A astrologia é uma linguagem que usa uma série de símbolos para identificar as relações entre o homem e o universo. Seus pressupostos básicos estão fundados na ideia de que há uma correlação entre os movimentos cósmicos e os eventos terrestres, sejam coletivos, sejam individuais.

O zodíaco era considerado na antiguidade como “a alma da natureza”, uma vez que os signos e os planetas expressam motivações, impulsos e padrões de comportamento humanos.

Na Grécia, essas imagens tomaram a forma de figuras personificadas, como as divindades Zeus, Poseidon, Afrodite, Atena, etc.

À maneira da tradição astrológica, também os mitos surgiram espontaneamente como imagens e representações coletivas em diferentes épocas e culturas. Os mitos funcionam como um autorretrato criativo da psique humana. Assim, os temas astrológicos e mitológicos estão intimamente entrelaçados, uma vez que os deuses e seus atributos encontram respaldo nos símbolos da estrutura zodiacal. Essas imagens ou padrões humanos são aquilo que a psicologia analítica de Carl Jung chamou de arquétipos ou experiências arquetípicas. Estas são universais, pertencem a toda a humanidade, constituem a memória arcaica do homem e são dotadas de extraordinário dinamismo psíquico.

Por exemplo, na mandala zodiacal, o signo de Aquário é muito bem representado pelo titã (herói semidivino) Prometeu, aquele que tem o dom da antecipação, cujo intuito é libertar os seres humanos da sua natureza puramente instintiva e da submissão aos deuses.

Esse mito expressa um dilema crucial da consciência dos homens, que é a apropriação sem limites do conhecimento, o crescimento descontrolado, o progresso a qualquer custo, o domínio crescente da natureza pela tecnologia que está colocando a vida do planeta em risco. Não à toa, uma pergunta fundamental circula hoje de boca em boca: nossa civilização da produtividade e do consumismo insustentáveis está de fato promovendo o bem-estar e a felicidade humana?

Na mitologia, os titãs eram gigantes que pertenceram às primeiras gerações das divindades da Grécia. Prometeu era um deles, filho do também titã Jápeto e da oceânida Clímene. Seu nome significa “o que vê à frente”, ou “o previdente”. Tinha um irmão, Epimeteu, cujo nome significa “o que vê depois”, ou “o descuidado”. Um pensava antes de agir e era um estrategista; o outro agia antes de pensar, desfrutava o presente e era desprovido de reflexão.

Prometeu, por ter o dom da antecipação, sabia do resultado da grande batalha de Zeus contra seu pai, Cronos, e oportunamente tornou-se seu aliado, orientando-o nas estratégias para vencer a guerra. Também ajudou Zeus durante o nascimento de sua filha, Atena, que, depois de dores terríveis, saiu da cabeça de seu pai.

A deusa Atena, divindade ligada às estratégias da guerra, em agradecimento ensinou a Prometeu astronomia, matemática, arquitetura, navegação e outras artes. Assim, ele também passou a ensinar aos homens o que havia aprendido. Ao mesmo tempo idealista e pretensioso, trabalhava para elevar o ser humano acima de suas origens instintivas, pois seu intuito era torná-lo cada vez mais semelhante aos deuses.

Inquieto, Prometeu torturava-se com a injustiça que percebia ao seu redor: por que só os deuses tinham o monopólio do conhecimento? Por que os homens deveriam se contentar em viver eternamente dependentes dos poderes e dádivas divinas?

Decidido a solucionar a questão, Prometeu enganou Zeus. Num ritual de sacrifício, ele matou um boi enorme, que foi dividido em duas partes: a primeira tinha as carnes cobertas pelo couro do animal; a segunda tinha apenas os ossos cobertos com a gordura do boi. Zeus, levado pelas aparências, escolheu a segunda parte, mas, ao perceber que fora enganado, teve um ataque de cólera contra o titã. Seu castigo não se fez esperar: privou os homens do fogo, gritando: “Deixe que eles (os homens) comam carne crua!”

