Os gritos estridentes dos hiracoides – pequenos mamíferos herbívoros – reverberam durante a noite nas florestas da África Ocidental e Central. Mas seu som, dependendo da localização, é diferente.

Os hiracoides das árvores que vivem entre os rios Volta e Níger emitem um tipo de grito que é distinto das vocalizações estridentes dos hiracoides que habitam outras regiões da zona florestal africana.

Em 2009, durante uma expedição na Nigéria, pesquisadores notaram um som semelhante a um latido durante a noite. A fonte do “latido” era uma criatura nova para a ciência.

Espera de 12 anos

Demorou 12 anos para o ser responsável pelo som ser identificado. O resultado enfim foi apresentado na revista Zoological Journal of the Linnean Society. Uma equipe internacional de pesquisadores estudou 418 gravações de chamadas de hiracoides das árvores feitas entre 1968 e 2020 em 42 locais em 12 países. Simon Bearder, professor emérito da Oxford Brookes University (Reino Unido) e coautor do estudo, produziu ultrassonogramas de uma amostra das 96 gravações mais claras e completas, incluindo 34 da população entre o Níger e o Volta e 62 de populações de hiracoides arborícolas na África Ocidental, Central e Oriental, medindo sua duração, faixa de frequência e taxas de repetição, entre outras características.

A análise revelou que quase todas as chamadas gravadas entre os rios eram “latidos de chocalho” que diferiam dos gritos gravados no lado ocidental do Volta e no lado oriental do Níger. A nova espécie foi denominada Dendrohyrax interfluvialis.

Crédito: Universidade Yale

Barreiras biogeográficas

O vídeo acima apresenta primeiramente o “grito” de outra espécie de hiracoide, e depois, em contraste, o “latido” da espécie recém-descrita. Esse som teve um papel importante na identificação do novo mamífero. “Às vezes, um ouvido atento é tão importante quanto um olho atento”, disse Eric Sargis, antropólogo da Universidade Yale (EUA) e coautor do estudo.

“Há evidências crescentes de que os rios Níger e Volta são barreiras biogeográficas significativas para uma variedade de mamíferos”, afirmou John Oates, professor emérito de antropologia do Hunter College de Nova York (EUA) e autor correspondente do estudo. “Hiracoides, por exemplo, não atravessam a água facilmente. Então, faz sentido que, através de milhões de anos de mudança climática, conforme as florestas africanas se expandiram e se contraíram, novas espécies teriam se diferenciado em fragmentos de floresta isolados conhecidos como refúgios, e então foram limitados em sua dispersão subsequente por grandes rios.”