Um pântano, descoberto em 1832, pode ser a chave para recriar o antigo ecossistema das Ilhas Maurício. Relatos atestam que o pântano era tão cheio de ossos de animais que bastava mergulhar as mãos em suas águas para coletar os fósseis.

Agora, uma expedição científica escavou pela primeira vez o local. O grupo foi formado por pesquisadores do Museu de História Natural de Londres e da National Heritage Foundation.

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Os pesquisadores encontraram uma diversidade impressionante de espécies de animais já extintos que viviam nas Ilhas Maurício. Entre essas espécies estão tartarugas e lagartos gigantes e o dodô, uma ave da família dos pombos que era endêmica das Ilhas e que se tornou um símbolo da aniquilação de animais pela interferência do homem quando entrou em extinção, em 1680, menos de 100 anos depois que humanos passaram a habitar as ilhas.

Julian Hume, pesquisador do Museu de História Natural de Londres, disse que essa foi uma das escavações mais empolgantes nas quais já trabalhou. “Estamos, literalmente, ‘descascando’ a história das Ilhas Maurício, camada por camada”, disse, em comunicado do museu.

Os ossos encontrados permitiram que os paleontólogos datassem o sítio paleontológico em 12 mil anos de idade, o que o torna um dos mais antigos do Oceano Índico Ocidental.

Antes da expedição, os cientistas sabiam pouco sobre a dinâmica das florestas tropicais das planícies das Ilhas Maurício. A descoberta de fósseis de sementes e pólen vai ajudá-los a reconstruir a paisagem local antes da chegada do homem, no início do século 17, e também vai ajudar os pesquisadores a entenderem o impacto das mudanças climáticas nesse ecossistema nos últimos 12 mil anos.

Paisagem das Ilhas Maurício, com dodôs e tartarugas gigantes, recriada pelo pesquisador Julian Hume, do Museu de História Natural de Londres

Para Hume, o sítio é um retrato de como eram as Ilhas Maurício milhares de anos atrás, com uma paisagem nunca observada por seres humanos e formada por uma densa cobertura florestal, cercando um lago que era um recurso importante para os animais nativos, especialmente os dodôs e as tartarugas gigantes.

Um dos aspectos mais empolgantes dessa pesquisa para os cientistas é descobrir mais sobre a história do dodô. Segundo os estudiosos, nós sabemos mais sobre o comportamento e estrutura dos dinossauros do que sobre uma ave que desapareceu muito mais recentemente. A ciência ainda não desvendou como o dodô chegou até as ilhas, como evoluiu, o quanto cresceu e como se comportava.

Segundo Delphine Angst, paleontóloga especializada em fósseis de aves da Universidade de Bristol, pela primeira vez a ciência tem ossos de dodôs bem datados e associados a registros fósseis de outros animais e plantas no mesmo ambiente e na mesma época.

O sítio continuará a ser escavado nos próximos anos e os cientistas pretendem encontrar informações sobre como os humanos devem agir para preservar esse ecossistema peculiar no futuro.