Prometeu entrou imediatamente em ação. Com a ajuda e proteção de Atena, subiu ao monte Olimpo, a sagrada moradia dos deuses, e acendeu uma tocha, tirando dela um pedaço de carvão em brasa que escondeu no tronco de uma árvore. A seguir, fugiu rapidamente para a terra com a chama sagrada, que entregou aos mortais.

Ao saber do roubo do fogo, Zeus sentiu-se mais uma vez enganado e aplicou em Prometeu um duro castigo. O titã foi acorrentado por Hefesto (ou Hefaísto; para os romanos, Vulcano), o deus ferreiro, filho de Zeus, a uma pilastra no monte Cáucaso, nos confins orientais do mundo. Como se não bastasse, uma águia enviada por Zeus devorava diariamente o seu fígado, e este voltava a crescer durante a noite. O flagelo continuaria assim, mês após mês, ano após ano, por toda a eternidade.

Implacável, Zeus castigou duramente também os homens. Ordenou a Hefesto que modelasse uma mulher em argila, que deveria ser bela e irresistível. Os quatro ventos sopraram a vida dentro dela e todos os deuses olímpicos a enfeitaram. De Hermes, recebeu o dom da palavra; de Afrodite, a sensualidade. E ganhou o nome de Pandora.

Pandora foi enviada a Epimeteu, que já havia sido avisado pelo previdente irmão para não receber nada que viesse de Zeus. Mas, irrefletido e impulsivo, Epimeteu não só se deixou encantar pela bela mulher como se casou com ela.

Pandora trouxera consigo uma caixa – o presente nupcial enviado pelos deuses. Na caixa estavam encerrados todos os males do mundo. Quando o noivo a abriu, dela saiu toda sorte de pragas e calamidades, as doenças, a velhice, os vícios, os medos, a inveja, os horrores das guerras, a depressão, a solidão.

Obama, protegido pelos deuses

Em seu mapa astrológico natal, Barack Obama, o atual presidente norte-americano, tem Júpiter no primeiro grau de Aquário. A 6 de janeiro de 2009, poucos dias antes da sua posse, Júpiter passou por este mesmo grau zodiacal. Isso pode indicar um fato auspicioso, na medida em que Obama está, ele mesmo, iniciando um ciclo pessoal de grande crescimento, de nova visão, de oportunidades e de otimismo diante da vida e do mundo. Com o apoio de Zeus e de Prometeu, Obama poderá fazer valer seu compromisso de uma conduta mais inteligente, de um espírito mais livre, mais humanista e arrojado na política social e econômica, tanto em seu país quanto no mundo. Ao pedir a participação de todos nesse grande esforço – tônica importante do seu discurso de posse –, o novo presidente evoca o princípio aquariano de solidariedade e fraternidade.

Epimeteu, apavorado, fechou a caixa, mas dentro dela restara apenas um “mal”: a Esperança. E foi ela que impediu a humanidade de se destruir completamente.

Tempos depois, com a anuência do próprio Zeus, Hércules matou a águia e libertou o audacioso Prometeu. Mas, é preciso lembrar: o titã nunca se arrependeu de seus feitos nem de ter sacrificado a sua própria liberdade em benefício dos homens.

Como na maioria das histórias da mitologia grega, o mito de Prometeu exemplifica a punição que se sofre quando se comete o pecado da hybris – o descomedimento ou arrogância. Para os deuses gregos, essa falha era a pior de todas, acarretando punições terríveis.

O fogo é o símbolo do espírito humano. Esse elemento foi fundamental para a evolução das civilizações. Possibilitou ao homem cozinhar seus alimentos, criar armas e ferramentas, proteger-se do frio. Por analogia, temos a imagem do fogo como luz, símbolo do progresso e da evolução da consciência. Sem o fogo, o homem estaria condenado a viver em grutas e cavernas e, portanto, na escuridão.

