Muitos componentes de celulares e computadores não são renováveis e sua extração produz danos consideráveis para o ambiente e a saúde. Aprender a explorá-los de maneira sustentável é uma necessidade urgente.

Recursos críticos são aqueles considerados essenciais para o avanço tecnológico da sociedade. À medida que nos desenvolvemos, a demanda mundial por recursos não renováveis aumenta. 
Um único telefone móvel contém 40 componentes não renováveis, como cobalto, gálio, platina e terras-raras. Governos e agências internacionais identifi cam uma crise à frente do século 21: não é possível seguir a atual tendência na extração de recursos críticos. 

O problema é abordado por muitos projetos do Programa Internacional de Geociências 2014 (IGCP, na sigla em inglês), criado pela UNESCO em 2011, que destacam sua importância para a economia e o desenvolvimento global. É crucial entender a ocorrência geológica, a formação e a localização de elementos críticos, determinar os recursos futuros e quantifi car as reservas mundiais. 

Embora recursos não renováveis sustentem a economia e a nossa qualidade de vida, há controvérsias sobre as técnicas de extração e os danos ambientais, sobretudo na África, devido às pressões econômicas e à evolução mais lenta da consciência ambiental. Comunidades africanas já sofreram os efeitos nocivos das atividades de mineração e os impactos nos ecossistemas e na saúde pública.

Dois projetos apoiados pelo IGCP, Enfrentar o impacto ambiental e de saúde de minas grandes e abandonadas na África Subsaariana e Impacto da mineração sobre o meio ambiente na África, oferecem conhecimentos científicos e conselhos para governos e autoridades locais sobre controle da poluição, ordenamento do território e tecnologias para mitigar danos ambientais em áreas contaminadas. 

Responsável por mais de 20% da economia subsaariana, a mineração despejou por décadas metais tóxicos no solo e em águas superficiais e subterrâneas, afetando a cadeia alimentar de homens e animais. Alguns países subsaarianos não têm um inventário de minas abandonadas, o que exige avaliar regularmente os impactos na região. 

Há também países que carecem de informações básicas para distinguir entre fontes antropogênicas e naturais de metais em águas, solos e vegetação. Parâmetros ambientais estão, portanto, sendo fixados para avaliar o grau de contaminação dos solos e das culturas. A Unesco, ao lado da Agência Sueca para o Desenvolvimento Internacional, tem apoiado a pesquisa para definir a extensão dos danos causados por metais poluentes.  

Escola em perigo

Em 2013, foram examinadas dez situações de risco em nove países. No total, 800 amostras foram coletadas e analisadas em um respeitado laboratório, com resultados preliminares prometidos para maio. Um caso envolvia contaminação por chumbo, vanádio e zinco extraídos da mina abandonada Berg Aukas, na Namíbia. Uma escola agrícola para jovens ocupava os edifícios que haviam sido deixados no local e a área ao redor tinha cultivos. Após descobrir-se que o solo estava insalubre, a escola foi transferida. 

Outro projeto, em Kedougou, no Senegal, estuda a poluição por mercúrio resultante do garimpo de ouro. O sedimento circundante, a água e a fauna estavam contaminados, e o índice de mercúrio presente nos peixes superava os limites da Organização Mundial da Saúde. Além disso, detectou-se mercúrio em fi os de cabelo, confi rmando a contaminação humana e a urgência de educar a população local sobre os impactos do mercúrio no garimpo.

Projetos da Unesco melhoram a capacitação no monitoramento ambiental e nas ciências da Terra em geral, reforçam a capacidade das instituições na pesquisa de geociências, sensibilizam a opinião pública sobre os impactos da mineração na saúde ambiental e humana e facilitam a cooperação entre geocientistas, cientistas ambientais e médicos. A extração de recursos naturais é inevitável, mas deve ser feita de modo sustentável. As tecnologias de reabilitação e as ações corretivas para minas contaminadas devem ser desenvolvidas ao lado dos avanços da mineração, sobretudo nos países emergentes.