Os ossos de uma espécie humanoide semelhante a um hobbit (os seres menores que anões criados pelo escritor J. R. R. Tolkien) encontrados na ilha de Flores (leste da Indonésia) em 2003 não representam, segundo um pesquisador, apenas uma parte limitada da história da evolução humana. Representantes dessa espécie ainda viveriam naquela região.

Em um artigo para a revista The Scientist, o etnobiólogo canadense aposentado Gregory Forth, que ensinou antropologia na Universidade de Alberta, explica por que acredita que o Homo floresiensis (nome dado pelo antropólogo Mike Morwood quando encontrou os ossos da era do Pleistoceno em Flores em 2004) ainda pode estar vivo e bem nas florestas da ilha.

A descoberta do H. floresiensis por Morwood abalou o mundo científico quando ele divulgou suas descobertas pela primeira vez – foi o “equivalente à descoberta de um alienígena espacial”, definiu Forth.

Pensou-se inicialmente que a espécie, apelidada de “Hobbit”, teria vivido até cerca de 12 mil anos atrás. Posteriormente, uma análise mais aprofundada empurrou a data para aproximadamente 50 mil anos atrás.

Em seu próximo livro, Between Ape and Human (“Entre Macaco e Humano”), porém, Forth afirma não partilhar dessa opinião. Ele se baseia em descrições de uma tribo local chamada Lio de encontros com uma criatura diminuta que, na sua opinião, poderia ser o mesmo H. floresiensis.

À esquerda, crânio de H. floresiensis; à direita, crânio de Homo sapiens com microcefalia. Crédito: Avandergeer/Wikimedia Commons

Explicação mais racional

“Meu objetivo ao escrever o livro era encontrar a melhor explicação – ou seja, a mais racional e empiricamente mais bem fundamentada – dos relatos de Lio sobre as criaturas”, escreveu Forth. “Isso inclui relatos de avistamentos de mais de 30 testemunhas oculares, com todas as quais falei diretamente. E concluo que a melhor maneira de explicar o que me disseram é que um hominídeo não sapiens sobreviveu em Flores até o presente ou tempos muito recentes.”

No livro, Forth descreve como, na mitologia dos Lio, os humanos podem se transformar em outras espécies como parte da “mudança para novos ambientes e adoção de novos modos de vida”. Esse mito, segundo ele, poderia sugerir uma conexão entre humanos e seus antepassados H. floresiensis. “Como meu trabalho de campo revelou, tais mudanças postuladas refletem observações locais de semelhanças e diferenças entre uma suposta espécie ancestral e seus descendentes diferenciados”, disse ele em seu artigo.

Forth explica que os Lio classificam essas criaturas como animais, desprovidos da linguagem ou da tecnologia que caracterizam os humanos. Mas sua estranha semelhança com os humanos não lhes passou despercebida. “Para os Lio, a aparência do homem-macaco como algo incompletamente humano torna a criatura anômala e, portanto, problemática e perturbadora”, escreveu o etnobiólogo no artigo na The Scientist.

Ele acrescentou: “Nosso instinto inicial, eu suspeito, é considerar os homens-macacos de Flores como completamente imaginários. O que eles dizem sobre as criaturas, complementados por outros tipos de evidências, é totalmente consistente com uma espécie de hominídeo sobrevivente, ou uma que só foi extinta nos últimos 100 anos”.