O DNA de hominídeos extintos, como neandertais e denisovanos, está presente em muitas pessoas. Uma nova pesquisa, publicada na revista “Science”, mostrou que, pelo menos em determinados casos, essa presença ocorre em trechos bem maiores do que se supunha.

Todos os humanos cuja ascendência primária estava fora da África portam DNA de neandertais. Já muitas pessoas da Ásia possuem DNA dos denisovanos. No entanto, os estudos feitos até recentemente concentraram-se em pequenos pedaços de DNA, verificando alterações em apenas uma ‘letra’ do código genético.

Evan Eichler, da Universidade de Washington, em Seattle (EUA), e sua equipe decidiram ampliar esse foco e analisar mais detalhes. As mudanças em larga escala flagradas nos genes (denominadas “variantes do número de cópias”, cuja abreviatura em inglês é CNVs) implicam efeitos mais importantes na biologia humana.

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Eichler e sua equipe analisaram o DNA de pessoas da Melanésia (região do oeste da Oceania), pois os níveis de DNA de neandertais e denisovanos são mais altos nessas populações. Cerca de 3% a 5% dos genomas melanésios vêm de pares antigos com os denisovanos, e outros 1% a 3% têm origem nos neandertais.

Ao todo, Eichler e sua equipe identificaram 37 CNVs na amostra melanésia. Dezenove deles eram de humanos arcaicos.

Vantagens ainda desconhecidas

Duas das CNVs mais complexas foram descritas no estudo. Uma, no cromossomo 16 (inexistente na maioria dos humanos, mas presente em 79% dos melanésios), vem de denisovanos e contém duas seções duplicadas. Outra, no cromossomo 8 (presente em 44% dos melanésios), provém dos neandertais e inclui uma exclusão e uma duplicação.

As duplicações permitem que o gene original seja mantido caso se mostrar útil. Já a cópia tem liberdade para mudar e potencialmente desenvolver uma nova função.

Ambos os pedaços de DNA mostram sinais de terem sido selecionados pela evolução. Eles podem ter sido vantajosos e, assim, se tornaram mais comuns na população melanésia ao longo dos séculos.

Quais teriam sido exatamente essas vantagens ainda é uma questão não esclarecida pelos pesquisadores. “Acho que o maior desafio é provar a função”, disse Eichler.