No contexto da prática de meditação, os meditadores podem experimentar um estado de “consciência pura” ou “atenção pura”, no qual percebem a consciência em si. Esse estado pode ser experimentado de várias maneiras, mas evidentemente incorpora sensações específicas, bem como percepções, sentimentos e pensamentos não específicos que o acompanham. Essas são apenas algumas das descobertas de uma recente pesquisa com meditadores sobre a experiência da consciência pura. Os resultados da pesquisa foram publicados na revista PLOS ONE.

O estudo foi conduzido pelo professor Thomas Metzinger, do Departamento de Filosofia da Universidade Johannes Gutenberg de Mainz (Alemanha), e pelo dr. Alex Gamma, do Hospital Psiquiátrico da Universidade de Zurique (Suíça). Eles elaboraram um questionário online com mais de cem perguntas e pediram a milhares de meditadores em todo o mundo que o respondessem. “O objetivo de nossa pesquisa não era aprender mais sobre meditação. Estamos interessados ​​na consciência humana”, disse Metzinger. “Nossa hipótese de trabalho era que a consciência pura é a forma mais simples de experiência consciente. E nosso objetivo era desenvolver um modelo mínimo de explicação da experiência da consciência humana com base nessa hipótese.”

O estudo faz parte do projeto internacional Minimal Phenomenal Experience (MPE), liderado por Metzinger.

Doze grupos

Disponibilizado em cinco idiomas – alemão, inglês, francês, espanhol e italiano –, o questionário online foi preenchido por aproximadamente 3.600 meditadores em 2020. Além de perguntas sobre os próprios participantes, como sexo, idade e técnicas de meditação utilizadas, o questionário consistia em 92 questões sobre sua experiência de consciência pura. Instruindo os meditadores a selecionar e focar em uma experiência particular de consciência pura, o questionário incluía perguntas como: “Você teve sensações de temperatura?”, “Você estava de bom humor?” ou “Você teve pensamentos?”. Cada uma delas poderia ser respondida em uma escala de “não” a “sim, muito intensamente” por meio de uma barra deslizante.

Dos questionários que Metzinger e Gamma receberam de volta, 1.400 foram preenchidos na íntegra e, portanto, poderiam ser usados ​​para a chamada análise fatorial. Eles empregaram esse tipo de avaliação estatística para identificar grupos de perguntas que eram frequentemente respondidas de maneira semelhante. “Isso nos levou a identificar 12 grupos, o que por sua vez nos permitiu nomear 12 fatores que caracterizam a consciência pura”, explicou Metzinger. “De acordo com esse esquema, as características típicas da consciência pura parecem ser, por exemplo, a percepção do silêncio, clareza e uma consciência alerta sem autoconsciência egoica. Tempo, esforço e desejo, que certamente podem ocorrer em paralelo, são experimentados um pouco menos explicitamente.”

Metzinger prosseguiu: “Com base nesses 12 fatores, podemos agora desenvolver um modelo mínimo prototípico da consciência humana”.

Além disso, o estudo abre vários caminhos para pesquisas futuras. Neurocientistas dos EUA, Austrália e Suíça, por exemplo, já indagaram se podem usar o questionário para suas próprias pesquisas.

De sua parte, Metzinger espera descobrir se a consciência pura – isto é, a qualidade da consciência em si – também é experimentada em outras situações além da meditação. “As respostas que recebemos também incluíram relatos pessoais sugerindo que a consciência pura também é experimentada em outras situações, como durante acidentes e doenças graves, no limiar entre o sono e a vigília, ou quando a pessoa estava imersa em brincadeiras quando criança”, afirmou ele.