O estado malaio de Sabah, na parte norte da ilha de Bornéu, pode estar sendo palco de um peculiar caso de hibridização de animais selvagens. Segundo estudo publicado na revista International Journal of Primatology e abordado em artigo no site Live Science, uma fêmea que aparece em fotos no Santuário de Vida Selvagem de Lower Kinabatangan seria um híbrido de macaco-narigudo (Nasalis larvatus) e langor-prateado (Trachypithecus cristatus).

Segundo os pesquisadores que assinam o texto científico, casos de hibridização entre animais selvagens não são tão raros, mas o que chama a atenção aqui é a união de animais distantes. Acredita-se que essas duas espécies competem por espaço na floresta, que tem sofrido com a atividade humana.

A fêmea híbrida, ao que tudo indica, é capaz de procriar. Além de imagens de acasalamento entre espécies, há fotos recentes em que ela, já adulta, aparece com um filhote e aparenta estar em estado de lactação. A “suposta híbrida”, como os autores do estudo a denominam, apresenta características intermediárias entre N. larvatus e T. cristatus tanto na coloração quanto nas proporções dos membros.

A fêmea com seu provável bebê. Crédito: Lhota et al 2022, International Journal of Primatology, CC BY 4.0

Recursos reduzidos

A pesquisa foi bastante influenciada pela pandemia de covid-19, que obrigou os pesquisadores a adotarem uma abordagem alternativa para estudar o caso, mantendo uma distância segura dos animais. A opção foi recorrer a uma biblioteca de imagens de fotografias tiradas dentro do santuário em busca de informações sobre estilo de vida, aparência e relacionamentos dos macacos no local.

Os pesquisadores temem que o caso de hibridização seja o prenúncio de uma ameaça a uma espécie. Segundo eles, a devastação observada nas matas que margeiam o rio Kinabatangan fragmentou o habitat desses animais, reduzindo os recursos alimentares disponíveis. Com isso, os machos N. larvatus, maiores, poderiam tender a expulsar os machos T. cristatus, menores, de seus grupos, num quadro que desembocaria na extinção local destes últimos. Assim que as condições da pandemia permitirem, os cientistas pretendem entrar no local e coletar amostras fecais da “suposta híbrida” e outras informações sobre o que está ocorrendo lá.