Em seu livro (acima), Schwartz afirma que a quantidade e a variedade de produtos existentes hoje em dia somente geram mais insegurança, arrependimento, depressão e infelicidade ao consumidor.

Na próxima vez que for ao supermercado, repare quantas marcas de cereais, saladas, frios, iogurtes, sopas, macarrão, farinha e refrigerante você vê. Sem contar com os vários produtos das alas de brinquedos, roupas, calçados e eletroeletrônicos. A globalização, a industrialização, a modernização e a concorrência dos mercados nos levaram a ter mais de 200 marcas de biscoitos, 70 de chás, 100 tipos diferentes de televisão e 50 de DVDs, além das inúmeras peças para aparelhos de som e home theater.

Também recebemos ofertas de prestação de serviço, como de telefonia – para perto, para longe, fixo, móvel, pré e póspagos. Temos vários tipos de planos de saúde, aposentadoria e opções de programas educacionais e universidades. Graças à evolução do mundo digital, podemos ficar conectados a qualquer canto do mundo 24 horas por dia.

Tantas são as opções que até constituir uma família se tornou uma escolha: se casar, quando casar, ter filhos, quando ter filho, quando é mais vantajoso? Daqui a pouco, com os avanços da genética, também será possível escolher o tipo de filho. Com toda essa diversidade de opções, passamos a acreditar que vivemos na melhor época de todas. Afinal, liberdade implica escolhas. Logo, mais possibilidades de escolhas implicam mais liberdade e, assim, mais felicidade. Errado.

Ao contrário do que todo mundo pensa, essa infinidade de combinações e produtos traz mais insegurança, arrependimento, depressão e infelicidade. Essa é a tese de Barry Schwartz, professor de psicologia da Faculdade de Swarthmore (Estados Unidos), em seu livro mais recente, The paradox of choice: Why more is less (O paradoxo da escolha: por que mais é menos).

Já parou para pensar que, há alguns anos, você entrava numa loja e, em um minuto, comprava uma calça jeans? Hoje, ao deparar com uma vendedora, você é obrigado a escolher o corte, o estilo, os botões, o zíper, o bolso, a barra e o tipo de jeans, entre outras opções. E o que é pior: mesmo fazendo tantas escolhas, você chega a sua casa e percebe que a calça não tem o caimento que você desejava.

Segundo os cientistas sociais Robert E. Lane, da Universidade de Yale (EUA), e David G. Myers, da Hope College (EUA), os norte- americanos, embora tenham a tecnologia a seu favor, hoje são muito mais infelizes que as gerações passadas. Em estudo, eles perceberam que em 30 anos a quantidade e a variedade de produtos aumentaram.

Em contrapartida, no mesmo período, o número de pessoas se classificando como “felizes” diminuiu – uma queda de 5%, equivalente a 14 milhões de indivíduos. E o mais grave: muitas foram diagnosticadas como depressivas.

As conclusões da pesquisa foram que, à medida que aumenta a quantidade de opções, o índice de satisfação decai. Isso em vários campos pesquisados, como o de relacionamentos (quanto maior o número de pessoas nos eventos de “speed date”, menos casais se formam), de aposentadoria (mais planos implicam menos adesões) e de saúde (maior número de medicamentos faz com que o paciente fique insatisfeito: 65% deles querem se encarregar de escolher seu tipo de tratamento, caso sejam diagnosticados com câncer).

Foram identificados alguns fatores psicológicos para explicar essa conclusão. Primeiro, o excesso de opções faz com que as pessoas queiram – e gastem mais tempo para – pesquisar as informações necessárias para fazer a melhor escolha. Numa era em que tempo é dinheiro, quem tem tempo para verificar qual é a melhor escola, o melhor plano de saúde, de aposentadoria e de telefonia?

Pesquisas mostram que um leque maior de opções aumenta as chances de arrependimento. Aqueles que tendem a ter esse tipo de sentimento começam a pensar nas alternativas que deixaram passar e que muitas delas poderiam ter sido melhores opções. Essas pessoas geralmente são mais infelizes, pessimistas e deprimidas. Preocupar-se com o arrependimento futuro é o principal motivo pelo qual as pessoas ficam obcecadas em tomar a melhor decisão.

Imagine que você comprou um par de sapatos caríssimos e descobre que não consegue ficar com eles nos pés por mais de dez minutos. O que você faz? Joga os calçados no lixo ou deixa-os guardados no fundo da sapateira? Desfazer-se deles é uma tarefa árdua, já que você teria de reconhecer que errou. Quanto mais opções se tem, mais as pessoas estão propensas a sentir a responsabilidade de não ficar em desvantagem. Esse peso também culmina nos sentimentos de arrependimento e desapontamento.

Você é uma pessoa satisfeita ou obcecada?

Leia as sentenças a seguir e responda o quanto você concorda ou não. Atribua uma nota de um a sete, sendo que um significa “discordo completamente” e sete, “concordo completamente”.

1. Quando estou diante de uma decisão, tento imaginar todas as possibilidades, mesmo aquelas que não estão presentes no momento.

2. Não importa quão satisfeito eu esteja com o meu trabalho, é sempre bom procurar por oportunidades melhores.

3. Quando estou ouvindo rádio no carro e estou satisfeito com a música, sempre passo por outras estações para saber se há algo melhor tocando.

4. Quando assisto a um programa de televisão, sempre dou uma olhada na programação dos outros canais, levando em consideração as demais opções.

