O isolamento da insulina foi uma das maiores conquistas da medicina. Até então, diabetes era mortal. Pacientes dispõem hoje de várias terapias, e pesquisadores tentam otimizar ainda mais os tratamentos disponíveis.No dia 27 de julho de 1921, os pesquisadores canadenses Frederick Grant Banting e Charles Best conseguiram isolar a insulina do pâncreas canino. Dois anos depois, receberiam o Nobel de Medicina. J.R. MacLeod, que supervisionou o trabalho de pesquisa, e James Collip, que modificou o extrato do pâncreas para que pudesse ser usado em ensaios clínicos, também desempenharam um papel importante na pesquisa.

“Não havia terapia para a diabetes tipo 1. Para muitos pacientes, [o diagnóstico] era uma sentença de morte”, diz Theresia Sarabhai, do Centro Alemão da Diabetes e do Hospital Universitário de Düsseldorf. Ela supervisiona estudos clínicos, como o Estudo Alemão sobre Diabetes.

“Em média, há 100 anos, as pessoas podiam viver com um diagnóstico de diabetes tipo 1 por cerca de dois anos. Os pacientes tinham que seguir uma dieta rigorosa. Na maioria das vezes, eles morriam de desnutrição”, aponta. Mesmo assim, já se sabia que a doença tinha algo a ver com o pâncreas.

A doença chamada diabetes mellitus é caracterizada pelo excesso de glicose no sangue, o que desencadeia uma série de complicações no organismo.

Atualmente, na Alemanha, cerca de 8 milhões de pessoas têm uma forma de diabetes. No Brasil, o Atlas da Federação Internacional de Diabetes (IDF, do inglês) estimou em 2019 em 17 milhões o número de diabéticos, sendo que, destes, quase 8 milhões não são diagnosticados. Ainda segundo o Atlas, o Brasil está entre os dez principais países para o aumento absoluto da prevalência da diabetes. Em nível global, segundo o Atlas, estima-se que 463 milhões de adultos tenham diabetes, dos quais cerca de 32 milhões vivem na América do Sul e América Central.

Pâncreas, um órgão vital

Uma das tarefas mais importantes do pâncreas é a produção de enzimas digestivas. Estas enzimas são passadas através de um duto para o duodeno, onde são então adicionadas à massa alimentar. O pâncreas também é responsável por hormônios, como a insulina e o glucagon, que regulam o açúcar no sangue.

Na diabetes, há pouca ou nenhuma produção de insulina pelo corpo. Em pessoas saudáveis, no entanto, a insulina controla o nível de açúcar no sangue. Já em pessoas com diabetes, o equilíbrio insulínico não funciona corretamente. A diabetes tipo 1 geralmente começa subitamente na infância e na adolescência e se caracteriza por uma falta pronunciada de insulina, o que leva ao aumento dos níveis de açúcar no sangue.

A diabetes tipo 2, por outro lado, geralmente começa de forma insidiosa e somente na vida adulta. A produção de insulina é retardada, o corpo não reage de forma tão sensível à insulina e se torna resistente.

As primeiras injeções de insulina

A primeira insulina era um espesso muco amarronzado, que era injetado através de enormes seringas com recipientes de vidro. Em janeiro de 1922, pela primeira vez uma equipe de pesquisadores conseguiu curar um paciente com diabetes tipo 1, administrando insulina. Era Leonard Thompson, de apenas 13 anos de idade. Ele havia tido diabetes durante um ano e meio até ser tratado com insulina bovina no Hospital Geral de Toronto.

Os pesquisadores observaram alguns dias depois que a urina do menino estava livre de açúcar e acetona, as substâncias responsáveis pelo desenvolvimento da diabetes. Depois disso, o desenvolvimento foi rápido. Ainda em 1922, na Universidade de Toronto foi criada uma comissão para controlar a produção industrial de insulina.

Desenvolvimento a passos largos

No início, a insulina era extraída dos pâncreas de gado bovino e suíno. Nenhum deles diferia muito da insulina humana. Sua produção química seria o próximo passo. Tratou-se da chamada insulina NPH, uma insulina humana à qual foi adicionada a substância protamina, que faz com que o efeito se desenvolva lentamente, mas dure mais tempo. Isso foi em 1946.

Com esta insulina de longo prazo, foi necessário calcular exatamente a quantidade que o corpo precisa e em que momento. “Insulina de longo prazo significa um efeito garantido de até 24 horas. Para este fim, os pacientes tinham que ingerir uma certa quantidade de carboidratos em um determinado momento a fim de otimizar o nível de insulina. Até os anos 1980, os pacientes estavam muito bem adaptados a isto”, explica Sarabhai.

Insulina humana em vez da animal

Em 1982, pesquisadores conseguiram produzir insulina humana com a ajuda de bactérias geneticamente modificadas, ela corresponde 100% ao hormônio humano. A insulina artificial só chegaria ao mercado em 1996. Sua vantagem é que age mais rápido do que humana.

“A engenharia genética abriu possibilidades para o desenvolvimento de muitas insulinas diferentes. Durante os anos 1990 e 2000, foram desenvolvidas as primeiras insulinas de ação rápida. Elas são muito semelhantes em sua eficácia à insulina de nosso próprio corpo”, diz Sarabhai. O que todas têm em comum é que os pacientes têm que injetar a insulina regularmente e de forma subcutânea, ou seja, sob a pele.

