Pesquisadores que estudam a superfície de Vênus descobriram que estranhas manchas escuras na atmosfera afetam o clima do planeta. Um estudo internacional a esse respeito foi publicado nesta semana na revista “Astronomical Journal”.

Conhecidas há mais de um século, essas manchas diminuem e crescem ao longo do tempo, mudando suas distribuições e contrastes. Nunca houve explicação para elas.

“Tem-se sugerido que as partículas que compõem as manchas escuras são cloreto de ferro, alótropos [duas ou mais formas físicas] de enxofre, dióxido de dissulfureto e assim por diante”, afirma Yeon Joo Lee, pesquisadora da Universidade Técnica de Berlim (Alemanha) e autora sênior do estudo, em um comunicado. “(…) mas nenhuma delas, até agora, é capaz de explicar satisfatoriamente suas propriedades de formação e absorção.”

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Observações revelam que as partículas nessas manchas escuras parecem ter o mesmo tamanho e se comportam de maneira semelhante a microrganismos encontrados na atmosfera da Terra.

A soma de evidências levou alguns dos cientistas mais famosos do mundo, incluindo o biofísico Harold Morowitz e o astrônomo Carl Sagan, a especular que as manchas poderiam significar alguma forma de vida.

Mudanças na luz absorvida

A nova pesquisa trouxe explicações de como essas nuvens afetam o clima venusiano.

Os pesquisadores procuraram mudanças no albedo de Vênus (quanto da luz que atinge o planeta é absorvido por ele). Descobriram que ele parece variar bastante: entre 2006 e 2017, a quantidade de luz refletida de volta ao espaço caiu pela metade e depois começou a subir novamente.

Essas mudanças tiveram um efeito igualmente grande sobre a quantidade de energia solar que as nuvens absorveram e, portanto, quanta circulação havia na atmosfera do planeta. A atividade era vigorosa, com nuvens que giravam a mais de 320 quilômetros por hora, e poderia ser explicada por essas mudanças nas nuvens.

No entanto, os cientistas ainda não sabem por que essas mudanças dramáticas estão acontecendo.

O fluxo e refluxo das misteriosas manchas escuras no topo das nuvens de Vênus, apelidadas pelos cientistas de “absorventes desconhecidos”, estão perto do topo da lista de suspeitos e podem, de fato, desempenhar um papel importante nessas mudanças, dizem Lee e Sanjay Limaye, cientista planetário da Universidade de Wisconsin-Madison (EUA) e coautor do trabalho. O nevoeiro acima das nuvens e composto de partículas menores, acrescentam, pode fazer Vênus parecer ainda mais brilhante.

“Isso sugere que algo está mudando”, diz Limaye. “Podemos ver a mudança no brilho. Se o albedo está mudando, algo está direcionando essas mudanças. A questão é: qual é a causa?