Os Estados Unidos lançaram hoje (30)** um novo robô para Marte, a fim de recolher amostras de rocha que só vão ser enviadas para estudo na Terra em 2031, dez anos depois de o engenho chegar ao Planeta Vermelho.

O lançamento foi feito a bordo de um foguete Atlas V, da base espacial norte-americana de Cabo Canaveral, na Flórida, às 8h50 desta manhã (horário de Brasília).

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Trata-se da primeira missão que pretende recolher amostras de rocha, solo e poeira de Marte com destino à Terra, sendo liderada pela agência espacial norte-americana, a Nasa. A agência já enviou outros robôs de exploração ao planeta, mas com outros fins.

Sinais bioquímicos

O robô Perseverance tocará a superfície do Planeta Vermelho cerca de sete meses depois, em 18 de fevereiro de 2021. Mais concretamente, o local será a cratera Jezero, onde teria existido um lago há 3,5 mil milhões de anos e um delta (foz de rio).

O local de aterrissagem é, por isso, considerado propício para a procura de sinais (bioquímicos) de vida microbiana passada em Marte. Esse é um dos objetivos da missão Mars 2020 Perseverance, uma vez que as moléculas orgânicas são muito bem preservadas por sedimentos de lagos e deltas.

Juntamente com o robô Perseverance, do tamanho de um carro, mas que tem seis rodas, um braço robótico, uma broca e vários instrumentos científicos, seguem os nomes de cerca de 11 milhões de pessoas de todo o mundo, registrados em três microchips, e um engenho voador, semelhante a um minúsculo helicóptero, que irá testar um voo controlado em outro planeta.

O veículo robótico deve o seu nome a um estudante do estado da Virgínia. Ele tem na sua bagagem amostras de tecido dos fatos espaciais, que serão testadas aos efeitos da radiação, e instrumentos que permitem caracterizar o clima e a geologia do planeta e validar um método de produzir oxigênio a partir da sua atmosfera, rica em dióxido de carbono.

Para a Nasa, a missão Mars 2020 Perseverance pode assim ajudar a desbravar o caminho para o envio de astronautas à superfície de Marte. Essa é uma ambição que os Estados Unidos pretendem concretizar (e que o ex-presidente Barack Obama chegou a admitir como sendo uma realidade na década de 2030), após conseguir ter novamente astronautas na Lua (a primeira missão tripulada de regresso à Lua, depois da última em 1972, está prevista para 2024).

Vestígios de vida

O robô Perseverance, equipado com câmaras e microfones, que permitem fornecer imagens e sons de sua aterrissagem e do seu trabalho em Marte, vai explorar o planeta durante aproximadamente dois anos. Ele está apto a recolher até 500 gramas de amostras de rocha, solo e poeira que se revelarem mais promissoras para a pesquisa de vestígios de vida.

As amostras serão acondicionadas pelo veículo em várias dezenas de tubos selados e “limpos” de contaminantes da Terra. Cada tubo pode um guardar 15 gramas de sedimentos ou pedaços de rocha. Os tubos serão depois escondidos no solo marciano, em locais estrategicamente escolhidos.

Será preciso, no entanto, esperar por 2031 para que as amostras sejam enviadas à Terra para serem analisadas pelos cientistas.

Uma nova missão, em que a Nasa terá como parceira a Agência Espacial Europeia (ESA), tem início previsto para julho de 2026, com o lançamento para Marte de um segundo veículo robótico, que vai recuperar os tubos das amostras recolhidas pelo Perseverance.

A Mars 2020 Sample Return (Retorno de Amostra) é a missão que completa a Mars 2020 Perseverance e a mais complexa e demorada.

Viagem de regresso

Depois de recuperadas pelo novo robô, que só chegará a Marte em agosto de 2028, mais tarde do que o tempo exigido para evitar as tempestades de poeira, as amostras terão de sair da superfície do planeta num recipiente transportado por um pequeno foguete antes de serem capturadas por uma sonda colocada na órbita de Marte.

A viagem de regresso da sonda – de fabricação europeia, tal como o robô – à Terra está prevista apenas para 2031. Na aproximação ao nosso planeta, o aparelho libertará uma cápsula que contém as amostras marcianas. Elas aterrarão em solo americano em 2032, de acordo com os prazos estimados.

Na superfície de Marte funcionam atualmente dois objetos exploratórios, ambos operados pela Nasa. O Curiosity é um veículo robótico com um laboratório que analisa localmente amostras de solo e rocha para aferir se Marte teve condições para albergar vida microbiana. Já o InSight é uma sonda equipada com uma broca e um sismógrafo para estudar o interior do planeta.

Apesar de inóspito, Marte é considerado o planeta do Sistema Solar mais parecido com a Terra. Estruturas geológicas demonstram que, há muito tempo, água líquida, elemento fundamental para a vida, era abundante na superfície do planeta.

Segundo os cientistas, Marte teve, no passado, um oceano maior do que o Ártico. Estudos indicam, com base em observações feitas em órbita e na superfície, a presença de água líquida salgada e gelada.

 

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** Matéria atualizada às 10h42 de 30 de julho de 2020.