A final daquele Mundial, em Munique, foi disputada por Alemanha e Holanda, consideradas as top de linha que melhor representavam o futebol da época. Entre as estrelas em campo, estavam Franz Beckenbauer e Johan Cruyff.Munique. Domingo, 7 de julho de 1974. Estádio Olímpico. A final daquela Copa do Mundo colocava frente a frente duas seleções poderosas que, por sinal, no último Mundial, na Rússia, não tiveram nenhuma importância. A Holanda nem se classificou, e a Alemanha deu adeus às suas pretensões de defender o título obtido em 2014 já na fase de grupos.

Em 1974, porém, as duas equipes eram consideradas as top de linha que melhor representavam o futebol da época. Os alemães venceram a Eurocopa de 1972 e mantiveram praticamente o mesmo elenco nos anos seguintes. A Holanda, por sua vez, se fez notar por um esquema tático conhecido como “carrossel”. Os jogadores não tinham posições fixas e circulavam pelo campo em busca do gol.

Enquanto o esquadrão de Rinus Michels encantava o mundo com seu “futebol total”, passando com facilidade pela primeira fase de grupos, a seleção alemã dirigida por Helmut Schön patinava e não convencia ninguém. A Mannschaft venceu seus dois primeiros jogos sem brilhar. Depois do 1×0 sobre o Chile, derrotou a Austrália por 3×0, apresentando um futebol medíocre e sendo vaiado clamorosamente pela sua própria torcida no Volksparkstadion de Hamburgo.

O pior ainda estava por vir. A última partida desta fase de grupos colocou frente a frente as duas Alemanhas – a Ocidental, de um lado, e a Oriental, do outro. Do ponto de vista esportivo, o duelo não valia mais nada porque as duas seleções entraram em campo já classificadas para a próxima fase da competição. Era a época da Guerra Fria e o jogo acabou se tornando também um confronto político e social de dois sistemas diametralmente opostos: capitalismo versus socialismo.

Beckenbauer exige mudanças no time

A Alemanha Ocidental entrou em campo como franca favorita, mas decepcionou de ponta a ponta. Beckenbauer e companhia pareciam impotentes e sem saber o que fazer frente aos engajados jogadores da Alemanha Oriental. Faltando 13 minutos para o fim, a sensação: Jürgen Sparwasser levou a melhor sobre Höttges e Vogts, deixou o goleiro Maier em maus lençóis e marcou um gol para entrar nos livros de história do futebol alemão: 1×0!

O sucesso da Alemanha Oriental acabou sendo uma vitória de Pirro. Isso porque, como vencedor do seu grupo, enfrentou na fase seguinte potências como Brasil, Argentina e Holanda enquanto a Alemanha Ocidental teve como adversários Iugoslávia, Suécia e Polônia.

Ainda no ônibus que levou os jogadores de volta ao hotel, o clima esquentou. O capitão Beckenbauer tomou a frente e chamou seus colegas à responsabilidade. Além disso, convenceu o técnico Helmut Schön a promover mudanças no time tanto do ponto de vista tático como na escalação propriamente dita.

A exortação de Beckenbauer surtiu efeito. Na segunda fase da competição, o time entrou nos eixos, venceu sucessivamente Iugoslávia (2×0), Suécia (4×2), Polônia (1×0) e como vencedor do grupo chegou à final contra a Holanda que, por sua vez, subia cada vez mais de produção com triunfos convincentes sobre Argentina, Brasil e Alemanha Oriental.

A seleção comandada fora de campo pelo criativo técnico Rinus Michels e dentro de campo por craques como Johan Cruyff e Johan Neeskens enchia os olhos de todas as torcidas com seu atraente e dinâmico futebol total. Consequentemente, a Holanda entrou em campo no Estádio Olímpico de Munique como franco favorito à conquista do título. Era a opinião reinante de jornalistas esportivos, comentaristas e dos próprios jogadores.

Holanda largou na frente

O jogo começou com uma demonstração inequívoca de extrema autoconfiança dos holandeses. Antes que algum jogador alemão pudesse tocar na bola, o placar já anotava 1×0 para a “laranja mecânica”: Johann Cruyff escapa do seu marcador Berti Vogts e é derrubado na grande área por Uli Hoeness. Eram decorridos apenas 63 segundos. Neeskens marca inapelável, Maier nada pôde fazer.

Apesar do choque prematuro, pouco a pouco os alemães conseguem fazer o seu jogo – mesmo porque a Holanda, em vez de procurar o segundo gol, aparentemente prefere dar uma demonstração do seu talento e virtuosismo no trato da bola.

Aos 26 minutos, Bernd Hölzenbein penetra na grande área acossado por Wim Jansen e cai. O juiz John Taylor marca pênalti. Simulação ou falta? Até hoje o lance é alvo de acaloradas discussões. Paul Breitner não quer saber de discussão, calma e friamente pega a bola e empata a partida.

Os alemães intensificam seu jogo. Rainer Bonhof avança pela lateral direita e passa em direção a Gerd Müller na grande área. Por pouco não perde o controle da bola, mas consegue o domínio, gira e chuta: 2×1, um gol típico de Gerd Müller.

Na segunda etapa, os holandeses foram para cima, mas a defesa alemã aguentou firme com o goleiro Sepp Maier fazendo o melhor jogo de sua vida. Ainda teve um gol anulado de Müller. Depois de 90 minutos intensos e do apito final do juiz, a Alemanha festejava seu segundo título de campeã mundial.

Munique. Domingo, 7 de julho de 1974. Estádio Olímpico.

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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Atuou nos canais ESPN como especialista em futebol alemão de 2002 a 2020, quando passou a comentar os jogos da Bundesliga para a OneFootball de Berlim. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast “Bundesliga no Ar”. A coluna Halbzeit é publicada às terças-feiras.

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