O primeiro traje biônico comercial reabilitador do ato de caminhar já está disponível nos Estados Unidos e na Europa.

laire Lomas, 32 anos, era hipista até sofrer um acidente trágico quando cavalgava, em 2007. Ficou paraplégica, encontrou novos hobbies e recentemente completou a Maratona de Londres andando (42 quilômetros). Percorreu uma média diária de 2,5 quilômetros usando um traje pouco convencional, o exoesqueleto ReWalk, desenvolvido pela empresa israelense Argo Medical Technologies.

Claire completou a corrida em 16 dias. Foi a última colocada, mas teve ótimos motivos para comemorar. Além de ser ovacionada pelo público e superar mais uma prova em sua vida, conseguiu arrecadar R$ 520 mil para a Spinal Research, uma organização que faz pesquisas para a melhoria na qualidade de vida de pacientes que sofreram lesão na coluna. Quedas e batidas de carro são acidentes a que todos estão sujeitos e podem virar a cabeça de qualquer um. Quem sabe bem disso é o engenheiro israelense Amit Goffer, criador do ReWalk, paralítico desde um acidente de carro, em 1997. Infelizmente, Goffer não pode se beneficiar de sua criação, pois não tem autonomia completa do movimento nos braços, um dos pré-requisitos para o uso do ReWalk.

O inventor, entretanto, já garantiu melhoria na vida de muitos deficientes físicos. Segundo Goffer, uma das maiores contribuições do seu traje é a recuperação da autoestima. Quando se está numa cadeira de rodas, a pessoa torna-se literalmente diminuída, fica fisicamente mais baixa que os demais e isso gera também desconforto psicológico. A possibilidade de conversar com os amigos de pé já pode fazer com que o deficiente se sinta melhor. “O ReWalk permite levantar, caminhar, subir e descer escadas e se locomover em superfícies irregulares”, explica John Frijters, do departamento de desenvolvimento de negócios da Argo. “Durante o desenvolvimento, damos muita atenção à independência do usuário, que está sempre no comando do sistema.”
Antes da maratona em Londres, Claire escreveu no seu blog: “Lesão na coluna não significa apenas não poder andar. Também afeta sua sensibilidade, seu funcionamento intestinal e urinário, a circulação, a temperatura, o sexo e a densidade óssea”.

Menos dor

Para quem ficou paralítico, ficar de pé e andar traz vários benefícios como alongar a coluna e trabalhar e fortalecer os músculos do abdômen e das pernas. Com o intuito de usar o exoesqueleto para amenizar os efeitos secundários da paralisia, alguns centros de saúde já adotaram a terapia experimental com o ReWalk. Um deles é o MossRehab, da rede de saúde Albert Einstein, na Filadélfia, Estados Unidos.

Nesse centro, um grupo de 20 pessoas utiliza o ReWalk durante cerca de uma hora, três vezes por semana. “Os benefícios notados são o aumento da movimentação, a diminuição de espasmos e a redução das dores. Outras melhorias, como aumento de resistência cardiovascular, bom funcionamento do sistema intestinal e densidade óssea, estão sendo estudadas”, conta Alberto Esquenazi, médico do MossRehab. Embora não haja evidências médicas de longo prazo, já que o ReWalk foi aprovado pelo órgão regulador norte-americano Food and Drug Administration (FDA) apenas em 2011, há muita expectativa em relação aos seus benefícios no dia a dia.

O ReWalk é composto de um par de estruturas de alumínio motorizadas que dão sustentação para pernas, joelho e quadril; um computador instalado nas costas, como se fosse uma mochila; sensores; muletas; e um painel de controle fixado no braço. O usuário aperta o botão correspondente à função que deseja executar (levantar, sentar, andar e subir ou descer escadas) e o sistema lê a intenção de executar o movimento. O ReWalk reconhece o impulso dos primeiros passos graças aos sensores que captam mudança do centro de gravidade. Assim, o aparelho sabe quando se mover e parar.

Com o esqueleto auxiliar, o usuário conquista maior autonomia dos movimentos. Em teoria, parece simples de usar. Mas Claire garante que manter o equilíbrio e dar o primeiro passo é mais complicado do que aparenta. “É difícil conciliar tudo: inclinação da pélvis, deslocamento do peso, muletas no local certo e olhar para a frente. Eu, por exemplo, tenho tendência a querer olhar para baixo para ver onde meus pés estão. É difícil confiar que suas pernas lhe deixarão de pé se você não consegue senti-las”, explica. A postura na hora de caminhar também é importante, senão grande parte do esforço de andar vai para os braços.

Os treinos do ReWalk devem ser feitos em locais especializados, com terapeutas e supervisão médica apropriada, por meio de exercícios de equilíbrio, de ficar de pé, de sentar e de caminhar. A quantidade de sessões depende de cada um. “Aprender a usar o ReWalk é como tirar carta de motorista. Alguns aprendem mais rápido; outros, menos. Uma vez que seu médico confirmar que você o usa com segurança, então, pode adquirir o modelo ReWalk-P para uso diário”, explica Frijters.

Atualmente, o modelo disponível é o “I” (de “Institucional”), usado em centros terapêuticos, que dispõe de grande quantidade de ajustes para ser usado por muitos tipos de usuários. Já o modelo “P” (de “Pessoal”) será destinado ao comércio e ao uso doméstico e virá com as especificações de cada cliente.  O custo estimado é de aproximadamente R$ 135 mil.

O ReWalk-P deve chegar ao mercado no fim de 2012, nos Estados Unidos e na Europa, mas já há encomendas feitas. “No futuro, acredito que haverá maior interação homem-máquina, com novos sistemas assistindo funções humanas como subir escadas e se alimentar. A tecnologia também será menos cara e mais simples de ser usada”, afirma Esquenazi.