Barcelona

cidade revitalizada

A Olimpíada de Barcelona, em 1992, inaugurou a adoção da sustentabilidade na história esportiva. O evento representou um estímulo decisivo para a capital catalã promover uma revitalização urbana projetada desde os anos 1970.

A estratégia adotada foi, basicamente, abrir espaços: transformar setores antes ocupados por indústrias em instalações destinadas à população e recuperar áreas degradadas. Presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI) de 1980 a 2001, o barcelonês Juan Samaranch foi um dos grandes dínamos dessa reformulação socioambiental, sugerindo a candidatura da cidade à sede dos Jogos de 1992 como forma de incentivar as mudanças.

O projeto para a Olimpíada envolvia a descentralização das competições em quatro áreas distintas. Para melhorar a mobilidade urbana foram construídos grandes anéis viários. Uma Vila Olímpica nova foi erguida fora desses setores, a partir de projetos arquitetônicos distintos – garantindo que os futuros habitantes não iriam morar em blocos de arquitetura padronizados como os da antiga União Soviética.

A revitalização de áreas degradadas renovou a região do porto. À maneira do Elevado da Perimetral no Rio de Janeiro, a zona portuária barcelonesa era marcada por uma longa linha férrea. A transferência desse trecho da ferrovia para um túnel liberou a vista para o mar. “O porto é o nosso contato com o mundo”, ressaltou Pasqual Maragall, prefeito de Barcelona durante os Jogos, em evento realizado este ano no Rio de Janeiro. “O porto sempre representou o que Madri não tinha, é a nossa enorme vantagem.” Com sua a revitalização, a região passou a receber novos empreendimentos e se firmou como centro vibrante de vida noturna e cultural da cidade, ajudando Barcelona a se tornar um dos maiores destinos turísticos europeus.

Alemanha

copa verde

A Copa do Mundo de Futebol de 2006, na Alemanha, foi a primeira a ter um conceito ambiental definido com metas específicas. A ideia central, presente no planejamento do Comitê Organizador desde 2001, era reduzir ao mínimo possível os efeitos danosos ao ambiente associados ao evento. O programa Green Goal, desenvolvido com apoio do governo e de empresas, incluía medidas para o uso económico da água, a redução do desperdício, o aumento da eficiência energética, o uso de transporte sustentável e a neutralização das emissões de gases-estufa. Dos 16 objetivos definidos, 13 foram atingidos.

Vários marcos ambientais foram estabelecidos no evento. A maior estação de captação de águas pluviais de um estádio de futebol europeu foi construída em Berlim. Usinas fotovoltaicas com capacidade de produção de 2.800 quilowatts-pico, suficientes para o abastecimento anual de um estádio, foram montadas pelo Green Goal.

Cerca de 74% dos espectadores pagantes foram aos jogos usando transporte público, ônibus fretados ou simplesmente a pé. Pela primeira vez na história das Copas, as bebidas foram vendidas nos estádios em recipientes reutilizáveis. Além disso, as emissões de gases-estufa foram compensadas com recursos destinados a projetos ambientais na Índia e na África do Sul, escolhidos após rigoroso processo de avaliação.

A respeito do notável legado da iniciativa, o então ministro do Meio Ambiente alemão, Sigmar Gabriel, recomendou à Fifa que considerasse as diretrizes ambientais do Green Goal como “essenciais” para a avaliação das candidaturas de países às futuras Copas do Mundo. “As experiências com o Green Goal mostraram que seria possível fazer mais, especialmente no caso dos estádios.” A pregação funcionou: a Fifa estimulou os comitês organizadores das Copas da África do Sul (2010) e Brasil (2014) a desenvolver ações de proteção ambiental e decidiu incluí-las nos contratos de organização de competições a partir do processo que definiu as sedes das edições de 2018 e 2022 da Copa do Mundo.

Pequim

realizações e maquiagens

A Olimpíada de Pequim em 2008 foi marcada pela suntuosidade e sofisticação arquitetônica de obras como o estádio Ninho de Pássaro e a arena de esportes aquáticos Cubo d’Água. Mas também houve a preocupação em realizar um evento sustentável.

Medidas para atenuar a emissão de CO2, reutilizar a água e economizar energia também foram implantadas. Quatro anos depois, entretanto, boa parte da estrutura olímpica se tornou um grande elefante branco gerador de prejuízos.

