Milhões de brasileiros seguem distantes de qualquer serviço de saneamento básico, o que impõe ainda mais desafios no enfrentamento da pandemia de covid-19 no país. O Instituto Trata Brasil divulgou ontem (22/3), no Dia Mundial da Água, o novo Ranking de Saneamento, que analisou dados das 100 maiores cidades brasileiras e do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) de 2019. De acordo com o levantamento, quase 35 milhões de pessoas não têm acesso a serviços de água tratada, sendo 5,5 milhões apenas nas maiores cidades do país. Aproximadamente 100 milhões de habitantes não contam com acesso à coleta de esgoto (21,7 milhões nas 100 maiores cidades). O Brasil ainda não trata metade dos esgotos que gera (49%), o que representa jogar na natureza, todos os dias, 5,3 mil piscinas olímpicas de esgoto sem tratamento.

Entre os 100 municípios analisados, Santos (SP) continua sendo aquele com maiores níveis de tratamento de esgoto e acesso a água potável do Brasil (posição que já ocupava desde o ano passado), seguido por Maringá (PR), Uberlândia (MG), Franca (SP), Limeira (SP) e Cascavel (PR) – todos nas regiões Sudeste e Sul. Na outra ponta, a cidade de Macapá (AP) obteve os piores resultados, acompanhada por Porto Velho (RO), Ananindeua (PA), São João do Meriti (RJ), Belém (PA) e Santarém (PA) – quase todas na região Norte. G1, Jovem Pan, Projeto Colabora e TV Cultura destacaram os principais dados desse levantamento. Já a “Exame” mostrou dados do SNIS e abordou a lacuna entre os investimentos feitos pelo poder público nos últimos tempos e aquilo necessário para resolver o drama do saneamento básico no Brasil.

Desafio do acesso

Em tempo 1: No “Valor”, Andrea Vialli abordou o tamanho do desafio do acesso à água potável e ao saneamento básico no mundo – pontos contemplados pelo 6º dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) para 2030. Segundo o Relatório de Desenvolvimento Mundial da Água da ONU, pelo menos 3 bilhões de pessoas (cerca de 40% da população global) continuam sem acesso a estruturas para higiene básica, mesmo depois da eclosão da pandemia. A segurança hídrica também é um problema, já que a intensificação da mudança do clima pode engrossar o contingente de pessoas com acesso prejudicado à água potável.

Esses dados também foram destacados por Marlova Jovchelovitch Noleto (Unesco), Rafael Zavala (FAO) e Carlo Pereira (Rede Brasil do Pacto Global) em artigo na “Folha”. No texto, eles reforçam a importância de se considerar o valor agregado da água para as diversas atividades econômicas como um caminho para combater a desigualdade no acesso a esses recursos. Vale a pena ler também o artigo de Carlos Bocuhy no site O Eco, no qual ele destacou a importância da água como instrumento de equilíbrio e paz mundial.

Em tempo 2: A Política Nacional para Pagamentos por Serviços Ambientais (PNPSA) pode ser uma arma importante para o Brasil resolver alguns dos problemas mais urgentes da gestão hídrica no país, a começar pela recuperação de áreas degradadas e a preservação de bacias e mananciais no país. Nicole Gasparini escreveu na “Época Negócios” sobre os caminhos para que a PNPSA avance com essa agenda, como a facilitação de novos investimentos em conservação ambiental e da implementação de metas socioambientais pelas empresas.