O dia 16 de julho de 2019 marca os 50 anos da decolagem da espaçonave Apollo 11, missão que realizou um dos maiores sonhos da humanidade: pousar na Lua.

Os preparativos para a missão levaram sete anos, entre o momento em que foi anunciada pelo presidente americano John F. Kennedy em 1962 até o dia da decolagem, em 1969. Na época do discurso de Kennedy, boa parte da tecnologia para colocar a missão de pé ainda não havia sido desenvolvida, e teve de ser criada nestes sete anos.

As inovações não apenas possibilitaram o vôo e pouso na Lua com sucesso, mas também foram incorporadas a outras áreas do conhecimento humano e colaboraram com nossas vidas aqui na Terra.

Conheça as principais tecnologias desenvolvidas pela missão Apollo 11 que ainda são utilizadas na Terra:

1 – Controles digitais de voo
Quando o programa Apollo começou, os pilotos controlavam os aviões mecanicamente, com cabos e hastes conectando seus instrumentos às superfícies de controle da aeronave, como as abas das asas e os lemes traseiros.

Para eliminar o erro humano e guiar o vôo com mais precisão durante uma viagem de três dias à Lua e um ousado pouso lunar, a NASA contratou a Draper Laboratories para construir um sistema de orientação por computador para o módulo de comando e o módulo lunar da Apollo.

O Sistema de Orientação, Navegação e Controle da Apollo converteu as entradas dos pilotos em sinais elétricos e os alimentou em um computador, junto com informações de vários sensores. O computador passou a decidir como ajustar os disparos de controle para alcançar o resultado desejado. Sendo digital, em vez de analógico, o computador pode fazer uso de software complexo e armazenar grandes quantidades de dados.

Esse tipo de controle hoje é parte integrante de qualquer avião e é também encontrado na maioria dos carros.

2 – Segurança alimentar
Um grande problema de missões espaciais é garantir que os astronautas estejam livres de micróbios que possam deixá-los doentes. Para a Apollo 11, a NASA recrutou a fabricante de alimentos Pillsbury para ajudar a desenvolver controles de qualidade capazes de garantir que os alimentos dados aos astronautas durante a missão estivem livrem desses agentes.

Em vez de checar os produtos finais para detectar problemas, a Pillsbury desenvolveu um sistema para assumir o controle de todo o processo de fabricação, desde a matéria-prima, passando pelo ambiente de processamento e até a distribuição. O sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (HACCP, na sigla em inglês) entrou em vigor nas primeiras missões à Lua e foi logo implementado nas próprias fábricas da Pillsbury.

Nas duas últimas décadas, o governo dos EUA exigiu que os produtores de carne, aves, frutos do mar e sucos usassem os procedimentos HACCP, e os mesmos princípios foram incorporados nas regulamentações mais recentes que estão sendo aplicadas em toda a indústria de alimentos hoje.

3 – Cobertores Espaciais
Para a missão Apollo 11, os cientistas da NASA precisavam criar trajes espaciais com um isolamento térmico muito eficiente.

Apollo 11
O “cobertor espacial”, com tecnologia desenvolvida pela NASA / Foto: Reprodução
Eles então criaram uma roupa feita de diversas camadas de folhas metalizadas de Mylar, uma película feita de poliéster. A NASA então passou a dominar essa tecnologia, melhorando sua força, técnicas de fabricação e procedimentos de testes, ajustando-a para o máximo desempenho.

Esse tipo de isolamento tem sido usado desde então em praticamente todas as espaçonaves e roupas espaciais da NASA, e tornou-se um produto generalizado encontrado em roupas, equipamentos de combate a incêndios e acampamento, isolamento de prédios, armazenamento criogênico e máquinas de ressonância magnética.

Os “cobertores espaciais” também são encontrados em kits de emergência e entregues no final das maratonas.

4 – Tecnologias à prova de terremoto
Uma tecnologia que começou com amortecedores e computadores da época da Apollo agora protege edifícios e pontes em todo o mundo contra terremotos.

Na preparação para a Apollo 11, a NASA contratou uma empresa que para construir um computador analógico baseado em sistemas hidráulicos. Para isso, a empresa pesquisou ciência de fluidos e desenvolveu um amortecedor hidráulico que superava facilmente o desempenho da tecnologia existente. Mais para frente, a NASA usou amortecedores com base nesses avanços para todos os lançamentos de ônibus espaciais.

Durante décadas essa empresa fabricou amortecedores de fluidos usando a mesma tecnologia, que agora reforça centenas de edifícios, pontes e outras estruturas em todo o mundo, especialmente em regiões propensas a terremotos.

5 – Aparelhos auditivos recarregáveis
Mesmo décadas após o pouso na Lua, novas tecnologias derivadas do programa Apollo continuam chegando ao mercado. O primeiro aparelho auditivo com baterias recarregáveis do mundo, que foi lançado em 2013, baseou-se no trabalho extensivo que a NASA realizou durante e após a Apollo.

Apollo 11
Aparelho auditivo recarregável com tecnologia desenvolvida pela NASA / Foto: NASA

O módulo de comando que foi para a Lua usava baterias de prata-zinco, o tipo de bateria mais leve conhecido. Mas a NASA também queria tornar as células recarregáveis, e os cientistas da agência passaram muitos anos experimentando separadores de células e eletrodos, aprimorando enormemente a tecnologia – embora ela nunca tenha chegado ao espaço. Uma empresa fundada em 1996 continuou esse trabalho da NASA, mas levou muito mais anos de trabalho para fazer um produto viável.

As pilhas dos aparelhos auditivos sempre foram descartáveis, porque as baterias de zinco que podem ser feitas pequenas o suficiente para eles não são recarregáveis. As baterias de íons de lítio não podem ser feitas em tamanho tão pequeno e sofrem com problemas relacionados ao superaquecimento.

Agora, as baterias de aparelhos auditivos de prata-zinco da empresa podem ter energia suficiente para durar o dia todo e podem ser recarregadas mais de 1.000 vezes sem perder o desempenho. Elas são até mesmo recicláveis.

Esse tipo de bateria também é usado em implantes auditivos ancoradas no osso e em fones de ouvido sem fio com cancelamento de ruído. É provável que vejamos muitas outras aplicações de baterias de prata-zinco no futuro.

O futuro
A NASA planeja uma nova missão tripulada à Lua para 2024. Mais uma vez, grande parte da tecnologia e infraestrutura necessárias para missões futuras ainda não existem. Por exemplo, a agência planeja extrair recursos da superfície lunar. Os engenheiros precisarão descobrir como transformar a água congelada na superfície da Lua em água potável, oxigênio e combustível para foguete.

Da mesma maneira, tecnologias criadas para essas futuras missões na Lua, serão um teste para o próximo grande salto da humanidade – enviar astronautas para Marte.