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Para dar o devido conteúdo ao Ano de Rondon, decretado pelo governo de Mato Grosso em comemoração aos 150 anos de nascimento de Cândido Mariano da Silva Rondon (completados em 2015), o fotógrafo Mario Friedlander colocou todo seu empenho. Há mais de um ano, ele iniciou um levantamento da história desse que foi um dos maiores sertanistas, indigenistas, etnólogos, antropólogos, cartógrafos e ecologistas do Brasil.

Antes de começar a clicar, Friedlander reuniu uma equipe de mais de dez pessoas para pesquisas iconográficas e bibliográficas dos 40 anos que o marechal Rondon passou desbravando o Mato Grosso Histórico – já que Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rondônia formavam um mesmo estado. “Quanto mais eu mexo, mais parece que estou só arranhando a superfície desse super-homem nacional.”

O fotógrafo percorreu 25 mil quilômetros, visitando alguns dos locais atravessados pelas expedições da Comissão Rondon para instalar linhas telegráficas ligando a região Centro-Oeste. Rondon aproveitou aquelas ocasiões para mapear os territórios percorridos e carregou seu lema de respeito aos povos tradicionais: “Morrer se preciso for, matar nunca”. Essa atitude fez com que ficasse conhecido como Marechal da Paz e estabeleceu diretrizes políticas que orientaram a política indigenista brasileira por décadas.

A primeira parte do projeto de Friedlander foi entregue em agosto: a exposição fotográfica Paisagens de Rondon, inaugurada juntamente com o Memorial Rondon, em Mimoso (a 123 km de Cuiabá), mostrando um paralelo entre o passado e o presente das pegadas e da herança arquitetônica deixadas por Rondon pelo caminho que percorreu. Ele segue trabalhando em um extenso relatório e pretende dar continuidade ao percurso. “Meu objetivo é reativar a memória de quem foi Rondon.”

AUTO-RETRATO

Enquanto a história de Rondon na região começou em 1890, a de Friedlander teve início em 1980, mas ambos conseguiram conhecer o Centro-Oeste em seu estado mais selvagem e paradisíaco. Friedlander mudou-se de São Paulo para a Chapada dos Guimarães com as primeiras comunidades esotéricas que se instalaram ali. “Eu era muito dedicado ao espiritualismo, mas vi que estavam destruindo tudo e que era preciso tomar uma atitude.” Começou a registrar essas mudanças com uma câmera simples e descobriu que, por meio da fotografia, podia atingir mais pessoas.

“As fotos viraram uma arma de guerra, porque aquilo se tornou­ uma guerra mesmo. Peitamos muita gente – latifundiários, incorporadores –, derrubamos mui­ta casa.” Foram sete anos para conseguir que o Parque Nacional da Chapada dos Guimarães fosse decretado, em 1989, e outros sete para que ele passasse a existir de fato. Mesmo assim, Friedlander reconhece que, apesar de importantes, os parques em geral são pequenos e mal funcionam no Brasil. “São gotas de água em um oceano. O Mato Grosso já foi todo destruído dos anos 1970 para cá. Só sobreviveram as áreas indígenas, são os índios que estão garantindo a permanência da natureza”, argumenta.

Para ele, a escala temporal do homem ‘civilizado’ é muito rasa. “As pessoas alegam estar instaladas em um lugar há 40 anos, como se fosse muito tempo, mas quando elas saem, aquele espaço serve como um parque por várias gerações. Aprendi com os índios a ter uma visão diferente: eles pensam em 400 anos – e não em 40.” O próprio fotógrafo – que, aliás, teve suas primeiras fotos publicadas na imprensa em PLANETA, nos anos 1980 – possui uma reserva florestal particular, onde trabalha o ecoturismo.