Uma supercélula (tipo de tempestade caracterizada pela presença de um mesociclone, ou grande vórtice de ar ascendente) atingiu o centro de uma cidade na Argentina há alguns anos com pedras de granizo tão avantajadas que cientistas sugeriram uma nova categoria para descrevê-las: granizo gargantuano (gigantesco). O adjetivo tem origem no gigante Gargântua, criação literária do francês François Rabelais.

Pesquisadores que investigaram a tempestade de 2018 descobriram uma pedra de granizo com diâmetro provável entre 19 e 23 centímetros, potencialmente estabelecendo um novo recorde mundial. O recorde atual pertence a uma pedra de granizo com 20 cm de diâmetro, ou aproximadamente do tamanho de uma bola de vôlei, que caiu perto de Vivian, Dakota do Sul (EUA).

“É incrível”, disse Matthew Kumjian, professor associado do Departamento de Meteorologia e Ciência da Atmosfera da Universidade Estadual da Pensilvânia (Penn State, nos EUA). “Esse é o extremo superior do que você esperaria do granizo.”

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Os cientistas propuseram que uma pedra de granizo superior a 15 cm deveria ser classificada como gargantuana, e disseram que uma maior conscientização sobre esses eventos, embora raros, poderia ajudar a entender melhor as tempestades perigosas.

Caso bem documentado

“Qualquer coisa maior que um quarto desse tamanho pode começar a fazer amassados ​​no seu carro”, disse Kumjian. “Em alguns casos raros, o granizo de 15 cm passou por telhados e vários andares nas casas. Gostaríamos de ajudar a mitigar os impactos na vida e na propriedade, para antecipar esse tipo de evento.”

A tempestade em Villa Carlos Paz, município de cerca de 36 mil habitantes no oeste da província de Córdoba, ofereceu aos cientistas uma rara oportunidade de estudar um caso bem documentado de granizo gargantuano. À medida que a tempestade se desenrolava, os moradores acessavam as mídias sociais, postando fotos e vídeos.

Pesquisadores acompanharam os relatos um ano depois, entrevistando testemunhas, visitando locais onde ocorreram danos, coletando dados fotogramétricos e analisando observações de radar. Usando fotogrametria – tirando medidas de fotografias – e evidências em vídeo, os cientistas estimaram que a citada pedra de granizo pode ter sido um recorde mundial.

Os cientistas relataram suas descobertas na revista “Bulletin of the American Meteorological Society”.

“Um caso tão bem observado é um importante passo à frente na compreensão de ambientes e tempestades que produzem granizo gigantesco e, finalmente, em como antecipar e detectar eventos tão extremos”, disse Kumjian.

Previsão difícil

O granizo geralmente ocorre durante tempestades severas, que produzem correntes de ar fortes e sustentadas. Os ventos mantêm o granizo no ar por tempo suficiente para crescer em temperaturas abaixo de zero, na alta atmosfera. Mas prever o tamanho do granizo continua sendo um desafio, disseram os cientistas.

Rachel Gutierrez, estudante de pós-graduação da Penn State e coautora do artigo, encontrou uma conexão entre a velocidade de rotação de uma tempestade, ou a velocidade com que ela gira, e um tamanho maior de granizo, mas ainda existem muitos aspectos desconhecidos sobre essa relação. Segundo ela, os dados, especialmente de uma tempestade fora dos Estados Unidos, são inestimáveis.

“Normalmente, não há muitos dados de tempestades fora dos EUA”, disse Gutierrez. “Isso mostra que esses eventos malucos e de alto impacto podem acontecer em todo o mundo.”

Eventos gigantescos de granizo podem ser mais comuns do que se pensava, mas os pesquisadores precisam de voluntários dispostos a relatar a ocorrência de granizo e fornecer medições precisas, incluindo um item comum de escala, ou uma régua, afirmou Gutierrez.