Quatro dentes de macaco fossilizados descobertos nas profundezas da Amazônia peruana fornecem novas evidências de que mais de um grupo de primatas antigos cruzaram o Oceano Atlântico a partir da África, de acordo com uma pesquisa internacional liderada pela Universidade do Sul da Califórnia (USC) e publicada recentemente na revista “Science”.

Os dentes são de uma espécie recém-descoberta, pertencente a uma família extinta de primatas africanos, conhecidos como parapitecídeos. Fósseis descobertos no mesmo local no Peru haviam oferecido a primeira prova de que macacos sul-americanos evoluíram de primatas africanos.

Acredita-se que os macacos tenham feito a viagem de mais de 1.300 quilômetros em jangadas flutuantes de vegetação que se desprendiam do litoral, possivelmente durante uma tempestade.

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“Esta é uma descoberta completamente única”, disse Erik Seiffert, principal autor do estudo e professor de Ciências Anatômicas Integrativas Clínicas na Escola de Medicina Keck da USC. “Isso mostra que, além dos macacos do Novo Mundo e de um grupo de roedores conhecidos como caviomorfos, existe essa terceira linhagem de mamíferos que, de alguma forma, fez essa improvável jornada transatlântica da África à América do Sul.”

Os pesquisadores deram ao macaco extinto o nome Ucayalipithecus perdita. A denominação vem de Ucayali, a região da Amazônia peruana onde os dentes foram encontrados, pithikos, a palavra grega para macaco, e perdita, a palavra latina para perdido.

O Ucayalipithecus perdita teria sido muito pequeno, semelhante em tamanho a um sagui moderno.

Datando a migração

Os pesquisadores acreditam que o local onde os dentes foram encontrados é de uma época geológica conhecida como Oligoceno, que se estendeu de 34 milhões a 23 milhões de anos atrás.

Com base na idade do local e na proximidade do Ucayalipithecus com seus parentes fósseis do Egito, os pesquisadores estimam que a migração possa ter ocorrido cerca de 34 milhões de anos atrás.

“Estamos sugerindo que esse grupo pode ter chegado à América do Sul em torno do que chamamos de Fronteira Eoceno-Oligoceno, um período entre duas épocas geológicas, quando o manto de gelo da Antártida começou a se acumular e o nível do mar caiu”, disse Seiffert. “Isso pode ter contribuído para tornar um pouco mais fácil para esses primatas realmente atravessarem o Oceano Atlântico.”

Molares fósseis encontrados: semelhanças com os de parentes egípcios. Crédito: Erik Seiffert
Descoberta improvável

Dois dos dentes do Ucayalipithecus perdita foram identificados pelos coautores argentinos do estudo em 2015, mostrando que os macacos do Novo Mundo tinham antepassados ​​africanos. Quando foi solicitado a Seiffert que ajudasse a descrever esses espécimes em 2016, ele notou a semelhança dos dois molares superiores quebrados com uma espécie extinta de macaco parapitecídeo de 32 milhões de anos do Egito que ele havia estudado anteriormente.

Uma expedição ao sítio fóssil do Peru em 2016 levou à descoberta de mais dois dentes pertencentes a essa nova espécie. A semelhança desses dentes inferiores adicionais com os dentes de macaco egípcio confirmou a Seiffert que o Ucayalipithecus era descendente de ancestrais africanos.

“O que mais me impressiona neste estudo é o quão improvável é tudo isso”, disse Seiffert. “O fato de ser esse sítio remoto no meio do nada, de as chances de encontrar essas peças serem extremamente pequenas, de o fato de estarmos revelando essa jornada improvável que foi feita por esses macacos antigos, é bastante notável.”