Por mais de uma década, os astrônomos tentam descobrir mais sobre as rajadas rápidas de rádio (FRBs, na sigla em inglês) – intensos e inexplicáveis flashes cósmicos de energia, a anos-luz de distância, que surgem por meros milissegundos. Apesar das centenas de registros dessas fontes enigmáticas, apenas quatro dessas explosões haviam tido sua localização precisa identificada. Agora há uma quinta, detectada por uma equipe de cientistas internacionais. A descoberta, que contou com oito telescópios que abrangem locais do Reino Unido à China, foi publicada na revista “Nature”.

+ ESA abre fábrica para extrair oxigênio de poeira lunar
+ Pior nevasca em 50 anos tinge de branco nordeste do Canadá – em fotos
+ TESS investiga colisão da jovem Via Láctea com galáxia anã

A meio bilhão de anos-luz da Terra, a fonte dessa rajada, denominada 180916.J0158+65 (para simplificar, FRB 180916), é sete vezes mais próxima do que a única outra rajada repetida de rádio localizada e mais de 10 vezes mais próxima que qualquer uma das poucas rajadas não repetidoras que cientistas conseguiram identificar. Os pesquisadores esperam que esta observação mais recente permita estudos adicionais que desvendem as possíveis explicações por trás de FRBs.

“Essa é a FRB mais próxima da Terra já localizada”, disse Benito Marcote, astrônomo do Instituto Conjunto do VLBI European Research Infrastructure Consortium (Holanda) e primeiro autor do estudo. “Surpreendentemente, foi encontrada em um ambiente radicalmente diferente daquele das quatro FRBs anteriores localizadas – um ambiente que desafia nossas ideias sobre qual poderia ser a fonte dessas explosões.”

Existem dois tipos principais de rajadas rápidas de rádio, explicou Kshitij Aggarwal, aluno de física da Universidade da Virgínia Ocidental (EUA) e coautor do artigo: repetidoras, que piscam várias vezes, e não repetidoras, eventos únicos. Essa observação marca apenas a segunda vez que os cientistas determinaram a localização de uma rajada rápida do rádio.

Galáxia espiral

Mas a localização dessa explosão não é tão importante quanto o tipo de galáxia em que foi encontrada, que é semelhante à nossa, disse Sarah Burke-Spolaor, professora assistente de física e astronomia da Universidade da Virgínia Ocidental e coautora do estudo. “Identificar a galáxia hospedeira para FRBs é fundamental para nos informar sobre em que tipo de ambientes as FRBs vivem e, portanto, o que realmente pode estar produzindo FRBs”, disse ela. “Esta é uma pergunta na qual os cientistas ainda estão tentando agarrar-se a qualquer coisa.”

“O que é muito interessante sobre essa FRB em particular é que ela está no braço de uma galáxia espiral semelhante à Via Láctea e é a mais próxima da Terra até agora localizada”, disse o professor de ciência da computação e engenharia elétrica Kevin Bandura, também da Universidade da Virgínia Ocidental e outro coautor do artigo. “A proximidade e a repetição únicas dessa FRB podem permitir a observação em outros comprimentos de onda e o potencial de um estudo mais detalhado para entender a natureza desse tipo de FRB.”

Usando uma técnica conhecida como interferometria de linha de base muito longa, a equipe alcançou um nível de resolução alto o suficiente para localizar a explosão em uma região de aproximadamente sete anos-luz de diâmetro – um feito comparável a um indivíduo na Terra ser capaz de distinguir uma pessoa na Lua. Com esse nível de precisão, os pesquisadores puderam analisar o ambiente em que a explosão emanava através de um telescópio óptico.O que eles descobriram adicionou um novo capítulo ao mistério em torno das origens das rajadas rápidas de rádio.

Várias origens

Essa explosão em particular ocorreu em um ambiente radicalmente diferente dos estudos anteriores, quando a primeira FRB foi descoberta em uma pequena galáxia anã que continha metais e formava estrelas, disse Burke-Spolaor.

“Isso encorajou muitas publicações a dizer que FRBs repetidas provavelmente são produzidas por magnetares (estrelas de nêutrons com campos magnéticos poderosos)”, disse ela. “Embora isso ainda seja possível, o fato de essa FRB quebrar a singularidade do molde anterior significa que precisamos considerar talvez várias origens ou uma gama mais ampla de teorias para entender o que cria as FRBs.”

Poucas FRBs foram captadas pelos instrumentos terrestres. Crédito: Danielle Futselaar, artsource.nl

“Nosso objetivo é localizar com precisão mais FRBs e, finalmente, entender sua origem”, acrescentou Jason Hessels, astrônomo do Instituto Holandês de Radioastronomia (ASTRON) e da Universidade de Amsterdã e coautor do artigo.