Em junho, dois aparelhos foram acionados para examinar o leito oceânico. 

O programa Argo está testando uma nova tecnologia que proporcionará uma compreensão mais ampla do papel do oceano em processos globais como as mudanças climáticas. Na Nova Zelândia, o Instituto Nacional de Pesquisa da Água e da Atmosfera (Niwa, na sigla em inglês) acaba de lançar duas sondas de grande profundidade para examinar o leito oceânico na Fossa de Kermadec, no sudoeste do Oceano Pacífico, numa iniciativa inédita para compensar a ausência de dados sobre essas regiões pouco exploradas. 

O Argo é parte do Sistema de Observação Global dos Oceanos (Goos, na sigla em inglês), que poderá revolucionar a compreensão científica sobre os oceanos. Graças a ele será possível olhar abaixo da superfície, registrando um perfil da temperatura, da composição e da salinidade dos mares. Um conjunto de 3.600 sondas planadoras subaquáticas capazes de flutuar, submergir e emergir dos oceanos de acordo com uma periodicidade preestabelecida, registrará os dados, se movimentando para cima e para baixo ao londo da coluna de água. Em ciclos de dez dias de operação, os aparelhos recolherão informações desde a superfície até 2.000 metros abaixo do nível do mar, transmitidas eletronicamente para satélites.

Mantidas por meio de cooperação internacional, as sondas farão observações ao longo do tempo, fornecendo dados sem precedentes sobre variações ao longo de períodos que vão de dias a décadas. As informações coletadas serão disponibilizadas sem custo e distribuídas à comunidade científica.  

Aquecimento real

Não há dúvida de que o oceano está se aquecendo nas profundezas e que esse aumento da temperatura é particularmente pronunciado no hemisfério sul (onde há mais massa oceânica). “Tem havido bastante especulação sobre a chamada pausa ou desaceleração recente do aquecimento da atmosfera”, afirma  Dean Roemmich, oceanógrafo do Instituto Scripps de Oceanografia.

“Percebemos, na verdade, que a temperatura da superfície do mar é altamente variável. Ao olharmos para os registros de calor, a temperatura média do oceano até 2.000 metros de profundidade, em vez de registrar uma pausa, mostra um aquecimento constante, num mesmo ritmo, ao longo dos últimos 50 anos. 

Segundo Roemmich, até agora os oceanos nos defenderam dos impactos das mudanças climáticas, porque absorveram 93% do excesso de calor. Como são profundos e difíceis de aquecer, funcionam como refrigeradores do clima. Mas precisamos saber o que acontece abaixo de 2.000 metros, fora do alcanse das sondas atuais.

A fim de expandir o conhecimento, sondas de grande profundidade estão sendo testadas para irem até o fundo, a 6.000 metros de profundidade. Equipadas com sensores avançados destinados a monitorar a temperatura e a salinidade, são dotadas de antena para se comunicar com satélites, quando emergem das águas. As sondas foram reprojetadas no Instituto Scripps de Oceanografia, em colaboração com a empresa Sea-Bird Electronics, que elaborou os sensores. 

Em junho passado, duas sondas de grande profundidade foram introduzidas pela primeira vez a leste da Fossa de Kermadec, pelo navio de pesquisa Tangaroa, do Niwa. Elas transmitiram com sucesso dados coletados a mais de 5.000 metros abaixo da superfície. “Essa é realmente a tecnologia de ponta que vai, pela primeira vez, nos permitir preencher a lacuna nos dados entre 2.000 metros de profundidade e o leito oceânico”, afirma Phil Sutton, oceanógrafo do Niwa. Após essa missão, a equipe pretende voltar em 2015 para implantar novas sondas de grande profundidade no sudoeste do Pacífico. 

 

Sonda de profundidade
A cada dez dias, os aparelhos do Argo completam um ciclo de operação no mar. Veja como funciona.