Em busca da insulina de efeito rápido

Com o passar dos anos, ficaram cada vez mais sofisticados os métodos de fornecer a vital insulina ao corpo humano. A grossa seringa com o bulbo de vidro há muito tempo está obsoleta e o desenvolvimento de insulinas continuou.

Em 1996, chegou ao mercado o primeiro análogo de insulina. É uma proteína patenteada produzida artificialmente e que age rapidamente. Depois, em 2000, passou a ser produzida uma insulina analógica de longa ação. Em média, os pesquisadores desenvolveram novos preparados de insulina a cada dois anos.

Insulina na forma de spray nasal

Para pacientes que desenvolveram uma resistência à insulina, o spray nasal é uma alternativa promissora. Ele aumenta a sensibilidade à insulina, tanto à do próprio corpo quanto à insulina administrada. Outra vantagem é que ela reduz a sensação de fome dos pacientes. Eles comem menos, para que possam controlar melhor seu peso e reduzir o nível de açúcar no sangue.

Este também foi o resultado de um estudo relativamente pequeno em Tübingen, na Alemanha. Os pesquisadores selecionaram 25 participantes saudáveis e magros, assim como dez pessoas com sobrepeso e 12 obesas. Em todos eles, a sensação de fome foi significativamente menor após a aplicação de insulina. Um estudo em grande escala ainda deverá fornecer mais informações.

Bomba de insulina

Outro possível método terapêutico é uma bombinha de insulina, também chamado de “pâncreas artificial”, mas que apenas é útil para diabéticos do tipo 1. Este sistema consiste em uma pequena bomba presa por abaixo do umbigo. Um sensor mede a glicemia pela pele do paciente e indica a dose de insulina a ser administrada.

“Há bombas que você tem que configurar manualmente e informar quando e quanto você come, para que a quantidade certa de insulina seja administrada. Mas agora também há bombas que funcionam quase automaticamente”, explica Sarabhai. “Eles podem usar os chamados monitores de glicose para medir o nível elevado de glicose no sangue e decidir de forma mais flexível a quantidade de insulina a ser fornecida.”

Maior independência dos diabéticos

Durante décadas, os diabéticos sempre tiveram que orientar sua vida a partir de sua doença. Ela determinou suas vidas, começando com os valores de açúcar no sangue determinados pela gota de sangue tirada da ponta de um dedo.

“Quando eu tenho que comer? Quanto preciso ingerir? Há cursos sobre diabetes nos quais os pacientes são envolvidos e recebem orientação sobre sua doença”, diz Sarabhai. “Eles são informados sobre como eles próprios podem ajustar seu nível de açúcar no sangue. É uma conquista que começou na década de 1980 e é fundamental para a autodeterminação do paciente.” Isto significa que a terapia não está mais apenas nas mãos do médico.

Os novos métodos terapêuticos deram muito mais liberdade às pessoas com diabetes. Alguns deles chegam a ser atletas de sucesso, por exemplo. Mas há profissões que são absolutamente tabu para as pessoas com diabetes, como pilotos ou bombeiros. O risco de hipoglicemia é muito alto, apesar das excelentes possibilidades de medicação.

Não tão rápido quanto o “original”

A administração subcutânea de insulina provou seu valor, especialmente porque agora existem muitas opções, como seringas de insulina tipo caneta. “Elas são bem estreitas e muito discretas. Eles são estéreis e depositam a insulina sem dor no tecido adiposo subcutâneo. Seu efeito dura até 36 horas. O paciente insere a insulina em seu corpo pressionando um botão, que então aciona automaticamente a injeção através de uma fina seringa.

Mas ainda resta um problema: “Sempre leva certo tempo para que a insulina entre na corrente sanguínea. Esta é exatamente a diferença da insulina natural. Nosso pâncreas pode reagir imediatamente a flutuações, uma injeção não pode, ou depende do usuário”, diz Sarabhai.

Muitas coisas estão sendo testadas

Muitos métodos terapêuticos estão sendo testados ou já estão em uso. Um deles é um medidor de glicose no sangue, geralmente preso ao braço. Ele diz ao paciente via Bluetooth qual é o seu nível atual de glicose no sangue.

Outro produto promissor é a insulina ligada a uma substância transportadora, uma proteína. Ela também é injetada no tecido gorduroso subcutâneo e só é liberada quando o corpo a necessita. Mesmo assim, permanece um problema: “O que precisamos no futuro é de um controle ainda melhor do açúcar no sangue. Só podemos conseguir isto levando a insulina ainda mais rapidamente para o lugar onde ela age”, diz a diabetologista.

Um pâncreas artificial que não depende de intervenção manual poderia ajudar. Num futuro próximo, grande parte da pesquisa sobre diabetes será realizada utilizando algoritmos e tecnologia sensorial. Isto poderia otimizar a terapia e levá-la ao ponto em que o paciente não precisa mais se preocupar com nada e tem muito mais liberdade.

O ajuste correto do açúcar no sangue e a quantidade certa de insulina seriam regulados automaticamente. “Mas, para que funcione, o paciente também deve poder confiar nos algoritmos”, resume Sarabhai.