Bioma se destaca em levantamento de locais onde as novas florestas proporcionariam os maiores benefícios para o clima, a água e a vida selvagem

 

Uma equipe internacional de pesquisadores identificou mais de 100 milhões de hectares cujas florestas tropicais foram desmatadas, nas Américas Central e do Sul, África e Sudeste da Ásia, que apresentam as oportunidades mais convincentes de restauração para mitigar a mudança climática, a escassez de água e a extinção da vida vegetal e animal. Seu estudo foi divulgado esta semana pela revista “Science Advances”.

Brasil, Indonésia, Madagascar, Índia e Colômbia têm a maior área acumulada de hotspots de restauração – áreas que maximizam os benefícios e viabilidade de restauração. Seis países africanos – Ruanda, Uganda, Burundi, Togo, Sudão do Sul e Madagascar – abrigam as áreas que apresentam as melhores oportunidades de restauração, em média.

“Restaurar florestas tropicais é fundamental para a saúde do planeta, agora e para as próximas gerações”, disse o principal autor do estudo, Pedro Brancalion, da USP. “Pela primeira vez, nosso estudo ajuda governos, investidores e outros que buscam restaurar florestas tropicais em escala global a determinar locais precisos onde a restauração de florestas é mais viável, duradoura e benéfica. Restaurar florestas é hoje imprescindível – e é factível”.

Os 12 autores do estudo “Global restoration opportunities in tropical rainforest landscapes” usaram imagens de satélite de alta resolução e as mais recentes pesquisas científicas sobre quatro benefícios da restauração (biodiversidade, mitigação e adaptação às mudanças climáticas e segurança hídrica) e três aspectos da viabilidade da restauração (custo, risco de investimento e a probabilidade de florestas restauradas sobreviverem no futuro) para atribuir uma pontuação de oportunidade de restauração a cada trecho de 1 quilômetro quadrado distribuído em toda a região tropical.

 

Mais benefícios, menos gastos

Foram consideradas hotspots de restauração as áreas colocadas entre as 10% de maior pontuação dentre todas as avaliadas no mundo, o que significa que restaurá-las seria o mais benéfico e o menos dispendioso e arriscado.

  • Os 15 principais países com a maior áreas de hotspots de restauração foram encontrados em todos os biomas ou zonas florestais tropicais: três nos Neotrópicos, cinco nos Afrotrópicos e sete na Indo-Malásia e Australásia.
  • Os cinco países com maior área de hotspots de restauração são Brasil, Indonésia, Índia, Madagascar e Colômbia.
  • Os seis países com a maior pontuação média são africanos: Ruanda, Uganda, Burundi, Togo, Sudão do Sul e Madagascar. “Ficamos surpresos ao encontrar tal concentração de países altamente classificados em um único continente”, disse a coautora Robin Chazdon.
  • Cerca de 87% dos pontos críticos de restauração foram encontrados em hotspots para a conservação da biodiversidade, áreas que mantêm altas concentrações de espécies não encontradas em nenhum outro lugar, mas que apresentam alto risco de serem destruídas pela ação humana.
  • A Mata Atlântica foi o hotspot global para a conservação da biodiversidade com a maior área de hotspots para a restauração, destacando a grande oportunidade que esse bioma apresenta para receber investimentos internacionais de restauração.
  • Dos hotspots de restauração, 73% foram encontrados em países que assumiram compromissos de restauração junto ao Bonn Challenge, um esforço global para restaurar 150 milhões de hectares de paisagens florestais desmatadas e degradadas no mundo até 2020, e 350 milhões de hectares até 2030. “É encorajador que tantos hotspots da restauração estejam localizados em países onde a restauração de florestas e paisagens já é uma prioridade”, disse Brancalion.

 

Complementaridade em vez de competição

Na maioria dos casos, os hotspots de restauração se sobrepõem a plantações e pastagens atualmente em uso pelos agricultores. Como resultado, o estudo mostra que a restauração de florestas é mais viável em terras de baixo valor para a produção agrícola.

Alternativamente, os pesquisadores argumentam que a restauração pode ser associada a formas de produção geradoras de renda, por exemplo, enriquecendo pastagens com árvores, colhendo produtos baseados na floresta, como madeira, e cultivando café ou cacau sob uma copa florestal.

Quaisquer decisões sobre mudanças no uso da terra devem envolver totalmente as comunidades locais, uma vez que a restauração deve complementar – em vez de competir com – a segurança alimentar e os direitos à terra. Em outros casos, esses hotspots incluem áreas abandonadas e degradadas ou terras públicas.

“A restauração envolve muito mais do que simplesmente plantar árvores”, disse Chazdon. “Começa com a necessidade de acordos mutuamente benéficos com aqueles que atualmente usam a terra e não termina até que as florestas hospedem a rica diversidade de plantas e animais que as tornam tão inspiradoras e valiosas. Felizmente, estudos mostram que não leva muito tempo para que os benefícios das novas florestas voltem a serem obtidos.”