Em telefonema, líder alemã pede ao presidente russo que intervenha na crise migratória entre Belarus e a UE. Polônia acusa Putin de ser “verdadeiro mentor” por trás do transporte de migrantes à fronteira.A chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, conversou por telefone com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, sobre a crise migratória na fronteira entre Belarus e Polônia, e pediu que ele intervenha no impasse.

Merkel disse que a “instrumentalização de migrantes” por parte do regime belarusso é “desumana e inaceitável”, segundo relatou o porta-voz da Chancelaria alemã, Steffen Seibert, nesta quarta-feira (10/11).

De acordo com um comunicado do Kremlin, Putin sugeriu discutir as questões por meio de “contato direto entre os Estados-membros da União Europeia (UE) e Minsk”. Os dois líderes concordaram em prosseguir com conversações sobre o tema.

Paralelamente, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, afirmou que o diálogo é a única opção para resolver a crise. “Belarus já sugeriu repetidamente realizar consultas na fronteira, para conversas, para resolver essas questões com base no direito internacional”, disse.

Em coletiva de imprensa em Minsk, Vladimir Makei, um alto diplomata belarusso, afirmou que Belarus não é o problema, mas sim Bruxelas. “O problema é a UE, porque vemos – e estamos convencidos de – que a UE não tem estratégia em relação a Belarus. Sempre deve haver coragem para falar, mesmo em situações complexas”, disse.

Varsóvia, Minsk e Moscou trocam acusações

O telefonema entre Merkel e Putin foi realizado enquanto o impasse entre a Polônia e Belarus entra em seu terceiro dia – a fronteira entre os dois países está repleta de migrantes, que esperam poder ingressar na União Europeia.

Autoridades da UE avaliaram a situação como um coordenado “ataque híbrido” organizado pelo presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, e seu regime, em retaliação às sanções impostas por Bruxelas. As autoridades afirmaram que Belarus tem transportado migrantes – especialmente do Oriente Médio – para Minsk com vistos especiais – em muitos casos, de estudante – e levando-os até a fronteira da Polônia, entrada para a União Europeia.

Na terça-feira à noite, o primeiro-ministro polonês, Mateusz Morawiecki, acusou Putin de ser o “verdadeiro mentor” por trás da crise.

O Kremlin reagiu e disse que as acusações polonesas são “absolutamente irresponsáveis e inaceitáveis”. Tanto a Rússia quanto Belarus negaram qualquer irregularidade. Em vez disso, os dois governos afirmaram que a Polônia e a UE estão causando a crise ao recusarem a ajuda a potenciais requerentes de refúgio.

O que está acontecendo na fronteira?

A Polônia relatou nesta quarta-feira um aumento nas tentativas de violação da fronteira – as forças polonesas de segurança reprimiram e afastaram centenas de migrantes de volta para Belarus. Ao mesmo tempo, as autoridades relataram que alguns migrantes conseguiram furar o bloqueio e entrar em território polonês.

Entre 2 mil e 4 mil migrantes, suspostamente em sua maioria curdos, montaram um acampamento perto da barreira, depois de não terem conseguido burlá-la na segunda-feira.

“A situação não está calma”, disse o ministro da Defesa da Polônia, Mariusz Blaszczak, a uma rádio polonesa. “Agora estamos lidando com grupos menores – mas numerosos – que estão atacando simultaneamente a fronteira polonesa em vários lugares.”

Via Twitter, Blaszczak comunicou que agora há 15 mil soldados estacionados na fronteira, contra 10 mil antes do impasse.

pv (DPA, Reuters, AFP)