Em meio à turbulência mundial provocada pela pandemia do coronavírus SARS-CoV-2, algumas características do planeta mudaram – para melhor. É impressionante, por exemplo, ver a queda na poluição atmosférica de lugares com céus tão carregados quanto os da China e da Índia (na Europa o benefício também é acentuado). A redução mundial generalizada de tráfego de veículos e pessoas nas cidades e nas estradas trouxe ainda outra vantagem: sem as vibrações que eles geram, há muito menos ruído sísmico no ambiente, revela o site da rede CNN. E, com isso, a crosta superior da Terra se move um pouco menos.

Um dos primeiros a salientar esse aspecto foi Thomas Lecocq, geólogo e sismólogo do Observatório Real da Bélgica. Segundo ele, Bruxelas, a capital belga, está observando uma redução de 30% a 50% no ruído sísmico ambiental desde meados de março, época em que o governo do país começou a implementar o fechamento de escolas e empresas e outras medidas de distanciamento social. O nível de ruído resultante é comparável ao registrado no dia de Natal, afirmou Lecocq.

Gráfico dos ruídos sísmicos ambientais em Bruxelas de 17 de fevereiro a 17 de março: viés de queda. Crédito: Seismologie.be/Twitter

Com isso, os sismólogos locais podem captar pequenos terremotos e outros eventos sísmicos que normalmente passariam despercebidos. Em tempos normais, segundo Lecocq, a estação sísmica de Bruxelas, construída há mais de um século e engolida pela expansão da cidade, é “basicamente inútil” (é por isso que é preferível instalar essas estações fora das áreas urbanas). Por isso, foi feita uma estação de poço separada, que usa um cano no fundo do solo para monitorar a atividade sísmica. “Mas, no momento, por causa da tranquilidade da cidade, [a estação mais antiga] é quase tão boa quanto a de baixo”, disse Lecocq.

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Avisos obedecidos

Colegas do belga de outros países têm constatado diferenças semelhantes, revela a CNN. No Reino Unido, por exemplo, Paula Koelemeijer postou no Twitter um gráfico mostrando como o ruído no oeste de Londres foi afetado, com quedas no período após o fechamento de escolas e espaços sociais britânicos e novamente após o anúncio de isolamento social feito pelo governo de Boris Johnson.

Gráfico postado por Paula Koelemeijer: quedas acentuadas do ruído no oeste de Londres após medidas do governo. Crédito: Paula Koelemeijer/Twitter

Nos Estados Unidos, Celeste Labedz, aluna de doutorado do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), publicou um gráfico mostrando uma queda especialmente acentuada em Los Angeles.

Lecocq ressaltou que os recentes gráficos que mostram o ruído humano são evidências de que as pessoas estão ouvindo os avisos das autoridades para permanecer em casa e reduzirem as atividades externas o máximo possível. “Do ponto de vista sismológico, podemos motivar as pessoas a dizerem ‘OK, pessoal. Vocês se sentem sozinhos em casa, mas podemos dizer que todos estão em casa. Todos estão fazendo o mesmo. Todos estão respeitando as regras’”, disse ele.

Os sismógrafos também são capazes de mostrar se a mobilidade urbana não está se adequando às necessidades, observou Raphael De Plaen, pesquisador de pós-doutorado da Universidade Nacional Autônoma do México (Unam). “Isso pode ser usado no futuro pelos tomadores de decisão para descobrir: ‘OK, não estamos fazendo as coisas direito. Precisamos trabalhar nisso e garantir que as pessoas respeitem isso, porque isso é do interesse de todos’.”