5. Eu trato os relacionamentos como se fossem roupas: experimento várias para encontrar as que vestem bem.

6. Sempre tenho dificuldade em comprar um presente para um amigo. Alugar filme é difícil. Estou sempre me esforçando para optar pelo melhor.

7. Quando vou às compras, tenho dificuldade em encontrar as roupas de que eu realmente goste.

8. Sou fã de listas com os tops (os melhores filmes, os melhores cantores, os melhores atletas, as melhores novelas, etc.).

9. Tenho dificuldade em escrever até mesmo uma carta a um amigo, porque é muito difícil passar todos os pensamentos para o papel nos termos certos. Sempre faço rascunhos, mesmo de assuntos muito simples.

10. Não importa o que eu faça, tenho os melhores padrões para mim.

11. Nunca me contento com o segundo melhor.

12. Sempre me imagino vivendo de uma forma diferente da minha vida atual.

Pontuação

Se sua média de pontuação é maior que quatro, a metade da escala, você tende a ser um obcecado. Se você pontuou uma média menos que quatro, tende a ser um satisfeito.

Aqueles que pontuaram muito acima da média, os hiperobcecados, comparam mais os produtos que aqueles que obtiveram poucos pontos. Eles também levam mais tempo para se decidir. Tendem a fazer escolhas melhores e mais objetivas, mas são menos satisfeitos consigo mesmos. Quando se comparam a outras pessoas, têm pouco prazer ao descobrir que fizeram melhor e uma grande insatisfação ao descobrir que escolheram mal. Tendem também se arrepender mais e sua sensação de bem-estar precisa de mais tempo para se recuperar. Como o esperado, essas pessoas são mais insatisfeitas com a vida, mais infelizes, mais pessimistas e mais deprimidas do que aquelas com menos pontuação.

O maior número de opções aumenta a sensação de oportunidades perdidas. Por exemplo, uma viagem de férias para as praias do Rio de Janeiro pode custar a oportunidade de apreciar o movimento cosmopolita de São Paulo. Se considerarmos que o preço da escolha parece reduzir as vantagens da opção selecionada perante as demais alternativas, então, o maior número de opções implica maior sensação de perda e insatisfação derivadas das nossas decisões.

Segundo a pesquisa de Daniel Kahneman, Ph.D. da Universidade de Princeton (EUA), e seu colega Amos Tversky, de Stanford (EUA), as perdas – nesse caso, de oportunidades – têm um impacto psicológico maior que a vitória (escolher a melhor opção). Temer uma perda produzida pela escolha das férias erradas não nos deixa aproveitar os dias de folga. Ficamos sempre pensando “e se eu tivesse escolhido a cidade de São Paulo em vez das praias cariocas?”

Com que frequência você sai de uma loja de mãos vazias, frustrado e irritado? Tantas opções aumentam a expectativa da qualidade das alternativas que escolhemos. Não há desculpa para nos frustrarmos diante de tantas opções, mas, quando nos deparamos com uma imperfeição na alternativa escolhida, acabamos nos culpando e nos sentindo mal. As consequências desse número ilimitado de escolhas vão do desapontamento ao sofrimento. Você conclui que não sabe fazer nada direito e esse sentimento leva à depressão.

Existem duas classificações para as pessoas que tomam decisões. Os “satisfeitos”, aqueles que se contentam com o mínimo necessário para atingir seus objetivos; e os “obcecados”, que sofrem da compulsão de conseguir sempre o melhor. Os primeiros encontram um produto que julgam ser bom para suprir sua necessidade e se contentam com ele. Já os obcecados precisam testar todas as mercadorias para ter certeza de que vão adquirir a melhor. E, pela lógica, esse tipo de prática – testar todos os produtos – é impossível.

Desse modo, os obcecados sempre ficam inseguros e, quando escolhem, têm a sensação de que teriam se dado melhor se tivessem escolhido outro produto. Eles demoram mais tempo para se decidir, quando comparados a uma pessoa que se contenta com a sua opção, e, mesmo que tenham o melhor resultado, não ficam totalmente satisfeitos. Eles também são mais infelizes, pessimistas e deprimidos.

Sonhamos com um mundo onde tudo é possível, de tanto que valorizamos a liberdade. Mas temos de entender que até para as escolhas é necessário impor um limite. Por exemplo, se temos apenas duas opções de calça, qualquer uma que comprarmos nos satisfará pela justificativa de falta de opção. No entanto, se temos mais de dez tipos diferentes – e geralmente não temos como experimentar todos nem avaliar qual é o melhor -, acabamos com a sensação de que fizemos a escolha errada. Assim, as opções ilimitadas não geram satisfação, mas ansiedade. Não promovem a liberdade, mas a tirania. Não podemos dizer ‘não’ à tirania das escolhas.

Em seu livro, Schwartz afirma que o limite para o número de opções de escolhas é imprescindível para se ter uma vida boa. Ele defende que podemos restringir nossas opções quando as decisões não são cruciais. Por exemplo, fazer uma regra de não visitar mais que duas lojas quando for comprar roupas; aprender a aceitar um “suficientemente bom”; contentar- se com uma escolha que preencha seus principais requisitos, em vez de procurar por algo que julgue ser melhor; ensinar a você mesmo a se concentrar nos aspectos positivos da sua seleção e controlar suas expectativas. “Não espere muito, e não ficará desapontado” é um clichê. Mas é uma sugestão sensata, se você quiser ficar satisfeito com a vida.

Equipe Planeta