Pesquisadores do Museu Nacional já resgataram mais de 2.700 peças após o incêndio que destruiu o local em 2 de setembro de 2018. Cerca de 200 delas eram da coleção egípcia, composta em sua totalidade por 700 itens – o conjunto temático era o maior da América Latina antes do desastre. Entre as peças recuperadas, estão algumas que jamais foram vistas pelo público, como boa parte das 27 peças apresentadas ontem pela instituição.

O trabalho de 100 pesquisadores, técnicos, alunos e colaboradores de outras instituições vem revelando que, ao contrário do que sugeriam as primeiras impressões sobre o desastre, muito ainda pode ser salvo da área destruída pelo fogo e pelo desmoronamento dos três andares do Paço São Cristóvão, palácio que serviu de residência à Família Real até o fim do Império. A maior parte das peças recuperadas ficava no primeiro andar do prédio e é feita de material resistente.

Crânio de uma das oito múmias humanas da coleção egípcia resgatado dos escombros (Crédito: Tomaz Silva/Agência Brasil)
Peças inéditas

O caso mais emblemático é do sarcófago da sacerdotisa Sha-amun-em-su, que ficou fechado por 2.700 anos, até ser consumido pelo fogo. Só se sabia seu conteúdo por meio de uma tomografia, feita em um hospital particular do Rio de Janeiro, em 2005. E graças a isso foi possível recuperar nove amuletos que estavam com a múmia.

Os pesquisadores também recuperaram várias estatuetas, entre elas a dama egípcia feita em calcário por volta de 1500 a 1450 antes de Cristo. Ela era conhecida pelos visitantes do museu como a “Dama do Cone” por ter um cone de incenso na cabeça, mas ele foi destruído.

O crânio de uma das oito múmias humanas da coleção também foi resgatado dos escombros. No caso das múmias, o fogo destruiu as bandagens, e o impacto do desmoronamento também causou danos aos ossos. Apesar disso, partes dos esqueletos foram preservadas.

O evento em que o Museu Nacional apresentou as 27 peças contou com o cônsul do Egito, Sherif Ismail, que comemorou os achados e reforçou o compromisso do governo egípcio em colaborar com o trabalho de recuperação do museu.

Mas o diretor do museu, Alexander Kellner, aproveitou a ocasião para ressaltar a necessidade de aportes emergenciais para manter os trabalhos. Fez um apelo para que o Ministério da Educação ajude o museu e voltou a pedir uma reunião com o governo federal. Kellner, pediu também o apoio da sociedade civil, que pode doar por meio da conta SOS Museu Nacional. As informações para doar podem ser obtidas no site da Associação de Amigos do Museu Nacional.

Segundo a conclusão da primeira fase de investigações da Polícia Federal, o fogo começou em um aparelho de ar condicionado localizado no auditório do térreo. As investigações continuam para responder se houve ação criminosa.