a laser para medir as distâncias desejadas. Medindo a distância entre os pixels digitais na foto e comparando-os com o tamanho real do recurso focal, pode-se obter medições precisas de fotografias de animais grandes, como girafas.

Pescoço mais longo

Os dados confirmaram que as duas girafas que pareciam anormalmente curtas tinham de fato diferenças consideráveis em relação às alturas médias de cada população de girafas. A girafa em Uganda tinha uma falange (o segmento mais inferior da perna) cujo comprimento era aproximadamente o mesmo do de suas amigas, mas essa parte da perna da girafa namibiana era significativamente encurtada. As medições ficaram em 21,2 centímetros e 15,8 centímetros, respectivamente. Ambos os animais tiveram medidas metacarpais e radiais abaixo da média.

Girafa de Uganda: pescoço mais avantajado. Crédito: Michael B. Brown

A girafa de Uganda compensava parte de sua baixa estatura com um pescoço um pouco mais longo do que o de uma girafa subadulta. Ele tinha quase 1,5 metro, ante o 1,4 metro normal. Aqui também a girafa namibiana voltou a ficar abaixo da média.

Segundo os autores, esta é a primeira vez que tal tipo de displasia esquelética é relatado em girafas selvagens. Aparentemente, tampouco houve um caso desses em animais em cativeiro.

A girafa anã vista na Namíbia. Crédito: Michael B. Brown
Distúrbio genético

Por que esses dois animais não desenvolveram as longas patas características das girafas? “É difícil dizer com certeza, mas especulamos que essas displasias esqueléticas podem estar associadas a algum distúrbio genético, já que o surgimento de displasias esqueléticas costuma estar enraizado em etiologias moleculares”, disse ao IFLScience o coautor Michael Brown, biólogo conservacionista que também trabalha no Smithsonian National Zoo e no Dartmouth College (EUA).

“É importante notar que a população de girafas do Parque Nacional de Murchison Falls experimentou um gargalo populacional significativo no final dos anos 1980 como resultado de distúrbios civis e caça ilegal”, acrescentou Brown. “A população se recuperou notavelmente desde então, com as estimativas atuais de mais de 1.500 girafas, embora não esteja claro se há algum impacto remanescente do gargalo populacional anterior.”