Um novo estudo realizado por cientistas da Terra da Universidade Yale e do College of the Atlantic (ambos nos EUA) revelou uma grande extinção de tubarões há cerca de 19 milhões de anos. O evento surgiu em um período da história em que havia mais de 10 vezes mais tubarões patrulhando os oceanos do mundo do que hoje.

Por enquanto, os pesquisadores não sabem a causa da morte dos tubarões. “Essa extinção aconteceu quase por acidente”, disse Elizabeth Sibert, professora associada de pós-doutorado no Departamento de Ciências da Terra e Planetárias e no Instituto de Estudos Biosféricos da Universidade Yale. Ela é a autora principal do estudo, publicado na revista Science.

“Estudo microfósseis de dentes de peixes e escamas de tubarões em sedimentos do fundo do mar, e decidimos gerar um histórico de abundância de peixes e tubarões ao longo de 85 milhões de anos, só para ter uma noção da variabilidade normal dessa população no longo prazo”, disse Sibert. “O que descobrimos, porém, foi essa queda repentina na abundância de tubarões há cerca de 19 milhões de anos, e sabíamos que tínhamos de investigar mais.”

Sem mudanças importantes

Qual foi a dimensão do extermínio? Sibert disse que mais de 70% dos tubarões do mundo morreram – com uma taxa de mortalidade ainda maior para tubarões em mar aberto, em vez de águas costeiras. Foi o dobro do nível de extinção que os tubarões experimentaram durante o evento de extinção em massa do Cretáceo-Paleogeno, 66 milhões de anos atrás, que eliminou três quartos das espécies vegetais e animais da Terra – dinossauros incluídos.

Aumentando o mistério está o fato de que não há calamidade climática conhecida ou perturbação do ecossistema ocorrida na época da queda acentuada nas populações de tubarões. “Esse intervalo não é conhecido por nenhuma grande mudança na história da Terra”, disse Sibert, “mas transformou completamente a natureza do que significa ser um predador vivendo em oceano aberto”.

A coautora Leah Rubin, doutoranda na Faculdade de Ciências Ambientais e Florestais da Universidade Estadual de Nova York, era aluna do College of the Atlantic na época da pesquisa.

Pesquisas adicionais

“O estado atual do declínio das populações de tubarões é certamente motivo de preocupação. Este artigo ajuda a colocar esses declínios no contexto das populações de tubarões nos últimos 40 milhões de anos”, disse Rubin. “Esse contexto é um primeiro passo vital para entender quais repercussões podem se seguir ao declínio dramático desses predadores marinhos nos tempos modernos.”

As pesquisadoras notaram que as descobertas anteriores de eventos de extinção levaram a várias novas pesquisas para aprender as origens da extinção e se ela sinalizava uma perturbação maior, até então desconhecida, nos ecossistemas globais.

Por exemplo, pesquisas adicionais podem confirmar se o extermínio fez com que as populações remanescentes de tubarões mudassem suas preferências de habitat para evitar o oceano aberto, disseram Sibert e Rubin. Pesquisas adicionais também podem ajudar a explicar por que as populações de tubarões não se recuperaram após essa mortandade, 19 milhões de anos atrás.

“Este trabalho pode ser o indício de uma corrida para entender esse período de tempo e suas implicações não apenas para a ascensão dos ecossistemas modernos, mas também para as causas dos grandes colapsos na diversidade dos tubarões”, disse Pincelli Hull, professora assistente de Ciências da Terra e Planetárias da Universidade Yale, que não fez parte do estudo. “Isso representa uma grande mudança nos ecossistemas oceânicos em uma época que antes não era nada notável.”