A cada ano, de 250 mil a meio milhão de pessoas em todo o mundo sofrem uma lesão medular gravemente incapacitante, segundo a Organização Mundial da Saúde. Esse grupo ganhou novas esperanças com um novo estudo suíço, que devolveu a capacidade de andar a três homens paralisados ​​devido a lesões graves na medula espinhal graças a um implante de medula que estimula os músculos do tronco e das pernas. Cientistas acreditam que a inovação poderia ter ampla aplicação como produto comercial.

O estudo foi liderado pela drª Jocelyne Bloch, chefe da unidade de neurocirurgia funcional do Hospital Universitário de Lausanne (Suíça), e pelo neurocientista Grégoire Courtine, do Instituto Federal Suíço de Tecnologia. Os resultados foram publicados na revista Nature Medicine.

Os cientistas implantaram dispositivos de 16 eletrodos no espaço epidural nas colunas espinhais dos homens, entre as vértebras e a membrana da medula espinhal. Os eletrodos são uma inovação importante, explicou Courtine. Eles recebem correntes elétricas de marca-passos implantados sob a pele de seus abdômens, controlados sem fio com um tablet, informou a CNN.

Liberdade

Um dos homens que passaram pela intervenção foi o italiano Michel Roccati, o qual havia perdido a capacidade de andar em um acidente de moto em 2017, com diagnóstico de paralisia completa da parte inferior do corpo. Agora, com o implante, ele pode se locomover pela cidade com um andador e ficar de pé para tomar banho. “No início, não conseguia mover os músculos das pernas e não sentia nada”, lembrou Roccati recentemente. “Estou livre”, acrescentou. “Posso andar onde eu quiser.”

“Michel consegue ficar em pé por duas horas e caminha quase 1 quilômetro em linha reta, sem parar”, além de subir e descer escadas, afirmou Courtine. “Quando a estimulação foi desligada, ele teve alguma recuperação, mas de forma muito limitada.”

A estimulação elétrica da coluna tem sido estudada há anos, mas não havia mostrado resultados tão imediatos. Em 2018, por exemplo, a Clínica Mayo, nos Estados Unidos, disse que um homem paralisado em um acidente de moto de neve conseguiu andar novamente com um implante espinhal, mas somente após 22 semanas de fisioterapia.

Os três participantes do estudo suíço perderam todos os movimentos voluntários abaixo do local de seus ferimentos, mas conseguiram dar passos em uma esteira no dia seguinte à cirurgia. “É um momento muito emocionante, porque [os pacientes] percebem que podem pisar”, disse Bloch.

Sem dor nem efeitos colaterais

Exercícios de fisioterapia e três a quatro meses de treinamento foram necessários antes que os pacientes pudessem completar ações como subir escadas ou caminhar 500 metros de forma independente, segundo a CNN. Enquanto isso, nenhum deles relatou qualquer dor ou efeitos colaterais desencadeados pela estimulação.

Courtine salientou: “Pela primeira vez, temos não apenas efeito imediato – embora o treinamento ainda seja importante –, mas também indivíduos sem sensação, sem movimento algum, foram capazes de recuperar a posição e andar independentemente do laboratório”.

De acordo com Bloch, a tecnologia desenvolvida quase certamente teria um efeito similar em pacientes femininas com paralisia. Mas há um fator limitador importante a se considerar no tratamento, que pesquisas futuras devem amenizar: “Precisamos de pelo menos 6 centímetros de medula espinhal saudável sob a lesão”, disse ela. “É aí que implantamos nossos eletrodos.”

Os pesquisadores suíços têm atualmente sua atenção voltada para os Estados Unidos. Segundo eles, a Food and Drug Administration (FDA), agência que regula medicamentos, aprovou uma designação de “dispositivos inovadores” para acelerar o processo pelo qual a tecnologia pode se tornar comercialmente disponível. Essa designação também garantiria a cobertura por meio do programa Medicare Coverage of Innovative Technology, caso ensaios clínicos maiores fossem bem-sucedidos. A expectativa dos suíços é iniciar um ensaio clínico de 50 a 100 pacientes dentro de alguns anos e, a seguir, um ensaio de 1.000 pessoas para obter a aprovação da FDA.