Prometeu representa o impulso pela vida civilizada, o anseio humano de avançar através da tecnologia; rebelde com causa, esse herói semidivino encarna o próprio princípio evolutivo, a inteligência humana que, ao desvendar os segredos da natureza, supostamente terá controle sobre ela. Prometeu abriu o caminho para que os homens pudessem alcançar o progresso e a civilização. O fogo roubado aos deuses nunca foi devolvido, significando, simbolicamente, que o conhecimento adquirido nunca mais se perde.

Durante quase todo este ano, o planeta Júpiter transitará por Aquário, o signo de Prometeu. Será esta uma visita de reconciliação? Pelo raciocínio astrológico, essa passagem significa que a mítica oposição entre Zeus e Prometeu será apaziguada ao longo deste ano. Assim sendo, aqui cabem algumas perguntas.

Poderiam o titã e o deus olímpico estabelecer em 2009 um diálogo criativo e inteligente, uma vez que ambos são idealistas e arrojados? E se eles pudessem compartilhar saberes benéficos aos homens, sem radicalismos nem punições divinas?

O caráter desse conflito tão bem delineado no mito de Prometeu certamente nos remete ao conflito natureza × progresso humano. Só que, durante o presente ciclo de Júpiter em Aquário, tal conflito poderá ser encarado de maneira mais inteligente e conciliadora.

Conhecimento é poder. Em nome do progresso e do desenvolvimento, nossa civilização – caracterizada mais que todas as outras pelo seu forte espírito “prometeico” – tem cometido estragos imensos. Nos últimos 100 anos, a ação humana contra a natureza foi devastadora. Será essa a nossa hybris iluminista e cientificista, pela qual já estamos pagando um preço tão caro?

Se Prometeu quer a libertação humana através do conhecimento, Júpiter, em Aquário, certamente não fará oposição a ele. No contexto astrológico, Júpiter expande e põe em evidência as características simbólicas do signo em que está. Aquário é o signo da fraternidade, da liberdade, da cooperação, da democracia, dos ideais e das reformas sociais, da tecnologia, do mundo virtual, da democratização do conhecimento – hoje mais do que evidente com o advento da internet. O saber, hoje, é generosamente compartilhado de forma instantânea. Organizações humanitárias e o terceiro setor ganham força e poder nos quatro cantos do planeta.

O momento presente, portanto, e segundo indica a astrologia, poderá ser bastante auspicioso: o conhecimento tecnológico tenderá a expandir o uso das energias alternativas como a solar, a eólica, a da biomassa, etc.

Ao mesmo tempo, grandes esforços serão voltados para se responder a perguntas cruciais, tais como: a ciência pode gerar ou prolongar a vida impunemente? O progresso pode prescindir da degradação ambiental?

Haverá uma percepção cada vez mais clara de que os excessos do consumo desenfreado, o esgotamento dos recursos naturais e das matériasprimas, o aquecimento global, a ganância descomedida e irresponsável constituem parte de uma mentalidade obsoleta que pede mudanças radicais e imediatas. Não é mais novidade que o processo civilizatório e suas promessas de bem-estar e felicidade geral não se cumpriram. Todos sabem que nossa hybris civilizatória é ecológica, moral e existencial, e que o caminho para uma mudança dessa trajetória já está sendo trilhado.

Apesar das brigas, Zeus e Prometeu têm muito em comum. Ambos são inteligentes e dotados de espírito generoso. Júpiter em Aquário pode ser uma promessa ou esperança para o conhecimento avançar com mais sabedoria e visão de futuro. Os novos conhecimentos nos guiarão para uma saída do atual impasse planetário, moral e espiritual.

O QUE HÁ PARA LER

Luigi Zoja, História da

arrogância – Psicologia e limites

do desenvolvimento humano

(Axis Mundi); Eduardo Gianetti,

Felicidade (Companhia das Letras).

(*) Tereza Kawall é psicoterapeuta e astróloga.

Blog: http://www.bliss1000.blogspot.com