Espécies como pumas e linces retraem-se com a presença humana, enquanto suas presas habituais sentem-se mais livres

 

Os seres humanos são as principais ameaças a muitas espécies selvagens, e nossa mera presença pode criar uma “paisagem do medo”, segundo artigo de pesquisadores da Universidade da Califórnia (UC) em Santa Cruz e da Western University (Canadá) publicado na revista “Ecology Letters”.

O medo dos humanos reduz a movimentação e a atividade de carnívoros como pumas, linces e gambás. Com isso, pequenos mamíferos caçados por eles, como roedores, percebem que há no ambiente um risco menor para si e passam a procurar alimentos em pontos mais distantes e de modo mais intenso.

“Os humanos são tão assustadores para os pumas e pequenos predadores que estes restringiam seu comportamento e mudavam a forma como usavam seus habitats quando pensavam que estávamos por perto”, disse Justin Suraci, principal autor do estudo e pesquisador de pós-doutorado da UC Santa Cruz.

“Esse é o primeiro experimento em grande escala que conheço que documenta como o medo atravessa a teia alimentar dos principais predadores até a menor presa”, afirmou o coautor Chris Wilmers, professor de estudos ambientais da UC Santa Cruz e diretor do Projeto Santa Cruz Puma.

A pesquisa revela que a presença de humanos pode ter efeitos bastante profundos, mesmo que não haja atividades nem infraestrutura como caça, moradia ou estradas, afirmou Wilmers, que estuda as interações entre humanos e animais selvagens na Califórnia, na África e em outros lugares.

 

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Suraci e Wilmers projetaram um experimento que usava gravações de vozes para avaliar os efeitos do medo causado pelos seres humanos em dois pontos das montanhas de Santa Cruz fechados ao acesso público. Os alto-falantes empregados transmitiam gravações de vozes humanas e o coaxar de sapos como controle.

Ao som de vozes humanas, os pumas reduziram significativamente sua atividade, mantendo distância e diminuindo seus movimentos. Já durante as gravações de sapos, eles se moviam pelo terreno normalmente.

Com vozes humanas no ambiente, os linces se tornaram bem mais noturnos, enquanto os gambás reduziram em 66% o tempo dedicado à busca de alimento. Já o Peromyscus, um pequeno roedor, expandiu suas atividades em uma área 45% maior, e a intensidade de procura de comida mostrada por camundongos subiu 17%.

“Somos grandes predadores e, portanto, uma fonte de medo para muitas dessas espécies”, afirmou Suraci. “O que é novidade nesse estudo é que podemos ver como esse medo se parece no ambiente em uma escala relativamente grande.”