Um relatório produzido pelo COI em 2010 revelou que mais de 20% de toda a energia consumida no evento foi gerada por fontes renováveis; a cidade passou a tratar 92% da água residual (depois de um investimento de US$ 17 bilhões); cerca de 200 fábricas passaram a produzir de forma menos poluente e as quatro novas linhas de metrô tornaram o transporte público mais atraente e eficiente.

Além disso, a Vila Olímpica de Pequim foi a primeira a obter a prestigiosa certificação de sustentabilidade LEED, concedida pelo US Green Building Council.

Mas não falta quem acuse o governo chinês de maquiar a realidade. De acordo com reportagens da imprensa estrangeira, as indústrias que haviam reduzido a emissão de carbono durante o evento voltaram a produzir em capacidade máxima.

O celebrado Ninho de Pássaro, capaz de abrigar 90 mil espectadores, hoje hospeda eventos menores como o Show Equestre Internacional de Pequim, a final da Supercopa da Itália de futebol e conferências de imprensa de divulgação de produtos. A administração do estádio estima que os US$ 480 milhões investidos só serão recuperados em 30 anos.

Cidade do Cabo

aprendizado

A escolha da África do Sul como sede da Copa do Mundo em 2010 foi carregada de expectativa e desconfiança. Muito se especulou sobre a capacidade de o país africano – o primeiro do continente a sediar o torneio – concluir todas as obras a tempo e realizar a Copa de forma competente. Para os organizadores, outra preocupação era desenvolver o país e reduzir o impacto ambiental que o evento poderia ocasionar. A exemplo da Copa de 2006 na Alemanha, foi implementado o programa de sustentabilidade Green Goal Legacy.

O relatório final da Fifa oferece um balanço das metas estabelecidas apenas para a Cidade do Cabo, uma das cidades-sede. Sobre as outras oito sedes (incluindo Johannesburgo, que abrigou o jogo de abertura e a final) não há registros. O documento exalta o fato de a Cidade do Cabo ter excedido os dois principais objetivos do projeto: a redução de 20% do lixo destinado a aterros e 50% dos espectadores terem utilizado transporte público ou ido a pé para as partidas do torneio.

Para quantificar o impacto do evento na cidade, foram criados sete indicadores: lixo, acomodações, eletricidade, água, transporte, pegada de carbono e conscientização. De acordo com a avaliação, apenas dois itens não foram satisfatórios: acomodações e conscientização. Cerca de 58% do lixo produzido no evento foi reciclado. No estádio Green Point, inaugurado para a Copa, houve economia de 15% de energia elétrica e 27% de água. Em relação à pegada de carbono, 95% das emissões de CO2 foram compensadas.

Outro benefício ressaltado foi o melhoramento da infraestrutura da cidade como um todo. Novas estradas e vias para pedestres foram construídas, o aeroporto foi modernizado, o transporte público foi implementado e a área verde, aumentada.

Londres

longo prazo

A capital inglesa concentrou-se no legado da Olimpíada de 2012 aos moradores. A começar pelo Parque Olímpico, que representou a revitalização de uma antiga área industrial degradada e poluída, na região leste da cidade. Para evitar os “elefantes brancos” – típicos desse tipo de evento –, Londres apostou na capacidade de redimensionamento dos novos estádios.

O Parque Olímpico teve 25 mil lugares acomodados na depressão do terreno e outros 55 mil, necessários para a ocasião, estabelecidos por anéis de estrutura reciclável de aço e concreto mais leves. O centro aquático, preparado para 17.500 pessoas, poderia ser reduzido a 2.500 lugares. Já o ginásio de basquete, com capacidade para 10 mil, não oferece flexibilidade de público, mas pode ser desmontado e montado em outro lugar. Para completar, os 2.818 apartamentos da Vila Olímpica,
que abrigaram os atletas, passarão a ser moradias em 2013 – entre elas, algumas serão casas populares.

A mobilidade com baixa emissão de carbono marcou outra linha de planejamento. O aeroporto de Heathrow ganhou carrinhos elétricos para agilizar o deslocamento dos passageiros. Versões modernas dos ônibus vermelhos de dois andares londrinos circularam à base de diesel “verde” e eletricidade. Táxis elétricos ampliaram a frota. A população foi estimulada a adotar bicicleta ou andar a pé, ganhando pontos que valiam descontos em lojas. Além disso, novas estações e linhas de trem ampliaram a vasta malha ferroviária da cidade, embaixo e em cima da terra.