Jornais europeus citam investigação criminal contra o ex-ministro e relembram gestão que desmontou mecanismos de proteção ambiental e favoreceu madeireiros e garimpeiros.Financial Times – Renúncia do ministro do Meio Ambiente do Brasil aplaudida por ativistas (23/04)

Ricardo Salles, ministro brasileiro do Meio Ambiente, renunciou ao cargo nesta quarta-feira em uma decisão inesperada que foi comemorada por ativistas. Apelidado por oponentes de “ministro anti-meio ambiente”, Salles presidiu a pasta sob um forte aumento no desmatamento da floresta amazônica nos últimos dois anos. […] A renúncia de Salles ocorre em meio a uma investigação da Polícia Federalsobre alegações de que ele esteve em conluio com madeireiros ilegais para exportar madeira da Amazônia.

Salles era considerado um dos aliados ideológicos mais próximos de Jair Bolsonaro e raramente divergia do presidente em retórica ou ideias. Sua renúncia veio um dia depois de Bolsonaro parabenizá-lo publicamente, dizendo a Salles: “Não é fácil ocupar seu ministério”.

De acordo com dados do Inpe, o desmatamento na parte brasileira da Amazônia sofreu um aumentou de 67% no mês passado em comparação com o mesmo mês do ano anterior. Durante os primeiros cinco meses deste ano, o desmatamento aumentou um quarto em relação ao período correspondente do ano passado, para 2.548 quilômetros quadrados.

Assim como o presidente, Salles, um ex-advogado, era amplamente visto como simpático às legiões de madeireiros ilegais e garimpeiros de ouro que permeiam a floresta tropical. O Brasil está sofrendo com sua pior seca em quase 100 anos, com milhões enfrentando escassez de água e o risco de apagões de energia.

The Guardian – Ministro brasileiro do Meio Ambiente renuncia em meio a investigação sobre extração ilegal de madeira na Amazônia (24/06)

O ministro brasileiro do Meio Ambiente renunciou ao cargo em meio a uma investigação criminal sobre suposta obstrução de um inquérito policial sobre extração ilegal de madeira na floresta amazônica.

[Ricardo Salles] atuou como principal negociador do Brasil nas negociações com os EUA sobre um fundo para preservar a floresta amazônica, onde o desmatamento aumentou desde que o presidente de direita Jair Bolsonaro assumiu o cargo em 2019.

As negociações estagnaram, com a última reunião realizada há mais de um mês, de acordo com duas fontes familiarizadas com o assunto, que disseram não estar claro se o atraso está relacionado a Salles.

Salles e o presidente Jair Bolsonaro têm defendido abertamente o desenvolvimento na Amazônia, que os críticos dizem ter incentivado a grilagem de terras e a mineração ilegal em áreas protegidas.

Tagesschau – Ministro brasileiro do Meio Ambiente do Brasil deixa o cargo (24/06)

Salles era considerado o confidente mais próximo do gabinete de Bolsonaro, cuja política declarada é facilitar as condições de produção para a agricultura. A seu pedido, Salles cortou verbas para controles ambientais, principalmente na Amazônia. Falando a seus ministros em abril de 2020, ele propôs que aproveitassem a distração da mídia com a pandemia para afilar as normas ambientais.

Desde a posse de Salles, em janeiro de 2019, intensificaram-se as críticas pelo crescente desmatamento e pelo desmantelamento dos controles ambientais sob sua gestão. Sob ele, o desmatamento na Amazônia aumentou 9,5% de 2019 a 2020.

El Pais – Ministro brasileiro do Meio Ambiente do Brasil renuncia em meio à aceleração do desmatamento (24/06)

Ricardo Sallles renuncia semanas após a abertura de duas investigações policiais contra ele, uma por ligações com um caso de tráfico ilegal de madeira e outra por supostamente obstruir as investigações em um caso de desmatamento. Sua saída coincide com o renovado interesse ambiental dos EUA demonstrado pelo presidente Joe Biden e com um forte aumento nos alertas de extração ilegal de madeira na Amazônia, a maior floresta tropical do mundo.

No ano passado, a Amazônia perdeu 11.088 quilômetros quadrados de árvores, 9,5% a mais que no ano anterior. O balanço, divulgado em novembro passado, é o pior dos últimos doze anos. E alertas enviados mensalmente por satélite indicam que os números deste ano podem ser ainda piores.

Um dos momentos mais memoráveis ​​do mandato de Salles é uma frase proferida por ele durante um explosivo Conselho de Ministros em abril de 2020, cujo vídeo foi divulgado por despacho do Supremo Tribunal Federal. “Agora que estamos em um momento de tranquilidade porque a mídia está focada na covid, temos que aproveitar para passar a boiada e simplificar as regras”, disse na ocasião. No contexto, boiada significa flexibilidade por meio de mudanças legais na regulamentação ambiental para facilitar a expansão das pastagens para o gado.

El Mundo – Encurralado por investigação sobre contrabando ilegal de madeira, ministro brasileiro do Meio Ambiente renuncia (24/06)

O ministro, um dos favoritos de Bolsonaro, sempre esteve cercado de polêmica. Durante sua gestão, os órgãos do ministério responsáveis ​​pela ação penal contra crimes ambientais, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), foram praticamente desmantelados, fazendo com que hoje infratores dificilmente sejam multados.

O novo ministro do Meio Ambiente será Joaquim Alvaro Pereira Leite, subordinado de Salles no ministério e ex-membro da Sociedade Rural Brasileira (SRB). Sem um currículo específico na área ambiental, os órgãos ambientais temem que, mais uma vez, trate-se de um representante dos interesses do lobby agropecuário.

Não há muita esperança de que algo mude com a saída de Salles. A ex-ministra Marina Silva, que conseguiu reduzir o desmatamento na Amazônia a mínimos históricos, lembrou em suas redes sociais que Salles nada mais era do que o executor da política de Bolsonaro.

Além disso, as ameaças ao meio ambiente no Brasil não estão apenas no Poder Executivo. Na Câmara dos Deputados, cujo presidente (Arthur Lira) é aliado de Bolsonaro, estão em andamento diversos projetos de desregulamentação ambiental. Um deles é o PL/490, que, caso seja levado adiante, dificultará extremamente a demarcação de terras indígenas.

ip (ots)