O combate de gladiadores era incrivelmente popular, com evidências do passatempo encontradas em praticamente todas as províncias do Império Romano. A Grã-Bretanha, no entanto, era uma exceção… até agora.

As evidências das lutas de gladiadores na parte romana da Grã-Bretanha estiveram na cara dos especialistas por quase 200 anos, eles só precisavam dar uma nova olhada. O Colchester Vase, um vaso encontrado em Colchester, na Inglaterra, foi descoberto pela primeira vez em uma sepultura romana em 1853.

Datado entre 160 e 200 EC, o vaso é uma bela obra de arte: cerca de 23 centímetros de altura, é coberto com cenas intrincadamente esculpidas de combate de gladiadores.

“Não há nada parecido [com isso] na Grã-Bretanha. É uma peça comemorativa, quase um troféu para a estante de troféus”, disse Glynn Davis, arqueólogo romano e curador sênior dos museus locais de Colchester e Ipswich (CIMS), ao The Guardian.

Além disso, o vaso também servia como uma urna funerária, contendo os restos cremados de alguém. “Eles poderiam muito bem ter patrocinado os jogos. Ou eles eram absolutamente loucos por esportes. Por alguma razão, eles viram a luta e pensaram: ‘Quero uma lembrança disso'”, sugeriu Davis.

De fato, o vaso era tão espetacular que, por muito tempo, as pessoas não acreditavam que não tivesse vindo de outro lugar. “O vaso é de tão alta qualidade que houve um pouco de esnobismo, uma suposição de que não poderia ter vindo da Grã-Bretanha”, explicou Frank Hargrave, diretor do CIMS.

O vaso de Colchester (Foto: Creative Commons)

No entanto, toda a análise agora colocou isso em cheque, segundo ele. Colchester ou, como era conhecido pelos romanos, Camulodunum, era uma cidade importante na Grã-Bretanha romana, ostentando não apenas três teatros e a única pista de corrida de carruagens na Grã-Bretanha, mas também uma próspera indústria de cerâmica.

E agora, novos testes provaram que o Colchester Vase é um excelente exemplo dessa especialidade local: foi feito de argila local e inscrito com os nomes dos gladiadores apresentados antes, e não depois, da luta. “É a única evidência de um combate de gladiadores na arena romana realmente sendo encenado na Grã-Bretanha. Não há descrições escritas”, disse Hargrave ao The Guardian.

Em uma das três cenas detalhadas no vaso, dois gladiadores rotulados como Secundus e Mario lutam contra um urso. Em outra, o gladiador Memnon, um secutor que lutou em armadura leve, foi colocado contra Valentinus, um retiarus armado com um tridente e uma rede.

Valentinus é descrito como estando na 30ª legião, que estava estacionada no noroeste da Alemanha, e Memnon é anotado com os numerais romanos VIIII, o que significa que ele lutou e sobreviveu nove vezes.

No entanto, apesar das figuras de Memnon e Valentinus receberem detalhes pessoais, esses provavelmente não eram os nomes reais dos lutadores, de acordo com John Pearce, professor sênior de arqueologia no King’s College London.

“Memnon aparece com bastante frequência na literatura romana. Ele é descrito como uma pessoa de ‘pele negra’ extremamente impressionante, esse herói que vem de Tróia. Estou me perguntando por que Memnon seria escolhido como o nome do gladiador. Isso é porque temos um gladiador negro que é de algum lugar bem ao sul de Colchester – do norte da África?”, disse ele ao The Guardian.

Quem quer que fosse, Memnon parece ter saído vitorioso nessa instância: o vaso mostra o momento em que Valentino levanta o dedo em sinal de submissão ao adversário.

“O gesto ad digitum de Valentinus sinaliza o fim do combate, mas a decisão de poupá-lo ou matá-lo e, portanto, seu destino como vítima ou sobrevivente, é desconhecido”, disseram Davis e Pearce em seu próximo artigo sobre as novas descobertas da pesquisa, segundo relato do The Guardian.

“Você está olhando para este momento no tempo. Valentinus foi poupado? Isso caberia ao dono dos gladiadores e patrocinador dos jogos, já que [eles] são escravos”, acrescentou Davis ao The Guardian.