Movimento jovem Greve pelo Futuro deseja abordagem climática mais ambiciosa. Mas, enquanto o aquecimento global tira o sono de crianças e adolescentes, o assunto não parece influenciar o voto do eleitorado mais idoso.No “Map of Action” do Greve pelo Futuro (Fridays for Future), a Alemanha está vermelha. O “mapa das greves” do site do movimento ambientalista marca com tachinhas vermelhas os locais no mundo onde ocorrem manifestações pró-clima nesta sexta-feira (24/09). No país, aglomeram-se mais de 440 marcadores.

Também Jana Boltersdorf foi protestar mais uma vez pelo clima. Ela é ativa desde a criação do Greve pelo Futuro, participava das manifestações em vez de ir à aula. Nesta sexta-feira, completa 20 anos, e no domingo votará pela primeira vez nas eleições para o Bundestag, a câmara baixa do parlamento federal alemão.

A atual greve visa mostrar ao eleitorado que este é um pleito do clima: “As políticas e políticos que elegemos agora serão decisivas para o que acontecerá na Alemanha nos próximos quatro anos em relação à proteção climática”, afirma Boltersdorf.

De fato, pesquisas confirmam que os temas clima e meio ambiente vêm movimentando cada vez mais cidadãos do país. Numa consulta do grupo Forschungsgruppe Wahlen, uma semana antes do pleito legislativo a mudança climática até mesmo ocupava o topo da lista dos principais problemas da Alemanha. Para a própria decisão eleitoral, contudo, apenas 43% dos consultados classificou o tema como “muito importante”.

Clima nas ruas e no discurso político

O sociólogo Bernd Sommer atribui às manifestações climáticas parte do aumento de conscientização sobre o assunto. “O noticiário sobre eventos meteorológicos extremos, de que os efeitos da mudança climática já estão visíveis por toda parte, desempenha um papel, mas, ao mesmo tempo, também os protestos do Fridays For Future e outros protagonistas, colocando o tema nas ruas e, portanto, também no discurso político.”

Para o diretor do departamento de pesquisa Clima, Cultura e Sustentabilidade do Centro Norbert Elias de Design Transformativo e Pesquisa, da Universidade de Flensburg, é admirável o movimento impulsionado pela sueca Greta Thunberg ter gerado esse efeito em apenas três anos.

Na greve desta sexta-feira, o tema justiça climática tem grande destaque, explica Boltersdorf. “Queremos, acima de tudo, dar uma voz também áqueles que, devido à idade, ainda não podem votar, mas que sofrerão com força especlal a crise do clima.”

Segundo sociólogo Sommer, esse fenômeno com que a geração jovem se confronta viola o princípio da pertinência: “Trata-se de um dos princípios da democracia, o qual reza que todos que são afetados por uma decisão também devem ter a possibilidade de participar dela.”

Fonte de preocupação para os jovens

A injustiça climática deixa muitos jovens irados, confirma a porta-voz do Fridays for Future Deutschland, Pauline Brünger. “A isso, se soma a grande frustração pela forma como o discurso político tem transcorrido, nos últimos meses” – por exemplo, o fato de as devastadoras inundações da Alemanha, causadoras de tanto sofrimento e dor, não resultaram em nenhuma consequência na política climática.

Uma enquete com 10 mil crianças e adolescentes de dez países, realizada no começo de setembro, mostrou que mais de dois terços deles temem o futuro. Para quase a metade do grupo, a mudança climática é tão intranquilizadora que compromete o seu dia a dia.

Tais apreensões agudas, contudo, parecem não afetar grande parte das gerações mais maduras – pelo menos não na Alemanha. Num estudo encomendado pela organização Nabu, de proteção à natureza, quase dois terços dos entrevistados acima dos 65 anos não se mostraram dispostos a considerar, em sua decisão eleitoral, os interesses dos jovens pelo clima e a natureza.

No entanto, essa faixa etária influenciará decisivamente as eleições parlamentares, já que os 12,8 milhões de maiores de 70 anos são o maior grupo de eleitores alemães, contra apenas 2,8 milhões que votam pela primeira vez.

Vivendo sob regras nocivas ao clima

Ainda assim, a porta-voz Pauline Brünger se recusa a pôr lenha na fogueira do tão invocado conflito de gerações: “Não tem o menor sentido generalizar, falando dos 'bons jovens e o velhos maus'”, pois há muita gente de mais idade que se engaja pela proteção climática. Por outro lado, como frisa o sociólogo Sommer, “não é toda a juventude que se interessa pelo clima”.

O psicólogo Felix Peter, coautor do livro Climate Action – Psychologie der Klimakrise (Psicologia da crise climática), não considera a idade o fator determinante no posicionamento quanto a questões ambientais e climáticas. A seu ver, a política atual acentua demais as preocupações com as reformas necessárias, em vez das soluções, o que desencadeia resistência.

“Quando, por exemplo, se sugere aos mais velhos que proteger o clima significa não poder mais andar de carro, então a necessária proteção climática se confronta com resistências, porque eles dependem do carro para ir ao médico. Do que precisamos são condições básicas modificadas, facilitando para todos se comportarem de forma positiva para o clima.”

Assim se conseguirá modificar hábitos mais rapidamente, e também a resistência poderá se desfazer, defende Peter, “mas enquanto nós vivermos sob regras nocivas ao clima, dificilmente conseguiremos viver de forma mais benéfica para o clima”.

Movimento pró-clima se radicaliza?

Mas o que acontece se a política climática continuar tão inerte quanto é atualmente? O movimento do clima vai se radicalizar?

“Acho que sim, dependendo de como forem as eleições para o Bundestag e de quanto ocorrer nos próximos anos, no tocante à proteção climática. Certamente há um certo potencial de radicalização”, reconhece a ativista Jana Boltersdorf. “Quanto mais a crise climática não for tratada como a crise que é, o meu prognóstico é que tanto mais desobediência civil vai haver.”

Essa desobediência já se faz sentir, mesmo antes da eleição, na forma de casas de árvore contra o desmatamento das florestas de Hambach, no estado da Renânia do Norte-Vestfália, e Dannenrod, no Hesse; bloqueios de estradas por ocasião do Salão Internacional do Automóvel de Munique; ocupação de minas de carvão mineral. Pela primeira vez, cidadãos da Alemanha fizeram greve de fome por se preocuparem com a crise climática.

O Greve para o Futuro se solidariza com todas essas formas de protesto, assegura Brünger, é importante haver diversidade de ações. Mas o movimento que nasceu entre escolares continua considerando que seu lugar é nas manifestações de rua, também depois das eleições.

Pois é preciso ser realista, já se contando que provavelmente nenhuma coalizão de governo vai assinar um pacto conforme com o Acordo do Clima de Paris de 2015, o qual prescreve manter o aquecimento global em, no máximo, 2 ºC acima dos níveis pré-industriais.

“Por isso. é essencial continuarmos fazendo pressão para que o próximo governo federal alemão faça jus a sua responsabilidade perante a minha geração e as seguintes, implementando de modo consequente a proteção climática”, urge a porta-voz do movimento pró-clima.