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Mateo Hogan estava cansado de viver em Maryland, na costa leste dos Estados Unidos. Ele trabalhava com desenvolvimento econômico para o governo local. Nos fins de semana, reformava casas. Da questão financeira não havia o que reclamar. Mas o estilo de vida urbano não o atraía. Hogan recordava sua infância nas montanhas do Colorado. Ou de 2012, quando encerrou a carreira de esquiador e snowboarder profissional e passou três meses na Indonésia. Lá, deu aulas de mergulho e, nas folgas, aprendeu a surfar. Hogan e a então esposa, Erica Andrews, tomaram uma decisão: comprar um terreno e viver no meio da natureza.

A Costa Rica estava na lista dos possíveis novos lares. Hogan fora para lá em 2006, com amigos. Como não havia ondulação boa no litoral caribenho, a trupe rumou para a costa do Pacífico. Após várias ondas surfadas e horas de estrada, Hogan, na época com 31 anos, visitou um terreno à venda. Próxima ao Parque Nacional Piedras, a região ficava a três quilômetros da rodovia mais próxima e atraía os olhares do mercado madeireiro.

A pé, Hogan acompanhou por uma centena de metros o curso de um rio de água cristalina, que corria envolvido por um grande cânion, penhascos e árvores gigantes, até alcançar uma cachoeira. Depois, descobriu que outros nove lotes viviam a mesma ameaça de desmatamento e extrativismo. Impressionado, ele ligou para Erica: “Podemos comprar a montanha inteira, se quisermos. Caso contrário, teremos uma ‘ilha’ de 62 acres (quase 251 mil m2) de biodiversidade cercada por desmatamento, palmeiras e coisas do tipo – e não quero viver em um lugar assim.”

A causa os mobilizou e fez com que alongassem os planos. Como o valor fugia bastante do orçamento inicial, durante um jantar eles examinaram formas de financiar a empreitada no longo prazo, como atrair investidores que compartilhassem dos mesmos princípios sustentáveis. “Lembra-se do vilarejo ewok no filme O Retorno de Jedi, com os carinhas pequenos que viviam nas árvores, com pontes os conectando?”, pensou Erica. “Não poderíamos construir casas na árvore e fazer algo do tipo?”

Risco calculado

No segundo semestre de 2006, Hogan e Erica voltaram à Costa Rica. Para adquirir o lote, gastaram praticamente todas as economias. Familiares, amigos, conhecidos foram atraídos pela ideia de ter uma casa suspensa no meio do mato. Mesmo sem saber falar espanhol, a dupla assumiu os altos riscos da ideia. Se tudo desse errado, retomariam a ideia de viver com pouco, perto de uma praia com ondas boas.

Os americanos criaram um site para difundir o conceito do projeto Finca Bellavista: estreitar os laços entre os hóspedes ou moradores e a floresta tropical. Esperavam vender os primeiros 25 lotes em três anos, mas o fizeram em seis meses. Impressionados com o interesse, logo usaram o capital para desenvolver a infraestrutura do lugar: tirolesas, pontes, centro comunitário, restaurante, rancho, escritório, espaço de ioga, aulas de culinária, passeios ecológicos.

Há três anos, a ausência do sinal de celular é suprida por uma rede de internet de fibra ótica. Então, conta Hogan, hoje com 41 anos, começaram a construir as casas na árvore, o que demandava de três meses a um ano. Por meio do boca a boca, de reportagens na imprensa e de avaliações positivas no TripAdvisor, o Finca crescia em notoriedade. Em dois anos, ele passou de 62 para 600 acres, o equivalente a 2,43 km2.

No início, o casal morava em uma barraca na entrada da área, onde hoje fica o campo base. Antes dos extrativistas, ali era a morada dos índios bellavistas. Os americanos dormiam sobre um lamaçal, usavam o rio para se banhar e lavar as roupas. Com ajuda de locais, abriram trilhas e prepararam a infraestrutura de água corrente potável, o sistema de biodigestores e painéis de energia solar. Um arquiteto de Seattle (EUA) os ensinou a construir uma casa na árvore.

“Não queríamos derrubar árvores para fazer casas normais nem montar uma comunidade em que as pessoas dirigissem e estragassem tudo, fizessem barulho, assustassem os animais”, afirma Hogan. “Nossa missão é minimizar ao máximo as pegadas ecológicas, para deixar a floresta tropical ser ela mesma, e vivermos com recursos disponíveis na propriedade e em fazendas vizinhas.” No Finca Bellavista, 140 acres (570 mil m2) são ocupados por 12 residências, situadas na região de floresta secundária. As moradias suspensas visam preservar uma região de migração biológica terrestre, que, aos poucos, reconecta as montanhas de Talamanca à península de Osa.

A ação humana, datada de 80 a 100 anos atrás, evidencia-se pelas espécies exóticas, como bananeiras, gamelina (da qual se extrai celulose) e teca (árvore originária da Índia). “Tudo abaixo de nós já foi desmatado e replantado – bananais, extração de madeira, pecuária bovina”, observa Erica. “Acima, há uma floresta tropical nativa e traços de matas secundárias menos danificadas e cultivadas.”

Risco calculado

Criada em uma pequena cidade do Oklahoma, Erica se adaptou facilmente à vida na floresta. Ela retomou uma vida simples na Costa Rica. “Amo e valorizo a imersão de estar cercada por animais e natureza”, diz. Para ela, aos 39 anos, o difícil é se adaptar a espaços fechados, como casas com aquecimento interno e ar-condicionado – o barulho artificial a incomoda. “Para mim, isso não parece normal.”

Hogan nota a desconstrução de estereótipos que uma estada na ecovila proporciona, com base no relato de parte dos 5 mil hóspedes anuais do Finca Bellavista. Os visitantes ou moradores se veem no meio de um calor intenso, rodeados por bichos e cobras. “No segundo dia no Finca, dizem: ‘Sabe de uma coisa? Não tinha ideia do quão relaxante seria aqui’”, afirma o americano. “É um ambiente extremamente pacífico, sem barulho humano. Você acorda ao som dos pássaros e do rio que corre a 50 metros da casa. Vai para a cama escutando a conversa dos sapos e insetos. Vive, de fato, o tempo e o clima da natureza.”

Em uma década, a floresta tropical já demonstra sua resiliência. Os mamíferos agora aparecem aos montes. Espalham sementes pelo caminho, que se transformam em novas árvores, com novos frutos. A natureza surpreende e sobrevive, apesar dos efeitos visíveis do aquecimento global. Um exemplo são os períodos que deveriam ser chuvosos, mas na realidade têm sido extremamente secos nos últimos anos.

Diante disso, Hogan, Erica, os funcionários costa-riquenhos e os moradores e visitantes do Finca Bellavista apenas observam, preservam e afastam os hábitos antigos dos moradores locais, que caçavam animais e derrubavam matas. Enquanto isso, a floresta toma conta do próprio destino.
“Existe a ideia de que o meio ambiente tem de se adaptar aos nossos fins”, diz Erica. “O que fazemos aqui é o oposto disso: nossas necessidades se adequam às da natureza do lugar.”